domingo, 28 de dezembro de 2008

GOSTARIA

Não vale a pena ter esperanças desmedidas para 2009. O ano não é bissexto, o que é bem. Mas tem três eleições, o que é mau. As crises internacionais vão prosseguir, o que tem más consequências. Toda a gente anda de bengala de Estado, incluindo bancos e empresas industriais, financeiros e aforradores, o que obriga a pensar que não há bengalas que cheguem. Já sabemos que o crescimento será negativo ou ridículo; que o défice público aumentará; que o défice externo também; que o emprego diminuirá; e que a pobreza se agravará. São certezas. Esperar o contrário é enganar-se a si próprio. Há, todavia, votos que se podem formular. Os meus são modestos. Não são excessivos, nem irrealistas. Custam pouco dinheiro ou nenhum.

Gostaria que terminassem, de uma vez para sempre, os processos em tribunal que envenenaram o último ano. O da Casa Pia, à cabeça. A Operação Furacão também. Os do futebol, que já ninguém percebe. O da pequena Esmeralda, que afligiu muita gente, mas que tornou todos insensíveis, menos a menina. Os dos bancos, do BCP, do BPP e do BPN, cuja opacidade tem criado as mais sérias suspeitas na opinião pública. E, da economia à corrupção, dezenas de outros que se arrastam e alimentam a impunidade.

Gostaria que o Parlamento, quanto mais não fosse para reabilitar a sua imagem em ano de eleições, se interessasse genuinamente pela justiça, pelas leis processuais e pelo sistema judiciário, dedicasse a esse tema o melhor dos seus esforços, reflectisse seriamente no melhor modo de acelerar as respectivas reformas, criasse um clima de cooperação entre magistrados judiciais, magistrados do ministério público, advogados, órgãos de investigação e oficiais de justiça, a fim de iniciar um processo de melhoramento do mais degradado e mais ineficiente sistema público do país.

Gostaria que o governo, num sobressalto de consciência e de preocupação com as liberdades públicas e os direitos fundamentais do cidadão, reconsiderasse todas as medidas e procedimentos em curso que consolidam um clima de intrusão, de violação da privacidade, de despotismo e de controlo dos cidadãos, incluindo, evidentemente, o bilhete de identidade múltiplo, o chip dos automóveis, a legislação sobre escutas telefónicas, a actuação da ASAE e a delação fiscal e económica.

Gostaria que se adiassem, por muitos anos, os projectos megalómanos do aeroporto, do comboio de alta velocidade e das auto-estradas inúteis, para os quais não há dinheiro, mas que, pela teimosia dos governantes e interesse dos construtores, correm o risco de se transformar em enorme buracos financeiros e em sorvedouro de recursos públicos tão escassos.

Gostaria que os esforços das autoridades, no governo e nas autarquias, se dirigissem para milhares de projectos com influência na vida real, sejam as pequenas e médias empresas industriais; sejam as obras de interesse público manifesto, como os Metros do Porto e de Lisboa, os transportes públicos das áreas metropolitanas, os jardins e espaços verdes das cidades, o arranjo e a limpeza das ruas urbanas, a rede de comboios, as escolas degradadas, os lares de idosos decadentes, a drenagem e o escoamento das águas nas cidades, a recuperação do património construído, a reabilitação dos centros das cidades históricas e o alojamento de estudantes universitários; sejam, finalmente, os incentivos à exploração dos recursos naturais mais desprezados das últimas décadas, a agricultura, a floresta e os mares.

Gostaria que o governo explicasse, honesta e seriamente, o que está a fazer com os dinheiros públicos, a pretexto de salvar a imagem do sistema bancário português e de garantir investimentos, aplicações e depósitos. Há cada vez mais dúvidas quanto ao bom uso desses recursos. Aumenta o número de pessoas que pensa que o esforço público se concentra no apoio aos fortes, na ajuda aos mais ricos e na sustentação das empresas e pessoas que mais directamente se empenharam na especulação e nos sistemas internacionais de lucro fácil. Está generalizada a convicção de que o governo dá o ouro aos bandidos. E que está a recompensar os que correram riscos excessivos e os que julgavam que passariam impunes.

Gostaria que, entre o governo, os sindicatos e os movimentos de professores se estabelecesse, pelo menos até às eleições, uma trégua ou uma moratória honrosa, que permitisse reflectir, estudar e imaginar novas soluções para as questões da avaliação e da carreira de docentes. Toda a gente ficava a ganhar, sobretudo os estudantes e os pais. As eleições, com os debates indispensáveis, poderiam ajudar muito a esclarecer os problemas e a resolvê-los gradualmente, com tentativas e experiências sucessivas, fora do clima de guerra que se criou e que nada oferece de bom.

Gostaria que a RTP examinasse seriamente o seu papel, a sua função cultural e a sua missão informativa, sacudindo a dependência estreita do governo em que se colocou voluntariamente, pensando na nobreza do serviço que poderia prestar ao país, produzindo programas que não nos envergonhem e cultivando aquelas que poderiam ser as suas mais relevantes qualidades, a independência e a seriedade.

Gostaria que o governo, depois de ter exigido sacrifícios e de ter conduzido uma política dura de austeridade e de ter obtido alguns ganhos importantes, nomeadamente no que diz respeito ao défice público e à eficiência fiscal, não se deixasse tentar, como já dá sinais inequívocos, pela demagogia e pelo dinheiro fácil, armas tradicionais em ano de eleições.

Gostaria que alguém explicasse ao Primeiro-ministro, ou que ele percebesse por si mesmo, que o excesso de propaganda, de demagogia e de publicidade enganosa pode ter efeitos contraproducentes, parecidos com os verificados durante a revolução de 1975, que se traduzem no facto de os governantes acreditarem no que eles próprios mandam dizer. De caminho, poderia também compreender que a crispação autoritária não se pode confundir com determinação. Mudasse ele esses atributos, trouxesse ele à vida pública um novo estilo, mais adequado às dificuldades dos tempos, e até talvez voltasse a ganhar as eleições.

Não é pedir muito, pois não?

António Barreto
PÚBLICO
28 de Dezembro de 2008

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NATAL CHIQUE

Percorro o dia, que esmorece
Nas ruas cheias de rumor;
Na minha alma vã desaparece
Na muita pressa e pouco amor.

Hoje é Natal. Comprei um anjo,
Dos que anunciam no jornal;
Mas houve um etéreo desarranjo
E o efeito em casa caiu mal

Valeu-me um príncipe esfarrapado
A quem dão coroas no meio disto,
Um moço doente, desanimado…
Só esse pobre me pareceu Cristo.

Vitorino Nemésio
O Pão e a Culpa

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terça-feira, 23 de dezembro de 2008

ENTÃO É NATAL

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EDIÇÃO DE HOJE DO ALTO ALENTEJO


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ETERNIDADE

Vens a mim
pequeno como um deus,
frágil como a terra,
morto como o amor,
falso como a luz,
e eu recebo-te
para a invenção da minha grandeza,
para rodeio da minha esperança
e pálpebras de astros nus.

Nasceste agora mesmo. Vem comigo.

Jorge de Sena
Perseguição

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segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

CRÍTICA DA POESIA

Que a frenética poesia me perdoe
se a um baço rumor levanto o laço,
pois que verso não há onde não soe
a música discreta doutro espaço.

Horizonte do verso é a dureza:
já mansidão não cabe neste olhar
que se pousa na faca sobre a mesa
e aprende nela o fio do seu cantar.

Mas se olhar nela pousa, como corta?
E se as palavras sabemos retomar,
quem nos devolve a chave dessa porta
onde a herança está por encerrar?

Tão longe está de nós a poesia
como nuvem nos rouba a luz do dia.

Luis Filipe Castro Mendes
Viagem de Inverno

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domingo, 21 de dezembro de 2008

FINALMENTE OS INCOMPETENTES DA SAÚDE DEMITIRAM-SE

TUDO COMO DANTES, NADA COMO DANTES

A turbulência financeira que atravessou o mundo e está longe de se dissipar, já provocou a mais completa série de verdades definitivas e sobretudo contraditórias. Têm de comum o disparate e a inabalável certeza dos seus autores. Marx tinha razão; É o fim do capitalismo; Acabou a hegemonia americana; Nada será como dantes; O Estado tem de tomar conta da economia; Vão mudar os padrões de consumo... Em sentido contrário, também temos: O capitalismo vai recuperar; A iniciativa privada vai ultrapassar a crise; Vamos refundar o capitalismo; A crise gera novas oportunidades de negócio; A União Europeia vai liderar a recuperação das economias... Sem comentários.

Mais uma vez, anuncia-se um novo paradigma. Não se sabe o que quer dizer, mas é chique. E misterioso. Mais poder político? Mais supervisão e regulação? Mais justiça? Mais ética? Novos padrões de consumo? Mais Estado? As únicas certezas são o menor crescimento, o desemprego e a redução do conforto. O resto é uma incógnita. Até porque as mudanças de comportamentos demoram décadas. E as mudanças de leis e de instituições exigem políticos e legisladores à altura, com autoridade e legitimidade. O que também é uma incógnita.

A regulação falhou. É o que todos dizem, menos os reguladores. Convinha saber por que falhou a regulação. Os vigaristas têm meios mais sofisticados. Os reguladores, a justiça e as polícias estão atrasados. Estas são as razões superficiais. Mas há outras. Os reguladores e os políticos conhecem intimamente os especuladores e os predadores. Não só se conhecem, como se estimam e convivem. Têm mesmo, simultânea ou sucessivamente, interesses comuns. O triângulo formado pelos políticos, os reguladores e os especuladores constitui um percurso pessoal que muitos fazem airosamente nas suas carreiras. Muitos políticos e muitos reguladores consideram que os predadores e os especuladores têm o direito de se entregar às suas actividades, de operar no mercado livre, de ter sucesso e de vencer nos negócios. Se é verdade que houve Estado a menos, também é certo que Estado a mais não é a resposta. Pois o Estado é... os políticos!

Por uma vez, os políticos deste mundo não parecem ser os principais responsáveis. Mas não estão isentos. Falharam na regulação, na fiscalização e na inspecção. Falharam na justiça, na investigação e na penalização. São, frequentemente, parceiros, cúmplices e amigos dos bilionários e dos predadores. Os governos, a começar pelo português, têm dado lições inesquecíveis que todos os manipuladores do mercado usam como inspiração. Mentira, leis retroactivas, mudança inesperada de regras, intrusão na vida privada dos cidadãos, instabilidade fiscal, falta de cumprimento de cláusulas contratuais, adjudicações de favor, licenças sem concurso público, favoritismo e nomeações de altos dirigentes por confiança partidária, tudo tem justificação, tudo se explica pela necessidade de vencer, de crescer e de ganhar eleições. Os políticos, tanto de esquerda como de direita, contribuíram decisivamente para a criação deste clima doutrinário e espiritual. O poder político, entre nós como no resto do mundo, não revelou ter padrões morais superiores aos dos predadores. Não mostrou ser mais digno de confiança. Não garantiu que impede a promiscuidade e o livre enriquecimento dos políticos. Não tornou evidente seguir uma regra ética superior à que tem guiado os especuladores e seus amigos.

As doutrinas da força, do líder, da vitória, do condicionamento da informação e da propaganda impuseram a visão positiva” do mundo e das coisas, consagraram o optimismo como dogma de atitude. Os que duvidam foram definitivamente arrumados na categoria de pessimistas e frustrados. A ideologia do sucesso, a qualquer preço, com qualquer lei, domina a cena pública há anos. As ideias, os valores e as normas que regem a vida dos capitalistas e dos gestores responsáveis pelas crises e pelas fraudes são o resultado de uma consolidação doutrinária e moral com meia dúzia de décadas.

Por isso não é realista esperar pela mudança de paradigma. Alguém pensa que é possível as famílias decidirem por si próprias diminuir o consumo? Renunciar às segundas casas? Deixar de passar férias no Brasil ou no México? Abdicar de ter um ou dois carros, dois ou três computadores, três ou quatro televisões? Desligar o aquecimento e o ar condicionado? Reduzir o consumo de máquinas de lavar, de frigoríficos e de Bimbys? Abandonar o carro particular e utilizar os transportes públicos? Ninguém o fará. A não ser que a isso sejam forçados pelo desemprego, pelo corte de crédito, pelos aumentos de preços e pela diminuição de rendimentos.

As pessoas mudam por consciência e esforço voluntário, quando têm real interesse nisso. Interesse material ou espiritual. Mas não mudam voluntariamente para diminuir o seu conforto e as suas aspirações. Mudam quando não têm alternativas. Por necessidade. Ou por imposição. Quem vai fazer mudar os comportamentos? As forças do mercado? Será doloroso. A necessidade? Ainda mais. Os políticos? Não têm vontade, nem legitimidade para o fazer. Eles aplicam à política os mesmos valores que os especuladores, as mesmas regras que os predadores, os mesmos critérios que os aldrabões aplicam às finanças internacionais.

Há trinta ou quarenta anos que as populações aspiram às delícias da vida moderna. Os que já lá chegaram querem mais e não renunciam. Os que ainda não chegaram consideram uma suprema injustiça serem agora travados. Foram condicionados pelos mais poderosos aparelhos de publicidade e informação que a humanidade jamais conheceu. A propaganda política deu uma ajuda poderosa. Há décadas que os governos, as televisões, a imprensa e os grandes grupos económicos comungam um punhado de ideais que presidiram à nossa vida colectiva. Para usar o lugar-comum conhecido, o ter substituiu o ser. O critério de vida é vencer. Sempre, a qualquer preço. Vencer significa derrotar e liquidar os outros. Quem vence tem razão. E tem razão porque vence. É a democracia no seu pior. Maior. Mais alto. Mais depressa. Mais pesado. Mais forte. Mais rápido. Já não se trata de jogos olímpicos, eles próprios transformados em feira de animais. Trata-se da vida quotidiana. Para se chegar lá, ao topo, para se ser líder, tudo o que se pode fazer deve ser feito. Incluindo aldrabices, ilegalidades, golpes, mentira, publicidade enganosa e corrupção. Tudo o que justifique ganhar votos, vender mercadoria e eliminar os rivais não só pode ser feito, como deve ser feito. Sob pena de ser designado na praça pública por perdedor, incapaz ou parvo. E ninguém quer ser parvo!

António Barreto
PÚBLICO
21 de Dezembro de 2008

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AOS MESMOS

De insípida sessão no inútil dia
Juntou-se do Parnaso a galegage;
Em frase hirsuta, em gótica linguage,
Belmiro um ditirambo principia.

Taful que o português não lhe entendia,
Nem ao resto da cômica salsage,
Saca o soneto que lhe fez Bocage,
E conheceu-se nele a Academia.

Dos sócios o pior silvou qual cobra,
Desatou-se em trovões, desfez-se em raios,
Dando ao triste Bocage o que lhe sobra.

Fez na calúnia vil cruéis ensaios,
E jaz com grandes créditos a obra
Entre mãos de marujos e lacaios.

Bocage
Rimas

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sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

RUI MARTINS EDITADO EM ESPANHA

O romance E Se Eu Gostasse Muito de Morrer, de Rui Martins, acaba de ser editado, em Espanha, pela Bruguera.


Título castelhano: Y Si Me Gustara Morir.
Entretanto, a Dom Quixote anuncia que Deixem Passar O Homem Invisível, o segundo romance do Portalegrense Rui Martins, será lançado em Abril de 2009.

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TINHA DE FACHOS MIL A NOITE ORNADO

Tinha de fachos mil a noite ornado
A argentada Princesa:
De amor, graça e beleza
O campo etéreo Vénus povoado.

A Terra, com perfume precioso
Em torno recendia;
E plácido dormia
Sobre a dourada areia o pego undoso;

Quando veio roubar a formosura
De tudo o que é criado,
Márcia, fiel traslado
Da beleza do Céu, sublime e pura;

Com Lírios, que estendeu, vestiu ufana
A forma divinal;
Em aceso coral
Tingiu, sorrindo, a boca soberana,

As madeixas tomou das veias de ouro,
Nos olhos pôs safiras,
Que das setas, que atiras,
São, fero Amor, o mais caudal tesouro.

Todos seus dons lhe pôs o Céu no peito;
Como orna o Régio Sposo,
C'o enfeite mais custoso,
A Princesa, a quem rende a alma, sujeito.

Eu vi afadigados os Amores,
E as Graças, que cantavam
Enquanto se moldavam
Seus graciosos gestos vencedores.

Das Sereias o canto deleitoso
Lhe nasceu sem estudo;
E o dom de enlevar tudo
Envolto veio em seu sorriso airoso.

Filinto Elísio
Sonetos

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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

DA VIDA DO CHEFE DO "PARTIDO POPULAR" DA "ESQUERDA MODERADA"

Por muito que isso custe a alguns dos seus admiradores, as últimas semanas não auguram ao eng. Sócrates nada de particularmente bom.
Antes de mais, quebraram o mito da invencibilidade do primeiro-ministro, deixando-o dependente de factores que não controla e de estratégias que lhe são alheias.
Independentemente do que vier a acontecer a Manuel Alegre, o eng. Sócrates vê-se, pela primeira vez, na necessidade de negociar o seu futuro - ele que sempre fez gala em não negociar com ninguém. Pior do que isso, ao fazê-lo, é obrigado a reconhecer publicamente que parte significativa do eleitorado socialista deixou de se rever no Governo e na unanimidade do "seu" PS. Já a candidatura do dr. Santana Lopes a Lisboa é outra história. Se ele é, como alguns dizem, a "cara da derrota" do partido, o dr. António Costa arrisca-se a perder as próximas eleições para o "pior" do PSD.
Não deixaria de ser curioso que o passado, o tal passado de que o eng. Sócrates tanto gosta de falar, reaparecesse em cena e, tirando-lhe a capital, levasse com ele as ambições do seu número dois no PS. Depois de ter conseguido a proeza de ser eleito com a percentagem mais baixa de sempre, o dr. António Costa superou-se a si próprio na presidência da principal câmara do país, distinguindo-se essencialmente pela sua inactividade.
Por junto e depois de muita promessa, teve uma ideia qualquer sobre bicicletas que não chegou a pôr em prática, deixou-se colar ao projecto dos contentores em Alcântara (embora agora se tenha lembrado de umas condições de última hora) e integrou na sua equipa o "Zé", que, há uns anos, fazia por lá falta e que agora promete ser um companheiro de luxo na campanha eleitoral: para falar do túnel, claro, e do papel heróico que ele, na altura, desempenhou.
Não por acaso, o "Zé" já começou a dissertar sobre a necessidade de se unirem todos contra uma candidatura que, sabe-se lá como, parece ter hipóteses de ganhar.
Entretanto, o eng. Sócrates decidiu transformar o Estatuto dos Açores (que será votado amanhã) numa arma de arremesso contra o Presidente da República, fiado na exibição triunfal da sua força e na hipotética fragilidade do prof. Cavaco Silva.
A ideia parece que é debilitar "ainda mais" a figura do Presidente. O resultado promete virar-se contra o principal arquitecto desta portentosa táctica eleitoral.
Num ano de recessão económica, quando todos os indicadores se encarregam de desmentir o optimismo do Governo e depois de se ter perdido a conta à quantidade de "planos" contra a crise apresentados pelo primeiro-ministro, seria de elementar bom senso evitar a hostilidade de um Presidente da República que, caso o PS não se lembre, recebeu mais de 40 por cento dos votos no ocaso do cavaquismo.
Tudo indica que o eng. Sócrates não vai ter pela frente um ano fácil.


Constança Cunha e Sá
Público
18 de Dezembro de 2008

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AS PERGUNTAS


Não tem rosto, o Deus dos perplexos. Nem voz.
Nem arrependimento. Nem a alegria dos alegres
ou o medo da escuridão. Não posso dizer-vos como
se encontram os seus caminhos, se o melro poisa

nas hortas junto do rio, ao adivinhar a tempestade.
Deus predador, o nosso, prudente, interdito,
que desagrada ao canto mais simples. As nossas
pegadas ficam no deserto, aguardam a passagem

como um fantasma que se desprende da chuva.
Esta luz é incerta, balança sobre as varandas, ameaça
os dias, converte ou desarma todas as palavras certas,

todos os olhos abertos. Não tem rosto, o Deus dos
perplexos, não caminha nos precipícios, não arde
como a urze fitando o céu, não o comove a morte.


Francisco José Viegas
O Puro e o Impuro

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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

MAIS DA CORJA...


Isabel dos Santos, filha do Presidente angolano José Eduardo dos Santos, entrou no capital do Banco Português de Investimento, adquirindo ao Banco Comercial Português a posição de 9,69 por cento que este detinha no capital do BPI.
As acções estão a preço de saldo e, com as ajudas concedidas pelo Governo de José Sócrates com o dinheiro de todos nós, a Isabelinha certamente que vai ficar ainda mais rica
.


F.T.

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EDIÇÃO DE HOJE DO ALTO ALENTEJO


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BUSH SHOE THROWIN GAME

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VÍRGULA

Eu menino às onze horas e trinta minutos
a procurar o dia em que não te fale
feito de resistências e ameaças — Este mundo
compreende tanto no meio em que vive
tanto no que devemos pensar.

A experiência o contrário da raiz originária aliás
demasiado formal para que se possa acreditar
no mais rigoroso sentido da palavra.

Tanta metafísica eu e tu
que já não acreditamos como antes
diferentes daquilo que entendem os filósofos
— constitui uma realidade
que não consegue dominar (nem ele próprio)
as forças primitivas
quando já se tem pretendido ordens à vida humana
em conflito com outras surge agora
a necessidade dos Oásis Perdidos.

E vistas assim as coisas fragmentariamente é certo
e a custo na imensidão da desordem
a que terão de ser constantemente arrancadas
— são da máxima importância as Velhas Concepções pois
a cada momento corremos grandes riscos
desconcertantes e de sinistra estranheza.

Resulta isto dum olhar rápido sobre a cidade desconhecida.
E abstraindo dos versos que neste poema se referem ao mundo humano
vemos que ninguém até hoje se apossou do homem
como o frágil véu que nos separa vedados e proibidos.

António Maria Lisboa
Ossóptico e Outros Poemas

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terça-feira, 16 de dezembro de 2008

EDIÇÃO DE HOJE DO FONTE NOVA


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LIVROS EM CONTA...

A Assírio & Alvim está a fazer packs a preços reduzidos de livros dos seus principais autores, Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Mário Cesariny, Carlos de Oliveira, Alexandre O’Neill, Herberto Helder, Fiama Hasse Pais Brandão, etc.

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A CRISE E OS MILHÕES



Mário Soares
Diário de Notícias

AGORA É O MÁRIO SOARES...

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VENTO DO SUL

Só a febre consegue explicar a insolência
com que erguemos muros diante do que,
no exterior, não recebeu ainda o título
prestigioso de literatura. Um vento seco
então bate no dicionário e encarquilha
as folhas, sem permitir que o pensamento
se estenda pelos baixios que descobre
na paisagem o tempo lento da leitura.
Esquecemo-nos já de como era difícil
inventar uma linguagem de sombras
em que se restabelecesse o rosto
luminoso da literatura? Felizmente
que o mundo se reconstitui
nas pausas do vento, obediente
ao ritmo que lhe vem de longe,
do reflexo cansado da planura.
Nas montanhas, as pastagens
reverdescem abandonadas-
e só os corvos reconhecem
nos esqueletos o vestígio
extinto de uma estranha
forma de poesia.

Fernando Guerreiro
De Outono

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segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A CORAGEM DE MUDAR


Saúdo os meus colegas nesta sessão de encerramento.
Saúdo os oradores e moderadores dos debates que hoje se realizaram.
É possível debater ideias sem dogmas, sem sectarismos e sem demagogia. Isso só não é possível para quem não pratica a democracia.

Amigos, companheiros e camaradas:

Dante reservou os lugares mais quentes do Inferno para aqueles que em tempo de crise moral se mantivessem neutros. Suponho que há neste momento muitos lugares reservados. Para os neutros e para os cúmplices. E sobretudo para os que andaram a apregoar as delícias da mão invisível e da auto-regulação do mercado e agora recorrem à intervenção do Estado para socializar as perdas e preservar os seus bancos, as suas fortunas e os seus privilégios.
Este é de facto um tempo de crise, um tempo em que não se pode ser neutro. Tempo de decisão e coragem.
A coragem de Roosevelt quando, após a Grande Depressão, enfrentou os muito ricos com um política de fiscalidade redistributiva, com o reforço do papel dos sindicatos, com a elevação do nível geral dos salários, com a intervenção do Estado em sectores-chave da economia e com o estabelecimento de direitos sociais, como o serviço público de saúde. Que nomes não nos chamariam em Portugal se hoje disséssemos o mesmo.
A coragem do Governo da Frente Popular presidida por Léon Blum, quando, em 1936, tomou um conjunto de medidas fundadoras dos modernos direitos sociais. Entre eles as férias pagas e as imagens para sempre inapagáveis dos operários que partiam a cantar, de bicicleta ou de comboio, para pela primeira vez verem o mar e gozarem as praias que até então eram só de alguns.
Coragem para mudar a sociedade e a vida. Coragem para estar ao lado dos desempregados e desfavorecidos e não para, à custa dos dinheiros públicos, salvar um banco privado que administra grandes fortunas. Coragem para mudar. A começar por nós mesmos. Coragem para se saber de que lado se está do ponto de vista das lutas sociais. Coragem para dialogar onde até agora se monologava. Coragem para convergir onde até agora se divergia.
Esta não é uma iniciativa inter-partidária. E por isso não está nenhum partido a menos nem nenhum partido a mais. Estão aqui cidadãs e cidadãos que não querem ser neutros e pretendem, em conjunto, procurar novas respostas, convencidos de que é possível construir soluções alternativas e de que é esse o papel da esquerda: não se conformar, não se resignar, não desistir.
Muitos de nós combatemos, por caminhos diferentes, o pensamento único que nos últimos vinte e tal anos desregulou o mundo aplicando em toda a parte as mesmas receitas: diminuição do papel do Estado, redução dos serviços públicos ou a sua gestão em concorrência com os privados, esvaziamento dos direitos sociais, deslocalização, desemprego, exclusão, precariedade, corrupção, destruição do ambiente, agravamento das desigualdades, empobrecimento progressivo da qualidade da democracia.
Começou com Reagan e Thatcher, culminou com Bush e da pior maneira: com a guerra do Iraque, os voos da CIA e Guantánamo, símbolo tenebroso do desrespeito pelos Direitos do Homem de cuja proclamação se celebram agora 60 anos. E por isso é que a eleição de Barack Obama, que é, em si mesma, um factor de mudança cultural e cívica, constitui uma tão grande e porventura desmedida esperança.
Ao longo de todo este tempo, desde a queda do muro de Berlim, o capitalismo ficou sem concorrência, mesmo que para muitos de nós ela não fosse a mais desejável. E ficou também sem a resistência da social-democracia. Agiu como se tudo lhe fosse permitido. Algumas das conquistas sociais que vinham de 1936 e do pós-guerra foram sistematicamente desmanteladas ou reduzidas ao mínimo. Por outro lado, a globalização também globalizou as desigualdades. O resultado está à vista: colapso do sistema financeiro, recessão económica, uma democracia mais pobre, consequências sociais imprevisíveis. Está a acontecer na Grécia, amanhã pode ser em Espanha, pode ser na França, pode ser aqui. Em toda a parte.
Não é possível resignarmo-nos ao nível de desigualdades existente no nosso país. Segundo os índices da OCDE, somos um dos três países daquela organização onde há maiores desigualdades. E somos o país da União Europeia onde há mais desigualdade na distribuição da riqueza. Há qualquer coisa de errado no nosso modelo de desenvolvimento.
Há qualquer coisa que não bate certo num país em que cerca de 18% de portugueses vivem no limiar da pobreza e uma minoria de gestores se auto-atribui milhões e milhões em prémios, indemnizações e salários.
Há qualquer coisa de indecoroso na promiscuidade entre o exercício de cargos políticos e os negócios privados.
Há qualquer coisa do avesso quando o novo Código do Trabalho é elogiado pelo Presidente da CIP.
Há algo de obstinado e cego e surdo quando se insiste numa avaliação por quotas, administrativa e economicista, que está a paralisar a escola pública e a desqualificar a Administração Pública em geral.


Os debates que hoje se realizaram sobre “Democracia e Serviços Públicos” permitiram por certo estabelecer pontes e convergências para a construção de políticas alternativas. Não são um ponto de chegada, mas um ponto de partida. E seria interessante que cada um desses painéis pudesse continuar autonomamente a aprofundar o debate e encontrar novas soluções. Em torno destes temas é com certeza possível encontrar convergências.
Permitam-me agora algumas reflexões e propostas sobre a Democracia e os Serviços Públicos.
O conceito de serviços públicos como actividades de interesse geral que o Estado se obriga a prestar a todos os cidadãos surgiu no século passado. Foi então assumido que se tratava de necessidades colectivas que não podiam ser resolvidas pelo mercado.
A obsessão desreguladora dos anos oitenta pôs em causa este conceito e forçou a abertura ao mercado e à concorrência de sectores até então considerados “Serviços públicos”, como as grandes indústrias de redes (energia, telecomunicações, transportes ou serviços postais). Esses serviços passaram a designar-se como serviços de interesse económico geral.
O processo continuou em áreas essenciais ao cumprimento dos direitos sociais (educação, saúde, segurança social), com a entrada em força do mercado nessas áreas e a criação da figura das parcerias publico-privadas para substituir o que até então fora considerado serviço público.
Assistiu-se ao endeusamento do mercado e à diabolização do Estado, mesmo quando os níveis de satisfação desceram, o desemprego aumentou e os custos dispararam. E à sombra das parcerias publico-privadas floresceram grandes negócios privados e desvirtuaram-se regras de transparência obrigatórias no serviço público.
No direito comunitário, o coração do debate sobre os serviços públicos está no artigo 86 do Tratado Europeu, segundo o qual as empresas que prestam serviços de interesse económico geral estão sujeitas às regras da concorrência.
É preciso questionar e eliminar esta situação. A submissão dos serviços públicos às regras da concorrência priva o Estado de intervir em áreas essenciais para a satisfação das necessidades básicas dos cidadãos e distorce a avaliação dos serviços prestados.
É inaceitável que os serviços públicos sejam tratados como se fossem uma qualquer mercadoria.
É inaceitável que se defenda a perda de milhares de empregos no sector público como condição de progresso.
É inaceitável que se instituam regras de avaliação na educação cujo objectivo é “emagrecer” o número de professores na escola pública.
É inaceitável o encerramento de serviços públicos no interior do país, que contribui, às vezes por forma dramática, para a desertificação do território.
É inaceitável a entrega sistemática ao privado de sectores económicos rentáveis, nomeadamente na área da energia.

A saída da actual crise financeira, económica e social exige que a esquerda apresente políticas alternativas ao modelo neo-liberal e especulativo ainda dominante. Políticas que se baseiem na solidariedade, na sustentabilidade e na cooperação.
Defendo por isso como prioridades:
• o abandono da agenda da “flexisegurança” por uma agenda do “bom emprego”. Isto implica que não se pode abdicar de promover o pleno emprego, com reconhecimento dos direitos dos trabalhadores, incluindo a protecção na saúde e a conciliação do tempo de trabalho com a vida privada e familiar
• o combate à especulação financeira e o reforço dos poderes reguladores e intreventores do Estado
• o investimento público em sectores produtivos e geradores de bem estar social, desenvolvimento e emprego sustentável
• uma distribuição mais equitativa do rendimento e da riqueza como condição do desenvolvimento, através da garantia de salários e pensões mínimas mais elevados e da taxação fiscal de salários e pensões milionárias
• a promoção de políticas contra a pobreza, nas áreas da formação, emprego, habitação, acção social e direitos dos imigrantes
• o reconhecimento do direito à água como um direito humano
• a defesa e reforço da escola pública, do serviço nacional de saúde e da segurança social pública, como garantia de direitos fundamentais dos cidadãos
• a definição de políticas públicas para as cidades, que incluam o transporte, a habitação, o património, a cultura, o ambiente, o espaço público e a participação cívica
• a defesa da qualidade de vida e o combate à especulação imobiliária
• o incentivo a práticas de protecção do ambiente e de eficiência energética

Por todas estas razões, a esquerda tem de promover e aprofundar o debate sobre os serviços públicos e o seu papel numa democracia moderna e de qualidade.


Amigos, companheiros e camaradas

Uma crise como a que o mundo está a viver é também uma oportunidade de mudança. Uma oportunidade que a esquerda não deveria desperdiçar. Ninguém nos perdoaria. Uma oportunidade para propormos soluções de mudança e uma oportunidade para nós próprios também mudarmos. E neste sentido talvez o caminho seja mais árduo e mais complexo.


Não se trata de fazer revoluções já feitas e passadas.
Não se trata de reescrever a história que já está escrita.
Não se trata de inventar novos dogmas, novos sectarismos e novas excomunhões.
Ninguém é proprietário da esquerda, ninguém tem o monopólio da verdade, ninguém é dono do futuro.
A nossa força está na nossa pluralidade, nas nossas diferenças e, no respeito por elas, na nossa capacidade de construir convergências.
É esse o novo e grande desafio moral e político.
É essa a coragem de que precisamos. A coragem de não nos repetirmos. A coragem de abrir novos caminhos.
Não estamos aqui para tentar impedir que outros cresçam, mas para que toda a esquerda possa crescer em todos os sentidos. Não apenas eleitoralmente. Mas cívica e politicamente.
Porque esse é que é o problema. Crescer para quê? Para que políticas? Com que rumo? E para onde?
É preciso que parte da força eleitoral da esquerda não se vire contra si mesma. E muito menos contra as outras esquerdas. Porque essa tem sido a fragilidade das esquerdas europeias e da esquerda portuguesa. Há, por um lado, a esquerda do governo, que quando o é deixa de ser praticante. E a outra, que frequentemente se acantona no contra-poder.
Talvez aqui as convergências sejam mais difíceis de construir. Mas eu estou aqui para falar com clareza, com verdade e com fraternidade. Em meu entender, esse é o novo tabu que é preciso quebrar. A reconfiguração da esquerda implica a capacidade e a vontade de construir uma perspectiva alternativa de poder. Esta é a nova coragem que é preciso ter. Não só a coragem de resistir e persistir, de que muitos de nós temos experiência, mas a coragem de virar a página e construir uma nova esperança e uma nova alternativa.
Sei que não é fácil e não há agendas escondidas. Sei que é algo que não se decreta. Sei que é um processo que, para ser viável, exige consistência e passa pela difícil construção de uma via nova e de uma base programática sólida.

Mas estou de acordo com o que recentemente escreveu Rui Tavares: “Essa é a responsabilidade histórica da esquerda portuguesa. Mas não sabemos se ela vai estar à altura dessa responsabilidade.” Eu acho que precisamos de ter a coragem de estar à altura. Até porque, como diz o mesmo autor, “se o desejo da esquerda é transformar a sociedade portuguesa, o momento aí está.”

Permitam-me também que vos diga, com toda a franqueza e fraternidade, que a reconfiguração da esquerda portuguesa não se fará sem o concurso de eleitores, simpatizantes e militantes do Partido Socialista.
Permitam-me que daqui saúde os meus camaradas socialistas desempregados ou em trabalho precário. Os meus camaradas socialistas que se sentem inseguros com a crise e ameaçados por novas falências. Os meus camaradas socialistas professores que com muitos outros lutam pela suspensão de uma avaliação absurda. Os meus camaradas socialistas funcionários públicos que, apesar de todos os bloqueios, continuam honradamente a servir o Estado. Os meus camaradas que em condições difíceis, nos hospitais civis, trabalham para defender e dignificar o serviço nacional de saúde, grande bandeira e grande conquista da democracia portuguesa. Permitam-me, enfim, que saúde os meus camaradas socialistas que com outros milhares de trabalhadores se manifestam, resistem e protestam contra o novo Código do Trabalho, que representa, como disse Jorge Leita, um retrocesso civlizacional.
É para eles que vai neste momento o meu pensamento e a minha fidelidade de militante socialista.


Um grande português chamado Antero de Quental falou do socialismo como protesto moral contra a injustiça e a exploração. Foi há muito. Mas continua a ser uma boa inspiração para todos nós. Os explorados, os oprimidos, os deserdados da vida foram e são a razão de ser da esquerda. É por eles que estamos aqui, não pelas grandes fortunas, desculpem-me a insistência, do Banco Privado Português.


Amigos, Companheiros e Camaradas:

Eu acho que foi muito bom estarmos aqui a debater. Este debate constitui uma mudança de significado político e cultural.
Há muita gente insatisfeita. Eu também quero mais.

E agora, perguntarão?

Agora há que encontrar o caminho.
E esse caminho somos todos nós. São todas as cidadãs e cidadãos que querem outra política e outra alternativa. Por uma democracia, mais limpa, mais justa e mais solidária.
Manuel Alegre

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EU PENEIRO O ESPÍRITO E CRIVO O RITMO

Eu peneiro o espírito e crivo o ritmo
Do sangue no amor, o movimento para fora
O desabrigo completo. Peneiro os múltiplos
Sentidos da palavra que sopra a sua voz
Nos pulsos. Crivo a pulsação do canto
E encontro
O silêncio inigualável de quem escuta

Eis porque as minhas entranhas vibram de modo igual
Ao da cítara

Eu peneiro as entranhas e encontro a dor
De quem toca a cítara. A frágil raiz
De quem criva horas e horas a vida e encontra
A corda mais azul, a veia inesgotável
De quem ama
Encontro o silêncio nas entranhas de quem canta

Eis porque o amor vibra no espírito de quem criva

O músico incompleto peneira a ideia das formas
Eu sopro a água viva. Crivo
O sofrimento demorado do canto
Encontro o mistério
Da cítara

Daniel Faria
Dos Líquidos

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domingo, 14 de dezembro de 2008

UM ENCONTRO. E DESENCONTROS.

Terça-feira, 9 de Dezembro. Em Fátima, a Conferência Episcopal toma uma iniciativa inédita: D. Jorge Ortiga recebe os representantes da Plataforma dos professores, encontrando-se estes em pleno processo de luta. Não há comunicados oficiais. Mas há declarações mais ou menos informais. O Bispo presidente garante, diante de câmaras de televisão, que a Igreja está muito preocupada com os professores, as escolas, os pais e os alunos. Sugere a realização de um pacto social sobre as questões educativas. E recomenda ao governo que ouça os professores. Jornais, televisões e observadores prestam a menor atenção possível ao facto. Toda a gente, a começar pelas autoridades, prefere ignorar o gesto. Mas trata-se simplesmente de um dos factos mais importantes da vida política destes últimos anos.

Quarta-feira, 10 de Dezembro. Em declarações justas e severas, o Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, apela aos grupos parlamentares para encontrarem vias de criar alguma disciplina, de impedir que os deputados faltem às sessões e que cumpram os seus deveres. O PS não gostou e alguns dos seus deputados reagiram mal.

Quinta-feira, 11 de Dezembro. Chegou o grande dia. Finalmente, Ministério da Educação e professores encontram-se para discutir tudo. Já se sabia, desde uns dias antes, que a convocatória e as ordens de trabalhos era uma soma de equívocos. Ambos disseram, uma vez, que estava tudo em cima da mesa. Ambos acrescentaram, outra vez, que certos tópicos não se poderiam discutir. Debater a hipótese da suspensão da avaliação era, para os professores, essencial. Tal discussão era, para o ministério, inútil, dado que a suspensão estava totalmente fora de questão. Os professores deixaram uma proposta de sistema de auto-avaliação que nada resolve. A ministra recusou as reivindicações de suspensão feitas pelos professores. Os participantes na reunião separaram-se azedamente, duas ou três horas depois. Fizeram bem em falar. Fizeram mal em não ter encontrado sequer umas pedras para pôr os pés e fazer um pouco de caminho. Nova reunião foi marcada para a próxima semana, desta vez para discutir o estatuto da carreira docente. A ministra garante que, para o ano, está disponível para tudo ver e rever, incluindo o sistema de avaliação e a hierarquia profissional dos professores. Para já, estranhamente, insiste na aplicação do seu sistema. Mas já chegámos a uma conclusão amarga: as propostas dos sindicatos são tão absurdas quanto as da ministra. Com um denominador comum: ambos estão empenhados em impedir que as escolas e os directores assumam as suas responsabilidades. Enquanto não se evitar a tenaz, ministério contra sindicatos a lutar por uma sistema centralizado e integrado, limitar-se-ão a adiar o problema. A tentar afogar o peixe.

Sexta-feira, 12 de Dezembro. É dia grande na cidade de Lisboa. Luzidia comitiva, com ministro e presidente da Câmara, desloca-se, para um momento mágico, a uma das praças mais bonitas do mundo. Finalmente, doze anos após o início das obras, que deveriam ter durado três, e depois de dezenas de milhões de euros de desvios, o Terreiro do Paço parece recuperar a sua vistosa figura. O Cais das Colunas é reaberto e inaugurado. Em maré de glória, o ministro diz que não lhe interessa perder tempo a apurar quem são os responsáveis pelos atrasos. O importante é o momento e a beleza do gesto. O Cais é devolvido ao povo de Lisboa. Mas, logo a seguir, o anúncio é feito: só por quinze dias. Após o Ano Novo, o Terreiro do Paço fecha, em grande parte, para novas obras de saneamento que vão durar, espera-se, mais de um ano. Entretanto, o Estado português terá de devolver à União Europeia cerca de 80 milhões de euros indevidamente recebidos, pois não respeitou as regras internacionais nas obras da linha de metro de Santa Apolónia ao Terreiro do Paço. Esta praça é bem uma metáfora do estado do país.

Sexta-feira, 12 de Dezembro. Uma semana depois da sessão memorável da Assembleia da República, à qual faltaram umas dezenas de deputados, a reunião da comissão do orçamento, marcada para as nove e trinta, foi adiada. A razão foi a da falta de quórum. Isto é, não havia nove deputados, os necessários para atingir a fasquia legal. Os socialistas que, sozinhos, poderiam garantir o quórum, não estavam em número suficiente. Dos outros partidos, alguns estariam por ali, mas não chegava.

Esta é seguramente a mais importante de todas as comissões parlamentares.

O Parlamento português já não surpreende. Ninguém espera absolutamente nada daquela casa. Serve para completar a maquinaria democrática, mas foi rebaixado a um papel secundário. Qualquer câmara de televisão é mais importante do que aquela instituição. Aliás, os que ainda se dedicam a fazer discursos ou aparecer no hemiciclo fazem-no apenas com a televisão no espírito. Já se viram ministros e deputados a falar olhando para as câmaras, nem sequer para os seus pares. O tom geral dos debates, pelo tom e pelos berros, mais parece o de uma lota de peixe. Raros são os deputados que falam normalmente e expõem os seus pontos de vista com argumentos racionais. Mais raros ainda são os que mostram sinais exteriores de pensarem quando falam.

Começam a surgir ideias e propostas para punir os deputados faltosos. Marquem-se faltas, dizem uns. Reduza-se o vencimento. Excluam-se os faltosos das listas nas próximas eleições. Publiquem-se regularmente os nomes dos que faltam. A verdade é que estas sugestões equivalem a colocar gesso numa perna de pau. Sem funções reais, sem independência, sem responsabilidades individuais, sem mandato pessoal e sem necessidade de prestar contas directamente aos eleitores, os deputados serão sempre o que são, apêndices estatísticos. Este Parlamento não é uma metáfora: é o retrato exacto e verdadeiro da democracia que temos.

António Barreto
PÚBLICO
14 de Dezembro de 2008

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MISÉRIA OCULTA

Bate nos vidros a aurora,
Vem depois a noute escura;
E o pobre astro que ali móra,
Não abandona a costura!

Para uns a vida é d'abrolhos!
Para outros mouta de lyrios!
Bem o revelam seus olhos,
Pisados pelos martyrios!

Miseria afugenta tudo!
Miseria tem dons funestos!
Quem é que gaba o velludo
D'aquelles olhos honestos!...

Ninguem seus olhos brilhantes
Descobre n'essas alturas...
E aquellas formas tão puras,
E aquellas mãos elegantes!

Sempre á costura inclinada!
Morra o sol ou surja a lua
Nunca vi descer á rua
Aquella loura encantada!

Aquelle lyrio dobrado
Por que assim vive escondido!
Eu bem sei!--não tem calçado!
E é muito usado o vestido!

Por isso não tem porvir
Morrerá virgem e nova,
E aguarda-a bem cedo a cova...
Que eu bem a ouço tossir!

Miseria afugenta tudo!
Miseria tem dons funestos!
Quem é que gaba o veludo
D'aquelles olhos honestos!

Pobre flor desfalecida
Tão nova e ainda em botão!
Como teve estreita a vida,
Terá estreito o caixão!

António Gomes Leal
Claridades do Sul

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sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

EDIÇÃO DE HOJE/AMANHÃ DO JORNAL FONTE NOVA


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O LIVRO DO ANTEROZÓIDE

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A distribuição já começou. Não tenham problemas em encomendar livros e postais, que ainda há muitos.




Para encomendar o livro:

Enviar um mail com nome (completo, de preferência), morada e qual a encomenda para: anteroval@gmail.com

Fazer a transferência bancária para o NIB: 003300000198017250061 (banco: Millennium).

NOTA: Coloquem no descritivo o mesmo nome que utilizaram na encomenda

(as contas conjuntas podem causar alguma confusão).

Por segurança, enviem-me também, por favor, o comprovativo da transferência (scanner ou um mail com os dados), para poder confrontar com o meu extrato (se a transferência não disser o nome do depositante, deverá incluir o número da conta da qual foi feita a transferência).

Para os mais avessos a esta coisa de internet, podem sempre enviar o pedido e o pagamento para:

Antero Valério

Rua Mateus Vicente, Nº3, 3ºDtº

1500-445 Lisboa

O preço do livro é de 17,5 euros, mais 2,5 para despesas de envio. (20 euros).

O preço da colecção de postais é de 9 euros, já com os portes incluídos.

Se encomendar o livro e os postais juntos, o total é de 27 euros.

Como já disse anteriormente, o livro tem 120 páginas, 80 páginas a preto e branco e 40 páginas a cores.

A colecção é de 9 postais, embalados numa caixa/cartoon. Abaixo, podem ver as miniaturas dos postais:

postx

A edição do livro é de mil exemplares e a dos postais é de 500 exemplares.

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A CORJA NÃO TEM VERGONHA NENHUMA NA "TROMBA"

À SEXTA - FEIRA


É DIA DE GAZETA




«A Comissão do Orçamento e Finanças, agendada para as 9h30 desta sexta-feira, não se realizou por falta de quórum. Faltaram seis deputados do Partido Socialista, três do Partido Social Democrata e um do Bloco de Esquerda. Segundo a agenda da Assembleia da República estava previsto "apreciar e votar o Requerimento apresentado pelo Grupo Parlamentar do CDS-PP, solicitando a audição do Governador do Banco de Portugal, a fim de prestar esclarecimentos mais aprofundados sobre a operação de apoio financeiro ao BPP"

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PRÉMIO PESSOA PARA CARRILHO DA GRAÇA

Prémio Pessoa 2008

Carrilho da Graça é o vencedor




"Carrilho da Graça tem desenvolvido, ao longo de 30 anos, uma actividade profissional com grande rigor e coerência, criando uma linguagem própria que adequa a cada situação específica", refere o comunicado que anuncia a atribuição do Prémio Pessoa 2008 ao arquitecto.

O prémio, instituído em 1987 pelo jornal Expresso, passou este ano a ser patrocinado pela Caixa Geral de Depósitos e a contar com o valor pecuniário de 60 mil euros.

Entre os projectos concebidos por João Luís Carrilho da Graça, destacam-se a Escola Superior de Comunicação Social (Lisboa), o Pavilhão Conhecimento dos Mares (Lisboa), a Igreja de S. Paulo (Macau), o Mosteiro Flor da Rosa (Crato), o Convento de Jesus (Setúbal) e o Convento de São Francisco (Coimbra).

No presente ano, Carrilho da Graça terminou a recuperação do edifício do Museu do Oriente (Lisboa) e tem em conclusão a Escola Superior de Música de Lisboa, a Igreja de Santo António (Portalegre) e o Complexo de Auditórios de Música (Poitiers, França).

Carrilho de Graça nasceu em 1952 e licenciou-se em 1977 pela Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, dirigindo o seu próprio ateliê desde então. É professor em várias universidades portuguesas (Autónoma, Técnica de Lisboa e Évora) e internacionais, tendo contribuído para o desenvolvimento de novas gerações de arquitectos.

É a segunda vez que o Prémio Pessoa contempla um arquitecto. A atribuição a Carrilho da Graça acontece uma década depois da distinção de Eduardo Souto de Moura.

Os historiadores José Mattoso (1987) e Irene Pimentel (2007), os escritores Vasco Graça Moura (1995) e José Cardoso Pires (1997) e Mário Cláudio (2004), os investigadores neurocientisrtas António e Hanna Damásio (1992), a pianista Maria João Pires (1989) e o actor e encenador Luís Miguel Cintra (2005) são alguns dos outros vencedores do prémio instituído em 1987 pelo jornal Expresso, para distinguir anualmente personalidades portuguesas cuja obra que se tenham destacado na vida artística, literária ou cientifica do país.

A equipa do júri do Prémio Pessoa 2008, presidida por Francisco Pinto Balsemão, foi constituída por António Barreto, Clara Ferreira Alves, Diogo Lucena, Eduardo Souto de Moura, João José Fraústo da Silva, João Lobo Antunes, José Luís Porfírio, Maria de Sousa, Mário Soares e Rui Baião.




João Luís Carrilho da Graça, nasceu em Portalegre em 1952 , arquitecto português, formou-se pela Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa em 1977.

Desenvolvendo uma arquitectura com referências ao movimento moderno, desde as primeiras obras suscitou atenção nacional e internacional. O seu projecto para um conjunto de habitação social para Alter do Chão (1977-94) esteve presente na XIII Biennale de Paris -1985 e, desde aí, participa em diversas exposições e conferências. Em 1990 é nomeado para o prestigiado prémio Mies van der Rohe, pelo projecto do Centro Regional de Segurança Social de Portalegre (em colaboração com Gonçalo Byrne e João Paciência). Em 1992 recebe o Prémio Secil de Arquitectura pelo projecto da Escola Superior de Comunicação de Lisboa. Embora ainda não muito numerosa, a sua obra inclui vários outros edifícios de grande valor, tais como a Piscina Municipal de Campo Maior, (1985-90, com Carlos Miguel Dias), a Pousada no Mosteiro de Santa Maria de Flor da Rosa, Crato (1992) ou o Pavilhão do Conhecimento dos Mares para a exposição mundial de Lisboa (EXPO'98). Exerce actividade docente na Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa.

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HOMENAGEM AO PADRE PATRÃO



Homenagem ao Rev. Padre Dr. José Dias Heitor Patrão.


Celebra o seu octogésimo aniversário, no próximo mês de Maio de 2009, o Rev. Padre Dr. José Dias Heitor Patrão.

A cidade e a região sentem-se agradecidas ao Homem, ao Historiador e ao Padre.

Por esse motivo, um grupo de pessoas da cidade de Portalegre entendeu por bem organizar, por altura da data do seu aniversário, uma homenagem pública a tão insigne alentejano.

Ao dar conhecimento desta iniciativa, a Comissão Organizativa da Homenagem ao Padre Dr. José Patrão, mostra-se aberta a toda a colaboração.
.Comissão Executiva:

_ Américo Agostinho

_ Carlos Juzarte Rolo

_ Fernando Correia Pina

_ José Manuel Polainas

_ Mário Casa Nova Martins

Endereço electrónico:padrepatraohomenagem@live.com.pt.

Homepage:http://homenagemaopadrepatrao.blogspot.com

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VAIDADE, TUDO VAIDADE!

Vaidade, meu amor, tudo vaidade!
Ouve: quando eu, um dia, for alguem,
Tuas amigas ter-te-ão amizade,
(Se isso é amizade) mais do que, hoje, têm.

Vaidade é o luxo, a gloria, a caridade,
Tudo vaidade! E, se pensares bem,
Verás, perdoa-me esta crueldade,
Que é uma vaidade o amor de tua mãe...

Vaidade! Um dia, foi-se-me a Fortuna
E eu vi-me só no mar com minha escuna,
E ninguem me valeu na tempestade!

Hoje, já voltam com seu ar composto,
Mas eu, ve lá! eu volto-lhes o rosto...
E isto em mim não será uma vaidade?


António Nobre

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quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

POVO

Povo que lavas no rio,
Que vais às feiras e à tenda,
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão,
Pode haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida, não!

Meu cravo branco na orelha!
Minha camélia vermelha!
Meu verde manjericão!
Ó natureza vadia!
Vejo uma fotografia...
Mas a tua vida, não!

Fui ter à mesa redonda,
Bebendo em malga que esconda
O beijo, de mão em mão...
Água pura, fruto agreste,
Fora o vinho que me deste,
Mas a tua vida, não!

Procissões de praia e monte,
Areais, píncaros, passos
Atrás dos quais os meus vão!
Que é dos cântaros da fonte?
Guardo o jeito desses braços...
Mas a tua vida, não!

Aromas de urze e de lama!
Dormi com eles na cama...
Tive a mesma condição.
Bruxas e lobas, estrelas!
Tive o dom de conhecê-las...
Mas a tua vida, não!

Subi às frias montanhas,
Pelas veredas estranhas
Onde os meus olhos estão.
Rasguei certo corpo ao meio...
Vi certa curva em teu seio...
Mas a tua vida, não!

Só tu! Só tu és verdade!
Quando o remorso me invade
E me leva à confissão...
Povo! Povo! eu te pertenço.
Deste-me alturas de incenso,
Mas a tua vida, não!

Povo que lavas no rio,
Que vais às feiras e à tenda,
Que talhas com teu machado,
As tábuas do meu caixão,
Pode haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida, não!

Pedro Homem de Mello
Miserere

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quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

MAIS UMA DA CORJA...

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A lista dos deputados presentes no plenário de sexta-feira não coincide com a contagem feita pela mesa da Assembleia da República no início das votações desse dia, nem com o próprio resultado da votação dos deputados por braço no ar, o que sugere que houve deputados que assinaram o ponto logo de manhã para se retirarem logo a seguir.

Apesar disso, a mesa da Assembleia da República, a quem cabe fazer o levantamento dos faltosos, não tenciona comprovar por imagens o que as assinaturas escondem.
Nem o PSD o tenciona fazer, ainda que Manuela Ferreira Leite deixe claro que as faltas não justificadas terão consequências políticas.

Mas a hipocrisia vai mais longe.
Jaime Gama apercebeu-se, pela primeira vez desde que exerce o cargo de Presidente da Assembleia da República, de que há DEPUTADOS que faltam à Sexta-feira.
É estranho que alguém que convive todas as semanas com a mesma realidade só reaja quando, já depois da sua mediatização, esta chega ao cúmulo de se ter formado um sindicato de deputados com a pretenção de alterar o regimento da AR para possibilitar mais faltas.
Vem então o ralhete da ordem: vejo a necessidade básica de haver sentido do dever, cumprimento dos mandatos, assiduidade. Ser deputado não é beneficiar de um direito, é contrair um dever para com os eleitores, disse o oportuno Jaime Gama, depois de mais de três anos de sã e silenciosa convivência com as condutas que agora critica.
Não Surpreende.
Jaime Gama fez todo o seu percurso político num dos partidos ditos preparados para governar, precisamente os dois com mais faltas na fatídica Sexta-feira de um fim-de-semana que se soube prolongado.
Para estes partidos pouco importa o que se faça, importa o que se sabe.
E soube-se.
Grande chatice.


F.T.

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EDIÇÃO DE HOJE DO ALTO ALENTEJO


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PUREZA

Nós
jamais ficamos lívidos.
E nascemos tão simples
que o rubor em nossos rostos
não tem sentido
não é possível
nem existe.

É uma fonte de aves o nosso canto
e o grito de capataz
não é sonho inventado
mas existe na manhã cósmica dos cargueiros atracados
e guindastes de duzentas e cinquenta toneladas.

Lívidos
nascem os outros
e o rubor em nossos rostos
não tem sentido nem existe.
Mas o permanente sentido de angústia
nossos corações de negros
faz cada vez mais puros.

José Craveirinha
A Voz de Moçambique

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terça-feira, 9 de dezembro de 2008

EDIÇÃO DE HOJE DO JORNAL FONTE NOVA



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MORTE AOS JUDEUS! MORTE AOS HEREGES!

Celebraram-se, recentemente, os quinhentos anos da mortandade de judeus levada a cabo pelo povo de Lisboa, com a bênção dos frades de S. Domingos. Tudo começou quando um cristão-novo pretendeu esclarecer os presentes na Igreja de S. Domingos que a luz que irradiava da imagem de Cristo não era nenhum milagre, mas apenas a luz do sol. O que tu foste dizer... «Morte aos judeus! Morte aos hereges!». E depois foi o que se sabe: milhares de judeus chacinados na praça pública pelo povo em fúria, instigados pelos frades de S. Domingos.

Com vista, certamente, a celebrar condignamente a efeméride, os novos frades de S. Domingos, há cerca de três anos a pregarem em S. Bento e no Terreiro do Paço, resolveram reeditar a matança dos hereges.

O povo, metido nesta angústia e vil tristeza, onde tudo funciona mal, desde a Justiça à Educação, da Economia à Administração Pública, esperava ansioso por qualquer raio de sol que, incidindo no rosto do nosso primeiro-ministro, sugerisse um pequeno milagre.

E o milagre ocorreu. O rosto do primeiro-ministro iluminou-se como que por milagre. Ouviu-se, então, um bruá no país inteiro. As sondagens dispararam. Finalmente havia alguém que tinha a coragem de “pegar o touro pelos cornos”, de afrontar os direitos instalados. E o primeiro-ministro, com o rosto inundado da luz dos projectores, anunciou ao país as prometidas e indispensáveis reformas: a venda dos medicamentos nos supermercados, a redução das férias judiciais, as aulas de substituição, a avaliação do desempenho dos professores, a suspensão das medidas agro-ambientais…

«Milagre! Milagre!», clamou o povo.

Acontece que um cristão-novo ali presente, na sua ingenuidade, declarou o óbvio: «Isso não é reforma nenhuma. Pelo contrário, não só não vai resolver nada como vai ainda agravar mais os problemas já existentes.» O que tu foste dizer…

O frade de S. Domingos da Justiça clamou em voz alta: «se o povo tem um mês de férias, por que razão os judeus hão-de ter dois meses de férias?» E o frade de S. Domingos da Agricultura clamou: «Houve três judeus que usaram os subsídios da agricultura agro-ambiental para encher as suas piscinas.» E, por sua vez, a freira de S. Domingos da Educação clamou: «10% dos judeus faltam às aulas». E já não houve tempo para outras explicações. «Morte aos judeus! Morte aos hereges!», clamaram o povo e os frades de S. Domingos. E os hereges foram literalmente arrancados dos tribunais, das escolas, dos campos, das farmácias, dos hospitais, dos quartéis, etc. pelo povo em fúria e espezinhados e queimados na praça pública, enquanto os frades de S. Domingos iam lançando mais achas para a fogueira, bradando em voz alta contra o fim dos interesses corporativos.

Consumada a matança dos hereges, veio a constatar-se, segundo os relatórios do Banco de Portugal, da OCDE e do FMI, que as prometidas reformas, afinal, ainda não tinham saído da cartola. E se se fizer um estudo comparativo com anos anteriores sobre a produtividade e a qualidade do trabalho dos nossos tribunais e das nossas escolas, facilmente se constata que não houve melhorias.

Para perceber o que se passou nas escolas e nos tribunais, basta recordar apenas um extracto da entrevista de António Cerejeira, director de recursos humanos da IBM: «O que faz a diferença são as pessoas. Se tivermos empregados motivados, isso terá impacto no resultado».

O Governo fez tudo ao contrário. Com medidas pontuais e ridículas e declarações públicas ofensivas da dignidade das classes profissionais, desmotivou as pessoas e feriu de morte sobretudo os melhores profissionais, aqueles que cumpriam e superavam os objectivos que lhes eram propostos. E agora ficou com o menino nos braços.

Sem esquecer que não basta legislar para que as reformas se concretizem. É necessário, para que as mesmas tenham sucesso, que não esbarrem na resistência passiva daqueles que as têm de implementar: magistrados, funcionários administrativos, professores, médicos, polícias, etc. Caso contrário, as reformas ainda produzem resultados piores do que aqueles que pretendem corrigir.

Ou seja, para que as reformas tenham sucesso é necessário que o Governo conte com a colaboração e o empenho dos judeus. Só que, depois de os ter queimado na praça pública, isso tornou-se completamente impossível.


Santana-Maia Leonardo

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