sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

EDIÇÃO DE HOJE/AMANHÃ DO JORNAL FONTE NOVA


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E A PRÓXIMA RODADA ...

É um barco e uma pedra.
É a pedrada no charco.
É o orvalho na erva.
É a bandeira. É o arco.
É a chuva. É o outono.
É a sopa de hortelã.
É o cão que não tem dono.
É o bicho da maçã.
O tempo que está mudado.
É o orgulho nacional.
É a balada. É o fado.
A galinha no quintal.
O carneiro a remoer
as hortenses da avenida.
É o silêncio a bater
numa vidraça partida.
É o ódio que nos cega.
É o braço que se estende.
O discurso. A cabra-cega.
É o homem que se vende.
É o peito que não pára
de apertar o coração.
É a comida mais cara.
É a cara contra o chão.
É a semente na terra.
É o trigo na seara.
É uma arma de guerra.
É a raiva que dispara.
É o lobo que devora
as canelas da poesia.
É o momento. É a hora
de estrangular a alegria.
É a videira. É o vinho.
É o copo de amargura.
É a santa da Ladeira.
São as raias da loucura.
É o tejo que se embala
num cacilheiro doente.
É o desejo que estala.
É o buraco no dente.
É o dinheiro. É o juro.
O amor em percentagem.
É o passado e o futuro.
É uma questão de coragem.
É o que sobra. É a falta.
É o emprego decente.
É a amizade da malta.
É a ternura da gente.
É a mulher que pariu.
É o filho que se fez.
É a corda e o rastilho.
É o sarilho outra vez.
É o mapa desenhado
sobre as costelas partidas.
É o sorriso emprestado.
A hipoteca das vidas.
É a mágoa registada.
É a patente do medo.
É a cultura enlatada.
É o drama sem enredo.
É o rugido da fera.
É o marquês de pombal.
O cravo na primavera.
Uma prenda de Natal.
É o azul. É o vício.
É a carga de porrada.
É a cara do polícia.
É a liamba fumada.
O ministro que promete
que amanhã irá chover.
O desenho na retrete
para toda a gente ver.
É a dança. É o marasmo.
A paragem do autocarro.
É atingir o orgasmo
com o fumo de um cigarro.
É chamar nomes à mãe
do tipo que está ao lado
e responder a alguém
Eu estou bem, muito obrigado!

Joaquim Pessoa
Português Suave

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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

TANTO PALEIO...

Com o investimento público e, afinal, isto.

J.G.

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A ILHA

A ilha te fala
de rosas bravias
com pétalas
de abandono e medo.

No fundo da sombra
bebendo por conchas
de vermelha espuma
que mundos de gentes
por entre cortinas
espessas de dor.

Oh, a tarde clara
deste fim de Inverno!
Só com horas azuis
no fundo do casulo,
e agora a ilha,
a linha bravia das rosas
e a grande bab negra
e mortal das cobras.

Maria Manuela Margarido
Alto como o Silêncio

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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

EDIÇÃO DE HOJE DO ALTO ALENTEJO


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EDIÇÃO DE HOJE DO JORNAL FONTE NOVA


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O MILITANTE

Eu sou um militante inteligente
Sem, todavia, ser dos mais capazes,
Mas basta-me colar só uns cartazes
Pra garantir os tachos cá da gente.

O meu "tachinho" deu-me o presidente
E só não estou melhor por não ter bases,
Mas aqui pouco importa o que tu fazes,
Basta, nas eleições, dizer "presente!".

A minha vida assim de papo cheio
Às vezes traz-me grandes aflições
E dores de cabeça de permeio.

Imagine o leitor (suposições)
Se, por um mero acaso ou caso feio,
O meu partido perde as eleições.

Santana-Maia Leonardo
Bocage, meu irmão

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terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

UNS INGNORANTES PASSEIAM-SE POR BRAGA E FAZEM MERDA...


Outubro, 15. Noite em Vieira do Minho friorenta e agitada por pesadelos, incongruências, palpitações. Já de madrugada, O Mensageiro das Trevas aparece-me na cama, agarra-me quase ao colo com os seus dedos de aço nos braços e diz-me baixo, numa voz irónica mas simpática (ou cínica e trocista?): "Ontem (referência, parece, a um sonho meu da véspera, em que me surgira A Morte, com a sua caveira comum, de dentuça à mostra, cara desgraçada!), ontem viste-me com a minha triste cara verdadeira, hoje venho alegre (a face dele era uma máscara apalhaçada, coberta de giz) mas é para te dar uma má notícia, coitado:

AMANHÃ MESMO MORRERÁS!

Acordo aos estremeções, aflito, com uma consciência muito nítida do encontro, e começo por fazer figas debaixo da roupa ao Intruso, mas depois, cheio duma superstição infantil (que me ficou da criança que fui, entenda-se), faço o sinal-da-cruz. E para não tirar as mãos debaixo do quente das mantas, engrolo gestos e palavras mesmo sobre o peito, à matroca, como um aprendiz de catequese faria. Sossego mais. Começo a pensar como morrerei. Desastre? colapso? ou loucura súbita e logo suicida? Adormeço nisto. Ao acordar conto ao Forte o meu sonho, para o esconjurar. Ou talvez para criar uma testemunha do meu presságio nocturno, se sair certo. Figas! Cruzes! Malandro! Canhoto! E logo eu, que gosto tanto da Vida! A caminheta dos livros segue para Braga; primeira paragem, em Esporães ou Esporões, outra terra a que perdi o nome e depois Somar. Eis a grande revelação da jornada: Deolinda da Costa Rodrigues, 14 anos, no 3º ano do curso comercial, residente no lugar de Assento. Fico varado! Mas é a Lolita tal-e-qual do Nabokov, é a Super-Gêninha jamais esquecida. A Super-Super-Gêninha, que talvez me vá fazer esquecer de vez a outra. Baixa, encorpada, ancas cheias como se quer, barriga abaulada, leveza nos modos, gravidade e força de mulher no corpo, uma suave expectativa de adolescente. Que beleza! Que maravilha! Morena, olhos atentos, cabelo entrançado (seria? ou rabo-de-cavalo?). Adivinho e aspiro o perfume do seu sexo; leio-lhe nos olhos os gritos que ela daria de prazer se a possuísse agora, nesta luta de vida ou de morte contra o Mafarrico, a última, a grande vitória do Libertino. O espichar de corpo, o estrebuche no orgasmo, que beleza, que maravilha!

Sou eu que lhe ensino a preencher a ficha de inscrição, depois perco-me dela, para não revelar a minha exaltação. Ela é que escolhe os livros: três volumes Condessa de Ségur ("O Enjeitadinho"? "O Corcundinha"?, são livros de títulos tristes). Espero-a fora da caminheta, estendo a mão, pego nos livros que pediu, faço perguntas calmas; ela é grave, concisa, responde logo com naturalidade ao que lhe pergunto: "Andas a estudar? sim. Em que ano? terceiro ano da escola comercial. Estás adiantada". Ela fica ainda perto da caminheta uns minutos, a ver os que entram e saem, e depois segue num passo lento por uma azinhaga que desce entre muros. Faço umas manobras disfarçatórias, ando por aqui por ali, e acabo por enfiar alvoroçadamente azinhaga abaixo, na esperança de a tornar a ver, mesmo de longe! e desfocada em vulto com as minhas múltiplas dioptrias! ou falar-lhe, o que era já improvável. Pergunto a uns indígenas muito sujinhos, benza-os Deus, onde era o lugar de Assento, novitos, nunca ouviram falar (nem chego até a perceber se entenderam o que lhes disse). Sigo pela azinhaga. Está uma manhã puríssima e silenciosa. Casas velhas, palheiros de gente e gado, tons pela verdura de castanho, ruivo, sanguínea nas parreiras e árvores. Conversas que me chegam, abafadas pelos muros grossos das empenas, pela distância, pela sua própria peculiar intimidade, que se espalham no ar e congelam em cima de mim uma súbita tristeza, ou isolamento de angustiado: quem me dera ser um deles! ser um da casa! eles conhecerem-me!, mas não como agora, mas desde o princípio, um como eles, na pureza fresca e larga desta manhã dos arredores de Braga no Outono, com a vizinhança permanente da Deolinda e seu cheiro de terra lavrada por semear. Medito, ocorre-me por um instante a diferença das classes e fossos vários que as separam, do qual o maior não será o económico sendo o mais decisivo como maquilhagem das pessoas (explico: sem um tostão na algibeira, eu era tão pobre como um deles ou mais pobre ainda, mas o que nos separaria para sempre era aquela estranheza feita dos nossos tempos diferentes e de como cada qual os tínhamos gasto, eles ali como plantas, húmus, eu sempre por casas e terras e gentes afinal a mim alheias). Como lhes fazer compreender agora a minha vida, ou contá-la como novela ao serão, quem sou, quem fui, o que fiz, e onde tudo começou e em que capítulo ficámos na última noite e onde tudo irá acabar... Impossível saber e eles saberem-no, sofrer como eles sofreram ou eles sofrerem por mim as minhas dores passadas, gozar eu com as suas alegrias e nada, nada disto nos poderá ser comum.


Regresso à caminheta e venho a saber depois que o lugar de Assento é estrada abaixo, para ao pé da igreja. Voltamos todos para Braga. Apontei o nome da miúda e o resto. Almoçarada em Gualtar com o Forte e o King- Kong, o motorista, que paga tudo e está simpatiquíssimo comigo e com o Mundo. Frango com arroz, à minhota, uma delícia. Vinho verde, à minhota, uma delícia. Como bundaradas porque adoro arroz de cabidela e vinho verde e minhotas: "Deolinda da Costa Rodrigues, 14 anos, no lugar de Assento, cá me ficas, mas este arroz marcha à frente!". Bebo mais que um Arcebispo, com o Bom-Jesus em cenário. Deixo de pensar na Morte, essa magana. Estou um tanto pesado e alegrote. Voltamos a Braga. Cafés. Decido ficar. O Forte dá-me cinco escudos, que é quanto lhe resta. Um bom Libertino não precisa de dinheiro. Decido ficar e fazer uma tarde de luxúria mental em Braga, para esconjurar o cheiro a incenso e mofo de padre que empestam estas ruas.

Largo o casaco e a sacola num tasco. Meto mais verde. Telefono ao. Victor de Sá, a quem vinha incumbido de entrevistar para a "Seara". Grande confusão política em Braga: há duas listas da Oposição, uma, a boa, que o Governo cortou, "da maneira mais arbitrária...", diz-me o V.S.; outra, a dos moderados ou mortos (é o termo dele). E que não dá entrevista, que tem muito que fazer, que estão a estudar uma reclamação ou petição, etc. Oh diacho, é outro caso de pré-deputado ou candidato a deputado, que chega ao dia das eleições sem saber se vai, se o deixam ir, se lhe contam os votos, se as listas de eleitores lhe são facultadas, a cegada do costume. E duas listas da Oposição, em Braga?!... É para ver se perdem mais depressa, ah!... ah!... (isto sou eu a rir-me dos políticos de Braga). Concluo que em Braga a política é uma trampa, uma trampa aflita em dias de sol deste, com raparigas na sua folga de domingo, o Vianense a jogar contra o Braga, logo excursões de Viana ali perto, com certeza - e a Deolinda perdida entre azinhagas e casas velhas, o lugar de Assento ao pé da igreja, a Deolinda ainda não esquecida mesmo depois do frango do almoço. Vou-me a ela!

Mas passam por mim duas miúdas: uma, grande cu descaído, badalhoca de cara, trouxa de carne a dar às pernas - é a que me tenta; outra, muito compostinha no trajar, casaco preto, saia branca ou creme, muito viva, muito espevitada. Atiro pontaria na badalhoca, a ver se avanço depressa o negócio, jogando no ganha-perde da beleza física e no cálculo das probabilidades dos complexos das feias. Vou-as seguindo, de rabo alçado como um garanhão, e a gorduchona já me topou. Olha para trás, por vezes. Já comunicou à parceira. A andar, a andar, chegamos a uma espécie de logradouro público, com certo ar antiquado e bancos largos de pedra, onde finda a linha dos eléctricos para o estádio (vejo o nome, Estádio 28 de Maio, oh a Política!, ah! ah!, isto só em Braga). Mas agora o grupo das meninas complicou-se: entrou por ali uma velha gorda, e inútil, e naturalmente sabichona e danada por invejar o prazer dos outros como é próprio de velhas; com ela, e tão empatas como ela, duas estúpidas de duas garotitas, broncas e também inúteis para questões de sexo. Sento-me num banco e faço de grão-senhor, porque assim disfarço as calças rotas no rabo. A miúda mais bonita dá-me uma chance? (será isso?). Atira-se a dizer: "Eu sento-me já aqui", e vem toda lampeira para o meu banco, mas depois passa ao do lado. Manobra provocatória, mas feita por uma quase amadora? assim o entendi, e lanço-lhe uns olhares de desfazer pedras, o meu olhar mágico, de megatoneladas de cio (assim penso, mas com as 17 ou mais dioptrias e o estigmatismo e as lentes, e as clarabóias do verde, que olhar será o meu?). A trupe das estúpidas, porém, escolhe um banco lá pro fim e depois ficam todas sentadas e de costas umas para as outras e caladas. Domingos divertidos passam estas raparigas em Braga! quase tanto como o V.S. a preparar as suas petições para o ministro limpar o rabo a elas. Crio fastio de posar ao grão-senhor, distraído e benevolente com a paisagem. E começo a deambular, de árvore para árvore, e vou comprar castanhas ao cimo duma escadaria porque as duas miúdas broncas para coisas de entre-pemas vieram também ali abastecer-se; o meu fito era chegar à fala com elas e daí às mais graudinhas. Começo a comer castanhas e fico raivoso - ou embuchado? Escrevo então dois bilhetinhos (de que desculparão o estilo parvóide: nestas coisas de engates de miúdas e, até, de graúdas, segundo opinam os entendidos, quanto mais estúpidas as declarações de amor mais resultadodão, aqui a intenção, a sugestão é tudo), em folhas arrancadas da agenda, assim: Preciso muito de falar consigo, diga-me o seu nome e morada; outro, assim: Lambia-te toda, desde as maminhas até ao pipi. Verás que gozo, é melhor que bom, em linguagem infantilizada, a ver se pega. Amachuco-os até caberem numa bolinha dentro duma casca vazia de castanha, que guardo na algibeira da blusa, ao lado da bolota que me caiu em cima dos ombros esta manhã e considero um talismã... ora agora aqui se podem rir da minha infantilidade, mas olhem que vi O Mundo a Seus Pés. Viram ? A castanha amorosa é para mandar à gorducha ou à outra, a tal compostinha, isto se chegarmos à fala, do que já começo a duvidar; sinto que estou a perder tempo (como o outro tonto, a redigir petições sinceras) e precipito os acontecimentos. Aproximo-me do banco delas e faço um jogo declarado de olhares furiosos, de cem megatoneladas, para a gorducha lorpa, que é a que me deita as trombas de frente; a outra, a sagaz, está de costas. A velha topa-me ou é informada (porque há gente capaz de tudo, seria alguma das miúdas ou das brutinhas primárias?), e resolve arrecadar o rebanho para casa. Vou-as seguindo a distância, e pelo caminho inda catrapisco umas malfeitonas que andam a saber o seu Destino numa maniqueta chegada da América que diz se o que se tem no pensamento sairá certo ou errado, e dá uma sina disparatada a cada cliente, tudo por dez tostões (esqueci-me de dizer que no caminho para lá, para o repouso ao pé do estádio, a miúda gira tinha ido consultar a maquineta, muito azougada e preocupada com o seu futuro, e foi aí, até, que reparei como era vivaz e um tanto parecida (ou não seria ilusão minha?), nos modos e cabrice, com a Geninha. Começo a ver que, com guardiã à perna e saloias até mais não, destas fulanas não levo nada. Preparo uma vingança digna dum Libertino nos domingos sonolentos de Braga. Elas vão ao fundo da avenida; então, chamo um puto com cara de esperto: "Eh pá, queres ganhar uma croa? (eu tinha só três) sim, senhora! atão, entrega esta castanha àquela menina que vai ali, de casaco preto e saia branca. Mas de modo que ninguém veja...". O puto desata numa corrida e eu atravesso logo para o outro passeio, como o bombista que se afasta dos estilhaços que ele próprio provocou. Anarquismo minhoto!

Luiz Pacheco
O Libertino passeia por Braga, a idolátrica, o seu esplendor

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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

OS VAMPIROS

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ALGUMAS MODAS DO ENTRUDO

Ó entrudo, ó entrudo
Ó entrudo chocalheiro
Que não deixas assentar
As mocinhas ao soalheiro

Eu quero ir para o monte
Eu quero ir para o monte
Que no monte é que eu estou bem
Que no monte é que eu estou bem

Eu quero ir para o monte
Eu quero ir para o monte
Onde não veja ninguém,
Que no monte é que eu estou bem

Estas casas são caiadas
Estas casas são caiadas
Quem seria a caiadeira
Quem seria a caiadeira
Foi o noivo mais a noiva
Foi o noivo mais a noiva
Com o ramo de laranjeira,
Quem seria a caiadeira

versão interpretada por Zeca Afonso
no seu álbum Traz outro amigo também

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domingo, 22 de fevereiro de 2009

PÉROLA SOCIALISTA...

Quem é o autor (M/F) da seguinte pérola que se pode ler num recente documento oficial:

Sendo certo que muitos docentes não se aceitam o uso dos alunos nesta atitude inaceitável (...) ?



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C.M.R.

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CAMÕES E A TENÇA

Irás ao Paço. Irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
País que tu nomeias e não nasce

Em tua perdição se conjuraram
Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou ser inteiramente

E aqueles que invocaste não te viram
Porque estavam curvados e dobrados
Pela paciência cuja mão de cinza
Tinha apagado os olhos no seu rosto

Irás ao Paço irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas paciência

Este país te mata lentamente

Sophia de Mello Breyner Andresen
Dual

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sábado, 21 de fevereiro de 2009

ENFIM, UM EMPRESÁRIO!

O comunismo (também eufemisticamente conhecido por socialismo) está morto: paz à sua alma. E a sua morte, por implosão, foi de tal forma redentora que nem o nosso Partido Comunista ousa sugeri-lo como alternativa, quando o capitalismo, entregue a si próprio e cumprindo a profecia de Marx, tudo fez também para se autodestruir. A diferença é genética e substancial: o comunismo pressupõe, como inevitabilidade, a ditadura, a corrupção e a ineficácia; o capitalismo tanto pode significar liberdade individual, capacidade de risco, iniciativa e inovação, como pode degenerar na lei da selva, onde o único objectivo é o lucro e a única regra a ganância.

Esta crise serviu para nos mostrar que, acima de qualquer sistema político, existem os homens e os homens não são necessariamente ‘bons selvagens’, todos apostados no ‘ bem comum’ e num código de conduta ética de vida em sociedade por todos aceite e respeitado. Antes ainda de financeira ou económica, esta é uma crise universal de valores e princípios, num tempo em que o dinheiro e as aparências, o sucesso e falta de consciência de deveres e obrigações para com os outros se transformaram no bezerro de oiro. Por isso, acredito que só sairemos verdadeiramente da crise com sangue, suor e lágrimas. Quando os batoteiros forem afastados, os criminosos postos na prisão e o paradigma económico alterado de cima a baixo. Quando as offshores forem banidas, quando os riscos empresariais deixem de ser cobertos pelo Estado, quando as fortunas individuais correspondam a riqueza produzida a favor de todos, quando os rendimentos do trabalho deixem de pagar o dobro de impostos que pagam os da simples especulação financeira. Mas não estou optimista e menos ainda quando olho cá para dentro: nas medidas do Governo Sócrates para combater a crise há coisas certas, coisas que acho erradas e outras que só o tempo julgará. Mas o que não há, manifestamente, é a coragem de tirar as lições que se impõem: Sócrates parece pensar que o caminho é criar mais emprego público, engrossar o Estado e a despesa pública para o futuro, proporcionar mais negócios aos clientes de sempre e esperar que isto dê a volta e se retome o business as usual. Com mais ou menos quilómetros de auto-estradas, mais ou menos TGV, mais ou menos negócios privilegiados para a EDP e outros suspeitos do costume. É a velhíssima sabedoria do príncipe de Salinas.

Mas é justamente nos tempos de crise que se conhece a fibra de cada um. Há os que tiveram azar, que foram apanhados num turbilhão que não causaram e que não podiam antecipar, e há os que se limitaram a acumular lucros fáceis quando tudo era fácil, sem curar da retaguarda, e que, ao primeiro sinal de dificuldades, transferem as responsabilidades para cima do Governo, que tem de os apoiar, ou para cima dos trabalhadores, que têm de despedir. Temos, entre nós, os multimilionários, que cresceram pagando salários de miséria e agenciando contratos sumptuosos com o Estado ou no tráfico de influências com Angola, e que logo anunciam que, infelizmente, coitadinhos, vão ter de despedir porque não conhecem outra alternativa. E os grandes especuladores financeiros, que não criam um posto de trabalho, mecenas com Fundações que servem para fugir ao fisco e aos credores e cujas dívidas contraídas na banca pública e negociadas num ‘almoço de trabalho’ com os boys do PS ou do PSD, são agora incobráveis, até porque (oh, que surpresa!) não têm património pessoal que responda por elas e ninguém lhes exigiu garantias pessoais ou patrimoniais quando lhes emprestou dinheiro a perder de vista. Rezo para que não seja com estes ‘empresários de sucesso’, com estes ‘criadores de riqueza’, com estes comendadores de mérito, que José Sócrates conte para sair da crise e retomar o crescimento do país...

Mas, no meio de tanto pessimismo, aconteceu-me estar a ver um telejornal, na semana passada, e dar com o presidente do Grupo Jerónimo Martins a falar sobre a crise. Confesso que quase só sabia de Alexandre Soares dos Santos que tinha expandido em grande o seu grupo para a Polónia e que tinha o hábito saudável e tão pouco português de começar as reuniões de trabalho quinze minutos antes da hora marcada. E, de repente, vi-o, sem medo nem meias palavras, a fustigar a demagogia do combate aos pseudo-ricos anunciado pelo primeiro-ministro. Melhor ainda, ouvi-o dizer o que iria fazer perante a crise: primeiro, lançaria mão das reservas que teve o cuidado de fazer para enfrentar, se necessário, um ano inteiro de prejuízos; depois, deixaria de pagar dividendos; a seguir, diminuiria o salário dos administradores e quadros do grupo e, tudo não resultando, negociaria com os trabalhadores cortes de horário ou de salários; e só no fim avançaria para os despedimentos se os prejuízos se tornassem insustentáveis. Eis, pensei para comigo, alguém que não perde a calma perante as dificuldades, que não recorre ao expediente mais fácil para enfrentar os problemas e que, no meio do incêndio geral, não perdeu a noção de que uma empresa ou um grupo empresarial não é uma mera fábrica destinada a gerar lucros para os donos, mas também uma entidade que cumpre uma função perante a sociedade, a qual não desaparece nos tempos de crise.

Esta semana, a boa impressão que tinha retido transformou-se numa agradável surpresa, perante a notícia da criação da Fundação Francisco Manuel dos Santos — nome do fundador do grupo e avô do actual presidente. Eis uma Fundação que não serve para esconder lucros do Fisco ou comprar quintas e iates para os seus fundadores. Que, avisadamente, até está proibida estatutariamente de adquirir património, financiando-se com uma dotação anual que sai directamente do bolso de quem a criou. E que não serve para vender ‘arte’ ao Governo ou fazer caridade, mas para estudar, investigar, analisar estatisticamente o país que somos: um centro de estudos capaz de proporcionar aos decisores políticos a tomada de medidas que distinguem um estadista de um político. Contra a espuma da governação, a ilusão das sondagens e os ‘marqueteiros’ eleitorais. Uma Fundação que, como diz Alexandre Soares dos Santos, nasceu para “devolver à sociedade portuguesa uma parte do muito que ela nos deu”. Eis alguém que não reclama mais do Estado, que, pelo contrário, afirma que “a sociedade civil é fraca e muito dependente do Estado” e que sabe que, em época de crise profunda, o clima é propício à emergência dos populismos, que são, quase sempre, o chão onde germinam as ditaduras.

Por si só, esta já seria uma notícia boa, nesta maré de pessimismo em que vivemos mergulhados. Mas o nome de António Barreto para presidir à nova Fundação é ainda um sinal acrescentado de seriedade, competência e diferença. Enfim, uma boa acção.


Miguel Sousa Tavares
Expresso
21 de Fevereiro de 2009

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TOPONÍMIA

Mudam-se os tempos. Já
não sabemos as matinais canções
nem habitamos vilas morenas.
Toleramos serventes de pedreiro louros,
de preferência não legalizados. Queremos
um grande apartamento em condomínio
fechado, um ferrari, uma piscina, um topo
de gama de uma coisa qualquer.

Temos ruas, temos praças e pontes
com nome de revolução. Como todos
os países temos hino - nação valente
imortal. Tivemos canela e diamantes,
santos, barregãs e dinastias de
tiranos e servos. Andámos muito
no mar, trocando rotas e poderes,
escravos, inquisições e cruzes.

Agora, neste estreito
quadrilátero, de onde saímos
e mal regressámos, sem índias nem
quinto império - salvou-se o manuscrito do
Luís Vaz a nado - restam-nos a sardinha
e a conquilha - ao que consta cercadas
de barcos espanhóis - o bacalhau
que já não vem da Terra Nova, a memória
dos pescadores de baleias, esgotada a captura
nas ilhas.

Também temos o treze
de Maio, o negócio clandestino
das abortadeiras, a broa de Avintes,
os tintos, por enquanto de marca e
o leitão da Bairrada e o Benfica e
o Sporting e o Futebol
Clube do Porto.

Temos ruas, temos praças e
pontes com nome de revolução,
topónimos nebulosos que a distância
apagará. Apenas aquela rua
chamada Cantor Zeca Afonso
poderá surpreender o transeunte
se acrescentarem o aviso:

nunca quis uma rua
só para si.

Inês Lourenço
Logros Consentidos

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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

EDIÇÃO DE HOJE/AMANHÃ DO JORNAL FONTE NOVA


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O BARÃO

Traficante é senhor de muitas manhas,
O “cacau” mesmo sujo tem bom cheiro
E eu até sou um gajo bem porreiro,
Financio partidos e campanhas.

São necessárias muitas artimanhas,
Correr riscos, gastar muito dinheiro,
Corromper, subornar o mundo inteiro...
(Nesta vida, as despesas são tamanhas!)

Pra garantir um lucro alto, elevado,
Qualquer das soluções: perseguição
Ao tráfico ou, então, livre mercado.

Mas, ó legislador, presta atenção
(O mercado tem isto bem explicado):
O consumo não pode dar prisão.

Santana-Maia Leonardo
Bocage, meu irmão

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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

FOI VOCÊ QUE PEDIU UM FINO DE 64 MILHÕES DE EUROS?



“A estrutura accionista do BCP tornou-se uma Liga dos Últimos, somando grandes prejuízos e grandes dívidas, patrocinadas sobretudo pela Caixa. Quem emprestou e quem pediu emprestado mediu mal o risco e começaram os incumprimentos. Uma hipótese era a Caixa executar as dívidas e ficar com as acções dos clientes, o que a tornaria “dona” do BCP. A alternativa foi renegociar. Mas é estranho que, tendo a Caixa todo o poder, tenha entregue a faca e o queijo ao esfomeado. Aceitou-se como garantia tudo e um par de botas, deram-se carências de capital e de juros (!) e assim se salvaram grandes fortunas falidas do País.

O caso roça o inacreditável no acordo entre a Caixa e Manuel Fino, revelado por este jornal na segunda-feira: o empresário entregou quase 10% da Cimpor à Caixa, mas as cláusulas leoninas foram a seu favor. A Caixa pagou mais 25% do que as acções valem; não pode vender as acções durante três anos; e Fino pode recomprar as acções, o que significa que foi a Caixa que ficou com o risco: se as acções desvalorizarem, perde; se valorizarem, Fino pode recomprá-las e ficar com o lucro. Não há dúvidas de que Manuel Fino fez um óptimo negócio e de que zelou pelos seus interesses. Assim como a Caixa - zelou pelos interesses de Manuel Fino.” (Pedro Santos Guerreiro, Editorial do Jornal de Negócios)

Se deve dinheiro à Caixa, já sabe.

O melhor que lhe pode acontecer é que seja muito, mas mesmo muito, dinheiro.

Talvez a Caixa lhe dê uma prenda de 64 milhões de euros, como fez com Manuel Fino.

Vale sempre a pena sonhar.



P.S.

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HOJE OS CORONEIS TEM OUTRO NOME?

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NO WAY OUT

Sei hoje que sou pequeno
e não é esse o meu menor mal
mas faço meus os problemas
da gente de beaver canal

Nasci numa aldeia perdida
nestes caminhos de portugal
mas tanto tenho irmãos aqui
como os tenho em beaver canal

Eu a miséria da minha terra
contemplei-a ao natural
enquanto vi no cinema
como se vive em beaver canal

Mais do que a pedra mais do que a árvore
o homem é para mim real
e tanto sofre a dois passos de mim
como sofre em beaver canal

Não há país que não seja meu
em qualquer parte morro pois sou mortal
mas aproveito a força da rima
para dizer que a minha rua é beaver canal

Morra eu dividido aos quatro ventos
seja o legado sentimental
fique no mundo onde ficar
deixo o meu coração a beaver canal

Ruy Belo
Homem de Palavra[s]

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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

PORTUGAL NADA EM DINHEIRO, A CRISE NÃO É PARA TODOS



República:

Programa das comemorações

com 10 M€


O programa das comemorações do centenário da República conta com um orçamento de 10 milhões de euros que serão distribuídos em iniciativas que pretendem uma aproximação dos cidadãos, e sobretudo dos jovens, à política.

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DIÁRIO DIGITAL

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SONETO DA HORA QUIETA

Gordo pastor desse rebanho imenso
e todavia dócil incapaz de um gesto
de rebeldia o Deus Bojudo da Prudência
suas quietas reses mal vigia

Os galhos novos das árvores não acordam
em seus dentes a fúria de roer
seus cascos não conhecem som de rochas
escarpadas nem a vertigem dos barrancos

As mães lhes deram a beber nas frouxas tetas
o pavor do lobo e o goso do remanso
da erva pouca mas ao pé da boca

Enorme o cajado do pastor
é uma árvore de plácidas folhas quietas
à sombra da qual todo o rebanho dorme

Teresa Rita Lopes
Para cantar se calhar

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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

EDIÇÃO DE HOJE DO JORNAL FONTE NOVA


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EDIÇÃO DE AMANHÃ DO ALTO ALENTEJO


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INVENTÁRIO

Há que encostar uma escada para subir. Falta-lhe um degrau.
O que podemos procurar no alto
Senão o que a desordem amontoa?
Há o cheiro a humidade.
O entardecer entra pela casa em lâminas de luz.
As vigas do céu raso estão próximas e o piso está vencido.
Ninguém ousa pôr-se de pé.
Há um velho divã desengonçado.
Há umas ferramentas inúteis.
Ali está a cadeira de rodas do morto.
Há um pé de candeeiro.
Há uma rede de dormir paraguaia, com borlas, a desfiar-se.
Há utensílios e papéis.
Há uma estampa do estado-maior de Aparicio Saravia.
Há um velho grelhador a carvão.
Há um relógio de tempo parado, com o pêndulo partido.
Há uma moldura desdourada, sem tela.
Há um tabuleiro de cartão e umas peças desemparelhadas.
Há uma braseira de dois pés.
Há uma arca de cabedal.
Há um exemplar bolorento do Livro dos Mártires de Foxe, em
[intrincada escrita gótica.
Há uma fotografia que já pode ser de qualquer pessoa.
Há uma pele já gasta que foi de tigre.
Há uma chave que perdeu a sua porta.
O que podemos procurar no alto
Senão o que a desordem amontoa?
Ao esquecimento, às coisas do esquecimento, acabo de erguer
este monumento,
Sem dúvida menos duradouro que o bronze e que se confunde com elas.

Jorge Luis Borges
Rosa Profunda

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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O PRESTIGITADOR ORGANIZA UM ESPECTÁCULO

Há um piano carregado de músicas e um banco
há uma voz baixa, agradável, ao telefone
há retalhos de um roxo muito vivo, bocados de fitas de todas as cores
há pedaços de neve de cristas agudas semelhantes às das cristas de água, no mar
há uma cabeça de mulher coroada com o ouro torrencial da sua magnífica beleza
há o céu muito escuro
há os dois lutadores morenos e impacientes
há novos poetas sábios químicos físicos tirando os guardanapos do pão branco do espaço
há a armada que dança para o imperador detido de pés e mãos no seu palácio
há a minha alegria incomensurável
há o tufão que além disso matou treze pessoas em Kiu-Siu
há funcionários de rosto severo e a fazer perguntas em francês
há a morte dos outros ó minha vida

há um sol esplendente nas coisas

Mário de Cesariny
Manual de Prestidigitação

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domingo, 15 de fevereiro de 2009

DUAS CIDADES, DOIS ESTILOS

O governo esforça-se. Desmultiplica-se em acções para acudir à crise. O elenco de medidas é vasto. Linhas de crédito bonificadas. Apoios às pequenas e médias empresas. Garantias de depósitos bancários, de crédito e de recurso a capitais. Tomadas de posição, pelo Estado, em empresas financeiras e outras. Apoios específicos às empresas exportadoras. E sobretudo investimento público em grandes obras polémicas (o TGV, o aeroporto...), inúteis (mais auto-estradas...) ou necessárias (reparação de escolas e de hospitais...). Cerca de 15.000 empresas terão já beneficiado dos apoios extraordinários. No sector social, o Governo está também activo e, aparentemente, generoso. Apoios à criação ou manutenção de emprego. Alargamento das condições de atribuição do subsídio de desemprego. E ajudas aos lares de idosos e às famílias com carências especiais. É possível que haja intenções políticas próprias do ano eleitoral. A estridência paralela (Tirar aos ricos para distribuir à classe média...) é demagógica e mancha a folha de serviços. Mas o esforço é real. Perante uma assembleia da Associação Nacional de Empresas Familiares, o secretário de Estado Castro Guerra, académico reputado e ponderado, enumerou, factualmente, sem oportunismo eleitoral, as medidas tomadas e os esquemas disponíveis para quem queira obter apoios e combater a crise.

A mera lista é impressionante. Mas sobram dúvidas. O Estado vem, mais uma vez, para ficar? A dependência das empresas e da sociedade civil aumenta? As escolhas de programas e de empresas foram as melhores? Todos os que merecem têm oportunidades iguais? Há sectores e empresas esquecidos? Os recursos são suficientes? Há fundos disponíveis e não utilizados? Estas medidas têm resultados a prazo, no futuro, ou limitam-se a adiar mortes certas? Há maneira de saber se os apoios são realmente aproveitados e não são desviados? Temos a certeza de que uma parte destes recursos não é simplesmente apropriada pelos predadores habituais? O que já está comprometido com a banca é perdido, recuperável, fértil, útil? Os investimentos públicos estão pensados da melhor maneira, com horizonte de médio e longo prazo? Ou é a corrida habitual atrás de pressões e de votos? Todo este esforço tem como principal objectivo mudar e transformar ou manter e preservar? As empresas ajudadas têm capacidade, inteligência, estratégia, vontade e condições para aproveitar os apoios e dar a volta? Vale a pena aumentar consideravelmente o défice público? Está alguém a pensar que tudo isto merece uma estratégia ou trata-se de acudir a fogos de modo indiscriminado? Aquele não era talvez o lugar para responder e esclarecer. Quanto mais não fosse, os empresários falam pouco. Não correm riscos. Não querem ficar sujeitos a represálias do governo. Não gostam de desvendar os seus problemas nem os seus segredos. Os economistas também não falam muito. Muitos dependem do governo. Uns ficam-se pelas teorias académicas. Outros são simples crentes de um qualquer paradigma e não perdem tempo com a análise empírica. E quase todos revelam uma imperial indiferença perante a urgente tarefa de esclarecer, com clareza, a população.

Por estas razões, o Parlamento é o local ideal para discutir e perceber. Nesse mesmo dia, a televisão relatava em directo, a partir da Assembleia da República, o debate sobre as questões económicas e, por inevitável consequência, o pacote de medidas tomadas pelo governo. O que se viu era confrangedor. De envergonhar qualquer cidadão. Governo e partidos esganiçavam e berravam, insultavam-se mutuamente, acusavam-se das piores selvajarias. Ninguém estava interessado em convencer ou esclarecer, fundamentar ou simplesmente reflectir. Todos se acham titulares de uma bula para dizer disparates e de uma dispensa de pensar. A menor das preocupações era a de pensar que a população poderia estar à escuta e a tentar perceber. Nem um só deputado, num total de 230, pensou em fazer um apelo ao entendimento, à cooperação entre alguns partidos, à convergência de esforços para encontrar soluções. Não se trata de esperar pela união nacional, mas muito seriamente de cooperar com vista a resolver alguns problemas causados pela maior crise económica e social das últimas décadas. Aqueles deputados têm os mesmos reflexos, os mesmos comportamentos e a mesma visão do mundo que um bando de hooligans em claques de futebol.

Ali ao lado, com um clique de televisão, tínhamos a possibilidade de ver o canal que transmitia o debate, no Senado americano, sobre o mesmo problema: ajuda e apoio à economia, programas sociais, intervenção colossal do Estado e políticas sociais de emergência. Os senadores falavam devagar, com razão, defendiam os seus pontos de vista, argumentavam. Tratavam-se delicadamente, com cerimónia. Diziam por vezes frases de enorme violência no conteúdo, nunca na forma. Mostravam que faziam um esforço para chegar a um qualquer ponto de cooperação. Aprovaram um pacote com 65 por cento dos votos. De ambos os lados, do sim e do não, havia democratas e republicanos. Ali, vota-se por nome e por Estado, não por partido, em bloco. Após dias ou semanas de intenso trabalho conjunto, conseguiram chegar a acordos suficientes para que as medidas e os dinheiros tenham uma qualquer eficácia. A legitimidade e a autoridade dos programas de emergência estavam assim garantidas. Ficámos a perceber mil vezes melhor a natureza, o alcance, o sentido e os objectivos das medidas americanas do que o programa português.

Um último ponto. Na assembleia de empresários acima referida, chegado o período de debate, alguém perguntou: Em vez de pagar milhares de milhões com apoios às empresas, não seria melhor política o governo pagar as suas dívidas? O secretário de Estado respondeu: O Estado deve-lhe alguma coisa? O empresário disse: Por acaso, sim, mas não é esse o ponto. Quero é discutir a política geral. À bruta, cruamente, o governante retorquiu: Faça-me chegar ao gabinete o seu caso pessoal e logo se resolverá.
Assim não, senhor secretário de Estado.

António Barreto
Público
15 de Fevereiro de 2009

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QUE TODA A PALAVRA

Que toda palavra

nasça
da ação e da meditação.
Sem ação
ou tendência à ação
ela será apenas teoria
que se juntará
ao excesso de teoria
que está levando os jovens
ao desespero.
Se ela é apenas ação
sem meditação
ela acabará no ativismo
sem fundamento,
sem conteúdo,
sem força...
Presta honras ao Verbo eterno
servindo-te da palavra
de forma
a recriar o mundo.


D.Hélder da Câmara
O Deserto é Fértil

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sábado, 14 de fevereiro de 2009

O ROBIN DOS TOLOS

Basta ter lido esse livro sumptuoso que é Memórias de Adriano para perceber que o amor entre duas pessoas não é um exclusivo de heterossexuais. E então, se a simples boa-fé manda reconhecer a mesma dignidade aos sentimentos amorosos independentemente da orientação sexual, não há razão de direito para lhes recusar idêntica legitimidade perante as leis civis de que gozam as uniões heterossexuais. Reconhecer isto não implica nem concordância nem sequer a aceitação como coisa natural do casamento entre homossexuais — implica apenas a aceitação da sua legitimidade. A minha regra é simples: desde que não interfira com direitos alheios, não podemos proibir tudo aquilo com que não concordamos ou não praticamos. Mas compreendo que outros pensem diferente e seguramente que acho completamente legítimo que a Igreja Católica milite activamente contra esta doutrina.

Porém, a forma como José Sócrates apresentou o casamento entre homossexuais como tema de campanha eleitoral, reclamando um estatuto de ‘esquerda fracturante’ e ‘vanguardista’, é simplesmente pornográfica. Tem que ver apenas com a necessidade de se precaver à esquerda da ameaça de Manuel Alegre e do BE, com considerações de oportunismo eleitoral, e com a vantagem adicional de distrair as atenções dos tolos e, em particular, dessa tribo invertebrada do aparelho socialista.

O mesmo se diga da eutanásia, já também insinuada como novo tema ‘fracturante’ e igualmente propício a desviar atenções perante o terramoto que se anuncia. O “Titanic” afunda-se e a orquestra socialista vai tocando. Por cada novo desastre em perspectiva, por cada nova notícia negra, o PS e Sócrates avançam com novo tema ‘fracturante’ e nova ideia de ‘esquerda’, sem nenhuma réstia de decoro ou de tratamento digno perante assuntos como o casamento entre homossexuais ou a eutanásia, assim criando o pior clima possível para a discussão pública que se impõe. Esta é a forma de fazer política que eu mais desprezo. A que não tem verdadeiras convicções, mas apenas oportunidades, a que vomita demagogia para cima de assuntos sérios. Foi assim que se perdeu o primeiro referendo sobre a despenalização da aborto: não porque a maioria fosse contra, mas porque se sentiu abusada pela forma como a questão foi lançada na arena política.

Agora, chegou a vez da campanha contra os ‘ricos’, com a qual José Sócrates espera tocar a reunir toda a esquerda em volta deste seu Robin Hood — o mesmo, o mesmíssimo, que andou e anda a usar o dinheiro de quem trabalha e paga impostos para proporcionar os grandes negócios dos escandalosamente ricos, através de sucessivas empreitadas de obras públicas, algumas inúteis, quase todas ruinosas. Não incomoda o socialista José Sócrates que a Caixa Geral de Depósitos, o banco público, tenha andado a financiar com centenas de milhões de euros operações de pura especulação bolsista e agora, não conseguindo cobrar os créditos, poupe o património pessoal dos devedores (como não faz a quem se tenha endividado para comprar um T1) e lhes dê condições de renegociação da dívida que são um privilégio escandaloso. Não incomoda o socialista José Sócrates que o seu ministro Mário Lino gaste meio milhão de euros em festas de inauguração de cada novo troço de auto-estrada. Não incomoda o socialista José Sócrates que os dinheiros públicos sirvam para acorrer ao salvamento de negócios bancários irresponsáveis e inviáveis, como o BPP ou o BPN, em lugar de os deixar afundar, como, além de mais, o exigia a credibilidade do mercado. Não incomoda o socialista José Sócrates que o que resta do património natural ainda preservado do país seja vandalizado ao abrigo dos projectos PIN e com a chancela de interesse público dada pelo Governo. Não. O que incomoda o socialista José Sócrates é que os ‘ricos’, como ele lhes chama (isto é, a ínfima minoria que declara os seus rendimentos e paga 42% de IRS, em lugar de criar empresas fictícias para lá enfiar despesas pessoais ou abrir contas em offshores estrangeiras), possam deduzir com a saúde ou a educação as quantias que o próprio Governo definiu como razoáveis. Vai, pois, conforme anunciou, subir ainda mais o IRS para quem mais paga e cumpre, para o ‘redistribuir’ pela ‘classe média’ — contas feitas, e se alguma vez devolver dinheiro a alguém, parece que caberão quatro euros a cada representante da ‘classe média’. Eis o socialismo, tal como José Sócrates acaba de descobrir. Dá vontade de ir pagar impostos para outro lado...

Acredito que nem José Sócrates nem Teixeira dos Santos imaginaram que a bola de neve que começou a rolar suavemente há um ano pudesse degenerar na avalancha que agora nos engoliu. Nisso, estiveram, aliás, acompanhados por todos os dirigentes políticos e gurus económicos do planeta inteiro. Mas quando se tornou evidente, aí há uns quatro meses, que o vendaval originado nos Estados Unidos iria varrer tudo, o PM e o ministro das Finanças perderam o controlo emocional da situação. O aval do Estado dado às operações de refinanciamento da banca foi uma medida adequada, feita sob pressão imediata. Mas o auxílio pressuroso e não ponderado ao BPN e depois ao BPP foi um tiro monumental no pé. A menos que ocorra um milagre não previsto nos livros, o que vai acontecer é que o Estado gastou uma fortuna irrecuperável para tentar salvar o que não tinha nem merecia ter salvação possível. Mas não foi apenas como medida financeira que essa decisão se revela, a cada dia que passa, desastrosa. Foi o exemplo que ficou, uma espécie de pecado original sem remissão possível: perante uma crise cuja principal causa foi a ganância e a a irresponsabilidade de alguns banqueiros, o Governo, em lugar de aproveitar para seleccionar logo o trigo do joio, preferiu jogar o dinheiro dos contribuintes para tapar provisoriamente buracos de negócios de vão de escada. E agora, como é óbvio, todos se sentem no direito de reclamar que ele acorra a tudo, ao que presta e ao que não presta, ao que tem viabilidade e ao que não tem.

Prisioneiro político desta tremenda asneira inicial, sinto que o Governo navega à vista, enfrentando a crise sem bússola e sem rumo. Incapaz de pensar, marra em frente, recusando-se a arrepiar ou alterar caminho no que quer que seja — como nos faraónicos e inúteis projectos de obras públicas com que entusiasticamente nos ameaça. Confunde a dúvida legítima com a hesitação e teme o preço político a pagar se der sinais de indecisão. Visivelmente nervoso e tenso, Sócrates não quer reflectir nem ser contrariado. Abre a televisão e vê todos os dias centenas de novos desempregados desesperados, vê as imagens chocantes dos milhares de sobreiros (um dos verdadeiros clusters de futuro da nossa economia), derrubados para a urbanização do Vale da Rosa, em Setúbal (viabilizada por despacho do próprio Sócrates, quando ministro do Ambiente), e concluí pela fuga em frente. Acredita que o eleitorado interiorizou que a culpa da crise é da direita dos negócios e vai ser preciso um salvador vindo da esquerda. Ei-lo.

Se não pode impedir o crescimento do desemprego, se não quis e não quer enfrentar o poder do grande capital, resta ao socialista Sócrates rapar no caldeirão da demagogia: eutanásia, casamento de homossexuais, Robin Hood fiscal, e, para acabar, senhoras e senhores, tomem lá outra vez com a ameaça da Regionalização — essa medida ‘socialista’ tão cara ao aparelho do PS.

Eu penso que José Sócrates está a ver mal as coisas: os portugueses têm muitos defeitos, mas nunca foram politicamente tolos

Miguel Sousa Tavares
Expresso
14 de Fevereiro de 2009

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TODAS AS CARTAS DE AMOR



Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)


Álvaro de Campos
21 de Outubro de 1935

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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

EDIÇÃO DE HOJE/AMANHÃ DO JORNAL FONTE NOVA


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ALDRABÃO, ASSIM ...


Há dias, no encontro para preparação do Congresso de aclamação de líder, propôs uma ideia peregrina: tirar aos ricos, para dar à classe média e aos pobres.

A ideia ficou no ar e ontem, pousou como cisco em cima de espelho: viu-se que era ideia aldrabada.

Afinal vai tirar outra vez à classe média para dar aos ricos, sob variadas formas, incluindo ajudas aos bancos.

Hoje, o Correio da Manhã, mostra-lhe a careca da aldrabice, na primeira página: o que o indivíduo pretende, ainda vai mais longe: aumentar os impostos, mais uma vez.

Mas só para o ano que este, é perigoso: há vários actos eleitorais.

Este ano, fica só a promessa aldrabada de tirar aos ricos para dar aos pobres.

Aldrabão assim...

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UNICAMENTE POR CAUSA DA DESORDEM CRESCENTE

Unicamente por causa da desordem crescente
Nas nossas cidades com as suas lutas de classes
Alguns de nós nestes anos decidimos
Não mais falar dos grandes portos, da neve nos telhados, das mulheres,
Do perfume das maçãs maduras na despensa, das impressões da carne,
De tudo o que faz o homem redondo e humano, mas
Falar só da desordem
E portanto, ser parciais, secos, enfronhados nos negócios
Da política, e no árido e «indigno» vocabulário
Da economia dialética,
Para que esta terrível pesada promiscuidade
Das quedas da neve (elas não são só frias, nós bem o sabemos),
Da exploração, da tentação da carne e da justiça de classes,
Não nos leve à aceitação deste mundo tão diverso
Nem ao prazer das contradições de uma vida tão sangrenta.

Vocês entendem.


Bertolt Brecht
Poemas

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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

CONTEMPLAÇÃO

Sonho de olhos abertos, caminhando
Não entre as formas já e as aparências,
Mas vendo a face imóvel das essências,
Entre ideias e espíritos pairando...

Que é o mundo ante mim? fumo ondeando,
Visões sem ser, fragmentos de existências...
Uma névoa de enganos e impotências
Sobre vácuo insondável rastejando...

E d'entre a névoa e a sombra universais
Só me chega um murmúrio, feito de ais...
É a queixa, o profundíssimo gemido

Das cousas, que procuram cegamente
Na sua noite e dolorosamente
Outra luz, outro fim só pressentido...

Antero de Quental
Sonetos Completos

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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

2007/2013 - DOIS ANOS DE ATRASO?

INALENTEJO - Abertas candidaturas

No âmbito do INALENTEJO - Programa Operacional Regional do Alentejo 2007/20013, encontram-se abertas, mediante concurso, as candidaturas a várias tipologias, nomeadamente Gestão Activa de Espaços Protegidos e Classificados, Prevenção e Gestão de Riscos Naturais e Tecnológicos-Acções Imateriais, Prevenção e Gestão de Riscos Naturais e Tecnológicos-Acções Materiais e Requalificação da Rede Escolar de 1º Ciclo do Ensino Básico e da Educação Pré-Escolar.

As candidaturas decorrem até às 17 horas, do dia 31 de Março de 2009 e deverão ser submetidas pela Internet, através de formulário electrónico disponível no sítio da Autoridade de Gestão do INALENTEJO, em www.ccdr-a.gov.pt/poaqren.

A tipologia da gestão activa de espaços protegidos e classificados tem disponíveis dois milhões de euros, enquanto que a requalificação da rede escolar de 1º ciclo do ensino básico e da educação pré-escolar conta com uma dotação orçamental de 2,4 milhões de euros. Já a prevenção e gestão de riscos naturais e tecnológicos envolve, para acções imateriais, 750 mil euros, atingindo um milhão de euros as acções materiais.

Jornal Fonte Nova
Edição nº 1625
Terça-feira, 10 de Fevereiro de 2009



Já sabemos que por aqui o tempo anda devagar...

Mas dois anos de atraso.


PORRA

É

TEMPO

DEMAIS!

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EDIÇÃO DE HOJE DO ALTO ALENTEJO


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EDIÇÃO DE ONTEM DO FONTE NOVA


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SONETO MARTELADO

A tarde, e por de mais calma,
Afogou-me o que ficara da partida
Tudo me inventara, essa mentira querida
Que ficara fazendo as vezes da alma.
Passa e segue a triste gente calada
E o correio e a luz quebrada no muro
Trazem a tarde, recortando duro
O perfil triste e morno desta minha estrada
E choca e vem de mim até ao céu polido
Sobre mim e a rua desolada,
Uma ilusão que nada tem de alada
E é feita de aço puro e diamantes:
Não querer tornar-me no que era dantes.


José Blanc de Portugal
Parva Naturalia

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terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

NAU PRETA

Porque nada parece querer dizer
O nada que alguma coisa sempre diz,
É que, chegada a hora de morrer,
Muito pouco foi tudo o que se quis.

Muito, não digo, o que havia a fazer,
Disse-o ele, aliás, com ar quase feliz,
E, acrescentou, enfim, pra se saber:
Fumar a vida eis o que, na vida, fiz!

Fumador, fumador por profissão
De tabaco d'enrolar, assim, sem pressa,
Comprado em quiosque de estação,

À mesa do café, antes que esqueça,
Tabaco louro que, por qualquer razão,
Fica em cinza nos dedos, isso qu'interessa!

Vergílio Alberto Vieira
A Arte de Perder

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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

ISTO TAMBÉM É CAMPANHA NEGRA!

Armando António Martins Vara










Dados pessoais:

Data de nascimento: 27 de Março de 1954

Naturalidade: Vinhais - Bragança
Nacionalidade: Portuguesa
Cargo: Vice-Presidente do Conselho de Administração Executivo
Início de Funções: 16 de Janeiro de 2008

Mandato em Curso: 2008/2010
Formação e experiência Académica:
2005 - Licenciatura em Relações Internacionais (UNI)
Com 56 anos só é licenciado há 4!!!

E entretanto já foi isto tudo - apenas com o 7º ano do liceu (ou se calhar com o 5º, ou com o 2º do ciclo! Sabe-se lá...):

2001/2005 - Director e Director Coordenador na Caixa Geral de Depósitos, SA


Setembro 2000/Dezembro 2000 - Ministro da Juventude e do Desporto do XIV Governo Constitucional


Outubro 1999/Setembro 2000 - Ministro-Adjunto do Primeiro Ministro do XIV Governo Constitucional

1997/1999 - Secretário de Estado Adjunto da Administração Interna XIII Governo Constitucional


1995/1997 - Secretário de Estado da A
dministração Interna XIII Governo Constitucional

Deputado à Assembleia da República nas IV, V, VI e VII Legislaturas

Vice-Presidente das Comissões Parlamentares de Equipamento Social e de Juventude


1987/1991 - Membro da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa


Agora melhor:
2004 - Pós-Graduação em Gestão Empresarial (ISCTE)
http://www.millenniumbcp.pt/pubs/pt/grupobcp/quemsomos
/orgaossociais//article.jhtml?articleID=217516

Clique nas imagens para ver o CV do
VIGARISTA

Extraordinário...

CV de fazer inveja a qualquer gestor de topo, que nunca tenha perdido tempo em tachos e no PS!
Conseguiu tirar uma Pós-graduação ANTES da licenciatura...


Ou a pós-graduação não era pós-graduação ou foi tirada com o mesmo professor da licenciatura, dele e do amigo, José Sócrates...


J.T.

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ESTÁ BEM... FAÇAMOS DE CONTA

Façamos de conta que nada aconteceu no Freeport. Que não houve invulgaridades no processo de licenciamento e que despachos ministeriais a três dias do fim de um governo são coisa normal. Que não houve tios e primos a falar para sobrinhas e sobrinhos e a referir montantes de milhões (contos, libras, euros?). Façamos de conta que a Universidade que licenciou José Sócrates não está fechada no meio de um caso de polícia com arguidos e tudo.

Façamos de conta que José Sócrates sabe mesmo falar Inglês. Façamos de conta que é de aceitar a tese do professor Freitas do Amaral de que, pelo que sabe, no Freeport está tudo bem e é em termos quid juris irrepreensível. Façamos de conta que aceitamos o mestrado em Gestão com que na mesma entrevista Freitas do Amaral distinguiu o primeiro-ministro e façamos de conta que não é absurdo colocá-lo numa das melhores posições no Mundo para enfrentar a crise devido aos prodígios académicos que Freitas do Amaral lhe reconheceu. Façamos de conta que, como o afirma o professor Correia de Campos, tudo isto não passa de uma invenção dos média. Façamos de conta que o Magalhães é a sério e que nunca houve alunos/figurantes contratados para encenar acções de propaganda do Governo sobre a educação. Façamos de conta que a OCDE se pronunciou sobre a educação em Portugal considerando-a do melhor que há no Mundo. Façamos de conta que Jorge Coelho nunca disse que quem se mete com o PS leva. Façamos de conta que Augusto Santos Silva nunca disse que do que gostava mesmo era de (acho que Klaus Barbie disse o mesmo da Esquerda). Façamos de conta que o director do Sol não declarou que teve pressões e ameaças de represálias económicas se publicasse reportagens sobre o Freeport. Façamos de conta que o ministro da Presidência Pedro Silva Pereira não me telefonou a tentar saber por malhar na Direitaonde é que eu ia começar a entrevista que lhe fiz sobre o Freeport e não me voltou a telefonar pouco antes da entrevista a dizer que queria ser tratado por ministro e sem confianças de natureza pessoal. Façamos de conta que Edmundo Pedro não está preocupado com a falta de liberdade. E Manuel Alegre também. Façamos de conta que não é infinitamente ridículo e perverso comparar o Caso Freeport ao Caso Dreyfus. Façamos de conta que não aconteceu nada com o professor Charrua e que não houve indagações da Polícia antes de manifestações legais de professores. Façamos de conta que é normal a sequência de entrevistas do Ministério Público e são normais e de boa prática democrática as declarações do procurador-geral da República. Façamos de conta que não há SIS. Façamos de conta que o presidente da República não chamou o PGR sobre o Freeport e quando disse que isto era assunto de Estado não queria dizer nada disso. Façamos de conta que esta democracia está a funcionar e votemos. Votemos, já que temos a valsa começada, e o nada há-de acabar-se como todas as coisas. Votemos Chaves, Mugabe, Castro, Eduardo dos Santos, Kabila ou o que quer que seja. Votemos por unanimidade porque de facto não interessa. A continuar assim, é só a fazer de conta que votamos.


Mário Crespo
Jornal de Notícias
9 de Fevereiro de 2009

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