sábado, 31 de janeiro de 2009

"A CAMPANHA NEGRA" - MONEY VS FREEPORT E MUITO MAIS...

O CHUCHALISTA

Não são carne, nem peixe, os chuchalistas,
São vírus parasita do sistema
Que tem no compadrio único lema
E se propaga célere nas listas.

São mestres do disfarce e vigaristas,
De todas as campanhas são o tema,
Poluem um partido, entram no esquema,
Conhecem do poder todas as pistas.

Exímio defensor do capital,
Tem um perfil e pose democrata
Quando prega o amor ao social.

Ó chuchalista fino e de gravata,
Pra pregares aos pobres a moral,
Precisas de ter mesmo muita lata!

Santana-Maia Leonardo
Bocage, meu irmão

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sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

"A CAMPANHA NEGRA" - MONEY VS FREEPORT



E-mails revelam conluio e ‘luvas’


A tal carta rogatória dos bifes que estão insidiosamente a urdir a campanha negra com os seus poderes ocultos foi publicada pelo Expresso.

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PALAVRA

Onde as palavras lisas e límpidas
capazes de transportar
esta quotidiana inquietação
ração diária de gozo e dor?
Onde as palavras purificadas
do lastro do uso das nossas falas mortais?
Não mais na linha do horizonte a Palavra?
Enraizadas no terrunho; carregadas de sonoridade
sujas, enfarinhadas, as palavras senha do nosso falar comum
fabricam o pão alimento, suporte do diálogo impossível.
Só palavras genesíacas, lustrais, abissais,
hão-de revelar e decifrar o verdadeiro nome das coisas?
Que linguagem, miragem do ser e do estar
há-de dizer homem, mundo, amor?
Na linha do horizonte impossível?
a Palavra?
Só no fim dos tempos decifrada?

Maria de Lourdes Belchior
Gramática do Mundo

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quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

TOMADA DE POSIÇÃO DOS PROFESSORES DO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS Nº 1 JOSÉ RÉGIO DE PORTALEGRE

Exma. Sra. Presidente da Comissão Executiva Provisória

Os professores e educadores do Agrupamento nº1 de Escolas de Portalegre, reunidos em assembleia no dia 28 de Janeiro de 2009, reiteram a sua anterior tomada de posição, em plenário de 26 de Novembro, insistindo na suspensão do actual Modelo de Avaliação de Desempenho Docente, que continuam a recusar, não obstante as mais recentes simplificações anunciadas e publicadas pelo Ministério da Educação, por considerarem o seguinte:

A necessidade sentida pelo Governo, na sequência das enormes manifestações de descontentamento levadas a cabo pela quase totalidade da classe docente, de alterações sucessivas do Modelo de Avaliação, mais não é do que um reconhecimento inequívoco da sua inadequação pedagógica e inaplicabilidade.

O modelo em causa não promove a melhoria das práticas, chegando ao ponto de tornar opcional o essencial da profissão docente: a sua componente científico - pedagógica.

As alterações pontuais que foram introduzidas ao Modelo de Avaliação não alteraram, por um lado, a filosofia que lhe está subjacente, nem o tornaram mais exequível, por outro. Este documento insiste em não prever o cariz formativo da avaliação, não promovendo a melhoria das práticas, centrado que está na seriação de professores para efeitos de gestão de carreira. Trata-se, na prática, de mudanças meramente superficiais, nuns casos, e apenas temporárias, noutros.

A exequibilidade do processo está desde logo comprometida pela concentração de competências nos Presidentes dos Conselhos Executivos.

Algumas alterações propostas pelo Governo mantêm o essencial do Modelo, nomeadamente alguns dos aspectos mais contestados, como a divisão da carreira em professores e professores titulares, e a existência de quotas para Excelente e Muito Bom, que, por vedarem a progressão a muitos docentes de elevado profissionalismo, desvirtua assim qualquer perspectiva dos docentes verem reconhecidos os seus efectivos méritos, capacidades e investimento na Carreira.

Outras alterações, como o recuo na consideração das classificações dos alunos e/ou abandono escolar destes, para efeitos de avaliação da prática docente, são meramente conjunturais, tendo sido afirmado que seriam posteriormente retomados, em anos lectivos próximos.

Para mais, consideram que a definição e o cumprimento dos Objectivos Individuais, a cerca de seis meses do final do ano lectivo, sendo que servirão para qualificar o trabalho realizado por um professor nos dois últimos anos, é uma solução precipitada que não preenche os requisitos mínimos de transparência, justiça e honestidade intelectual.

Além destes factores, a implementação do Modelo de Avaliação imposto pelo Governo significa a aceitação tácita do ECD, que promove a divisão artificial da carreira em categorias e que a esmagadora maioria dos docentes contesta.

Acontece que os docentes deste agrupamento não aceitam uma solução apenas porque ela se apresenta aparentemente mais simples e fácil. Pelo contrário, reafirmam que não abdicam do seu direito a ser avaliados na sua prática lectiva e no seu desempenho profissional de forma séria, justa e competente, com respeito pelos princípios de igualdade, equidade e legalidade, de forma a ver reconhecida a sua competência e preservada a sua honra e dignidade profissionais.

Assim, os professores do Agrupamento nº1 de Escolas de Portalegre, coerentes com todas as tomadas de posição que têm assumido ao longo deste processo, reafirmam suspender a sua participação em todos os procedimentos relacionados com a aplicação dos Decretos Regulamentares 2/2008 e 1-A/2009, recusando totalmente a entrega dos seus Objectivos Individuais no prazo estabelecido pelo órgão de gestão, e à semelhança do que tem vindo a suceder em centenas de Escolas e Agrupamentos de escolas, com as quais nos solidarizamos.

Os professores presentes nesta Reunião Geral de Pessoal Docente aprovaram a manutenção da suspensão do processo de Avaliação de Desempenho dos Docentes do Agrupamento de Escolas nº1 de Portalegre, tendo decidido por maioria (escrutínio dos votos por voto secreto) não entregar os Objectivos Individuais.

Os professores deste Agrupamento tomam esta decisão na defesa do seu direito a ser avaliados por um Modelo justo, formativo e que efectivamente promova o mérito científico-pedagógico. Apelam ainda, e pelos motivos anteriormente expostos, a que aconteça o mais brevemente possível um processo de revisão do ECD, eliminando a divisão da carreira em categorias, e que se substitua o actual Modelo de Avaliação por um modelo consensual e pacífico, que se revele exequível, justo e transparente, visando a melhoria do serviço educativo público, a dignificação do trabalho docente, e promovendo assim uma Escola Pública de qualidade.

Portalegre, 28 de Janeiro de 2009

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CESÁRIO FOGE PELOS HERBÁRIOS

Cesário andava pela cidade com plantas
silvestres metidas na cabeça
Irrompiam-lhe nas calçadas no repuxo das fontes
no grito das varinas no trote das patrulhas

Ninguém sabe contudo que em fidelíssimo segredo
deixou outro livro do qual Silva Pinto nada soube
Nem o Caeiro da planta é uma planta é uma planta
que se apanhasse fechava-o à chave na arca

para girândolas futuras dos casmurros das Universidades
Mas nada de suspense O livro é apenas um herbário
todo rechonchudo de coisas trivialíssimas
como a receita para lavar manchas de amora nos bigodes

ou de como arrancar sem dor cucos de tojo que um dia
lhe pegaram uma coceira dos infernos Depois há folhas
e folhas amarelecidas de chuvas-de-oiro mongaricas
urzes torgas estevas-dos-saloios sarças

alecrins alfenas lentiscos e loendros
Um nunca acabar Ao lado de um esparto
a nota: tenho o pulso como um cajado de pastor
e meus dedos amadurecidos como um céu de Verão

Assim se sentimentaliza um ocidental
Confiar como? Se quando menos se precata
salta ou voa sobre a Dor humana
e as marés de fel como um sinistro mar?

Folhear o herbário é vê-lo como abria as portas
A toda a moscaria É vê-lo esquecer-se da Cólera
E da Febre Ver como deixava que a terra lhe marinhasse
Como um vinho de fogo pelo exangue corpo acima

E ver isso é bom Admirar-lhe os ouvidos
encostados ao sol à escuta que os estames
e pistilos se pusessem a ferver O pólen
a descer o corrimão da luz até cobrir de um certo oiro

a sombra pisada da sua melancolia O vinho
a espirrar numa chuva muda de palavras
Coisa estranha: o cântico de um homem
expresso em folhas secas caules flores

breves notas num herbário como: é meu irmão
o entrecasco de sobro bom para a taninagem
As maçãs de espelho não andam bem empapeladas
Fica-lhes mal o verde e a serradura

Alexandre Pinheiro Torres
O Ressentimento dum Ocidental

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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

E AGORA JOSÉ?

À VIRGEM DA LAPA

A esta lapa vimos, Virgem Santa,
Humildes, e devotos peregrinos.
Que os olhos sejam de te ver indinos,
ver o que o mundo todo alegra e espanta,

e que a pureza em nós seja tanta,
tua graça nos fará, Senhora, dinos
de ouvires nossos versos, nossos hinos,
que cada alma fiel te ofrece, e canta.

Grandes são teus poderes, tuas grandezas,
Novos sinais, Senhora, não esperamos:
despois de Deus, de ti tudo mais cremos.

Alimpa em nossas almas suas torpezas;
desfaze as névoas, com que nos cegamos;
e estes grandes milagres cantaremos.

António Ferreira
Poemas Lusitanos

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terça-feira, 27 de janeiro de 2009

DO CORREIO...

A propósito deste post :

ATENDIMENTO NO MUNICÍPIO DE PORTALEGRE

Há uns dias fui tratar de uns assuntos simples ao município de Portalegre.
Pensava eu que eram assuntos simples mas afinal fiquei chocado com o que se passa naquele serviço de atendimento.
Depois de um longo período de espera... e quando digo longo foi longo mesmo longo, lá fui chamado por uma miúda simpática e esforçada mas que não me conseguiu resolver o problema.
Pedi para falar com a responsável (o tempo a passar) e lá apareceu uma menina um pouco mais velha que me chamou tudo e mais alguma coisa, até me mandou calar.
Indignado com tal falta de educação pedi de imediato para falar com o chefe dela.
Foi-me apresentada uma suposta chefe de divisão de aspecto jovem e pelos vistos com poucos neurónios e quanto mais subia na hierarquia mais baixo era o nível.
Deixei uma Sugestão/Reclamação num formulário próprio mas com poucas linhas que me foi dado pela chefe de divisão de uma forma bastante arrogante.
Soube depois em conversa de café que as sugestões que não agradam vão directamente para o lixo.
Tudo isto me deixa indignado e profundamente chocado porque eu ainda sou do tempo em que havia respeito pelas pessoas, principalmente pelas pessoas mais velhas.
Hoje em dia tudo isto se perdeu e é muito triste ver o eng. Mata Cáceres (em que eu votei mas não volto a votar) nomear pessoas destas para estarem a frente dos serviços.
Portalegre merece um bocadinho mais e melhor.
António Silva

Recebemos o seguinte e-mail:

Boa noite
Senhor(a) Administrador(a) do
Blogue “Em Portalegre Cidade do Alto Alentejo”

Sendo eu a Chefe de Divisão do Serviço de Atendimento do Município de Portalegre e tendo sido alertada para o facto de no blogue “Em Portalegre Cidade do Alto Alentejo” se encontrar uma notícia intitulada “Atendimento no Município de Portalegre”, relativa ao Serviço de Atendimento e supostamente enviada por alguém de nome António Silva, verifiquei, como é minha obrigação, se a mesma tinha algum fundamento, uma vez que a situação descrita não se passou nem comigo, nem com a responsável do respectivo Serviço (esta notícia encontra-se ainda com natureza de comentário na notícia intitulada “Os melhores do mundo e os piores, onde constam, também, outros comentários depreciativos). A notícia em questão é falsa e de tal facto posso fazer prova judicialmente, uma vez que não foi registado no Município nenhum atendimento em nome de António Silva, nem o mesmo fez qualquer reclamação por escrito, nem nos boletins de sugestões, nem como deveria ter sido o caso, se fosse verdadeiro, no livro de reclamações disponível para o efeito.

Há cerca de 1 semana atrás apareceu um comentário a meu respeito no blogue “Em Portalegre Cidade”, de carácter ofensivo e depreciativo, verificando agora que não foi um caso isolado, uma vez que aparece, também, esta notícia no vosso blogue, com comentários directos à minha pessoa, sendo que alguns referem expressamente o meu nome.

Na minha opinião, ambos os comentários foram colocados pela(s) mesma(s) pessoa(s).
Tenho pena que as pessoas usem os blogues para estes fins e não para debater ideias, formular opiniões ou relatar situações menos correctas, mas que sejam verdadeiras.

Entendendo os blogues como espaços de cidadania, especialmente numa situação como essa em que o tema de fundo consiste na vida de uma cidade, da nossa cidade, não me parece correcto que se aceite este espaço como um local onde se dê guarida a calúnias e vazão à expressão de frustrações de uma forma ofensiva para com os visados.

Embora aceite que as pessoas pensem e sintam o que muito bem entenderem, em face do exposto, solicito que seja eliminada do blogue a notícia em questão e os respectivos comentários (constantes nas duas notícias referidas), pois, para além de falsos, são ofensivos, não só para mim, como para as minhas colegas que trabalham no Serviço de Atendimento e para a própria Câmara Municipal.

O caminho escolhido pela pessoa ou pessoas que me estão a “atacar” é sem dúvida o mais fácil, uma vez que se escondem atrás do anonimato, próprio dos covardes, medíocres, mesquinhos e mal formados, pelo que irei apresentar queixa nos serviços do Ministério Público, do Tribunal Judicial de Portalegre.

Ao seu inteiro dispor para qualquer informação de que necessite, apresento os meus cumprimentos.



Teresa Narciso

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EDIÇÃO DE AMANHÃ DO ALTO ALENTEJO


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EDIÇÃO DE HOJE DO FONTE NOVA


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SALAZAR E A POESIA

(O Salazar morreu e vai hoje a enterrar: «O velho abutre é sábio e alisa as suas penas. / A podridão lhe agrada e seus discursos / têm o dom de tornar as almas mais pequenas» Sophia de Mello Breyner)


A morte dantes era tecida por aranhas de crepes,
necessidade de haver corvos e flores,
solidão exportada para criptas de trevas.

Claro, os tiranos também morrem como nós,
na mesma cera estendida à espera de haver asas
e liberdade nos abismos.

Mas parecem diferentes quando passam como hoje
em cortejos de longos véus de vento e luto
onde só faltam tochas humanas nos passeios para aquecerem a pompa.

Também às vezes acendem os candeeiros nas ruas
para ofuscarem o sol com tules negros
do tamanho de haver sempre noite no planeta.

Nestas ocasiões, os jornais vestem-se de noite
põem as primeiras páginas ao serviço das caveiras,
batem adjectivos nos tambores do papel.

E então principia a raiz solene
da estátua oficial necessária
por subscrição dos Bancos que arrecadam nos cofres montes de mãos suadas.

Depois emitem-se selos para concluir o equilíbrio das pedras
com argamassa de suor alugado
para o morto de bronze, lá em cima, fingir de cristal.

Mas que é isto? De súbito a marcha fúnebre da Heróica volta-se do avesso
com ouro nos trombones em festa
brilhantes de tão esfregados pela pomada Ódio.

E o povo não chora... Que se passa? Guardaram as lágrimas para os filhos presos?
Depressa! Tragam baldes de água podre para encher os olhos desta gente.
E tirem as crianças dos ombros dos pais, para não avistarem o futuro.

Proíbam esta alegria lúgubre de quando a vida parecia só do outro lado
e os homens em redor das aras das clareiras
devoravam a carne dos cavalos de crinas incendiadas

abatidos por Sacerdotes com cutelos de lâminas de sangue
que lhes decepavam as patas para os convivas rituais
beberam a magia vermelha dos Quatro Jorros.

Nesse tempo, morrer não era apenas o peso horizontal do pesadelo,
mas voo, continuação da vida no vinho das ânforas fúnebres
quando os corações mastigados sabiam ao centro do mundo.

Hoje as libações combinam-se pelo telefone,
saboreia-se de boca em boca o entusiasmo de existir a morte
para dançarmos a embriaguez da liberdade em segredo.

Escrevem-se datas nas rolhas do champanhe votivo
que todos tínhamos guardado nas caves
para beber neste grande Dia da Cova Aberta,

em que ninguém consegue esconder a volúpia da sede.
E até eu vou agora erguer, como os outros, a taça negra
- feliz por não ter de obedecer mais a Sua Alteza, o Devorador de pequeninos sóis.

Sua Alteza, que tornou esta pátria mais pequena do que é.
E não somente a Pátria. O Inferno, o Céu, a hora da Morte, a Agonia,
Deus, o Sol, a Lua, a Revolução, as almas, a Fé.

Não é verdade, Sophia?

José Gomes Ferreira
Maio-Abril 1968-1975
Poeta Militante - 3.º volume

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domingo, 25 de janeiro de 2009

QUESTÕES DE CLIMA

O clima está insuportável. Não o da chuva e do vento, da neve e do gelo. Para esse, há remédios. Mas o clima espiritual. Moral. Político. Como se lhe queira chamar. A crise financeira, internacional e portuguesa, deixou a nu fragilidades e irregularidades. A crise económica, também internacional e portuguesa, só agora começou e semeia já falências e desemprego, mas sobretudo comportamentos incompreensíveis. A crise institucional, ligada à fraude e à corrupção, associa-se dramaticamente às anteriores. Olha-se em volta, à procura de sinais. De optimismo e esperança, para uns. De castigo e autoridade, para outros. Não se vêem. Ou vêem-se mal. Todos se viram para o último reduto, o da justiça, aquele que nem sequer durante a revolução, por pudor ou receio, foi assaltado ou reformado. A expectativa não é satisfeita. A justiça não é pronta. Não é eficaz. Não parece isenta. Não mostra pertencer ao seu povo. Foge ao escrutínio. A sua autogestão sobrepôs-se à sua independência. O reconforto que deveria oferecer aos cidadãos não vem dali. Não se vive sem castigo ou recompensa, vegeta-se e faz-se pela vida. A qualquer preço.

As empresas que abrem falência sucedem-se a ritmo preocupante. Para algumas, os processos de ajustamento são desconhecidos. Os esclarecimentos dados aos trabalhadores são diminutos. De repente, quase sem aviso, são centenas ou milhares de empregos perdidos. E de vidas interrompidas. Pressentiam-se as dificuldades? Tentaram-se acordos de emergência? Procurou salvar-se alguma coisa? Nada. Não havia possibilidades de remediar? De ir contraindo? Será a eterna culpa da lei laboral? Ou simplesmente a certeza de que mais vale assim, bruscamente, à procura dos adiamentos e da pusilanimidade da justiça económica que nada resolve a tempo? Poderá também ser a lei da vida e do mercado. Mas nada permite compreender uns energúmenos que, de noite, furtivamente, fecham as fábricas, deslocam as máquinas e desaparecem. E a ninguém prestam contas, enquanto se preparam para mais um projecto, daqueles que têm subsídio europeu. De madrugada, quando os trabalhadores se apresentam ao serviço, estacam diante de portas fechadas. Sem explicação. Sem conversa. Ficam à chuva, à espera de instituições e de justiça que tardam. Há quem diga que é fita para a televisão. A verdade que essa é parte do problema. Temos olhos cansados, habituámo-nos a tudo, à miséria e à fraude, à corrupção e ao despotismo. A televisão, predadora de sentimentos, mostra imagens até à fadiga, à insensibilidade. Não se acredita, nem se vê o sofrimento dos outros, para não incomodar as nossas certezas ou para não revelar a nossa insegurança.

Quase sem distinção, surgem novos processos de fraude ou de corrupção. Já não lhe conhecemos os nomes ou as designações. Há bancos que estão em vários, do furacão aos off shores, das facturas ao apito, da contabilidade paralela ao favoritismo, passando pela promiscuidade. Há gente que acumula irregularidades. Que todos conhecem, menos as entidades ditas reguladoras e a justiça. Ou, pior ainda, que talvez as entidades reguladoras e a justiça também conheçam. Com a crise financeira, a vulnerabilidade da economia nacional e do sistema bancário surgiram ao grande dia. Mas também a complacência dos banqueiros, na concessão de crédito, cuja responsabilidade é tão grande quanto a dos raiderse dos predadores que se vestiram de prestígio social, artístico e politico durante uns anos. O Estado acorre, mostra aflição e exibe compaixão. Mas com que critério vai agir? Na Bordalo Pinheiro, porque é património. E nas fábricas de sapatos, que não têm a sorte de ter um artista à nascença? E nas de componentes para automóveis? Na Qimonda, porque é a maior exportadora nacional. E nas outras tantas que semeiam o país? Como já se sabe que deitar dinheiro para cima não chega, que se faz mais? O crédito dos bancos, mesmo com garantias do Estado, parece reservado aos potentados que já tinham utilizado outros créditos anteriores para golpes financeiros. Que resta? Os processos de falência podem resolver ou aliviar qualquer coisa aos credores e aos trabalhadores? Mas era preciso que a justiça funcionasse, que esses processos fossem resolvidos em tempo devido, em tempo de vida.

Toda a gente espera pelos veredictos da Casa Pia (a qual, verdadeira culpada, nunca foi julgada...), do Apito Dourado, do Furacão, do Bragaparques, dos presidentes dos clubes de futebol, de vários autarcas e agora do Freeport, mas a verdade é que a debilidade da justiça é muito mais vasta e profunda do que esses casos ditos de primeira página. Na justiça de família e dos menores, no penal de todos os dias e na justiça económica e laboral: é aí que toma real dimensão a desorganização, a morosidade e a ineficácia do sistema judicial, de investigação e de instrução. O próprio primeiro-ministro pôs em causa a eficácia e a orientação ou do ministério público ou a de uma certa imprensa com acesso às fugas orientadas. Os processos de políticos, de grandes empresários, de banqueiros, de dirigentes de futebol, eventualmente de autarcas, de artistas e de atletas... não começam ou não chegam ao fim. Ou não se esclarecem. Ou chegam tarde. Ou prescrevem. E entretanto, o criminoso fugiu, o bandido desapareceu, o vigarista recomeçou vida... E os caluniados ficam sem reparação. As vítimas sem compensação. E os trabalhadores sem indemnização. É verdade que há milhares de casos resolvidos. E de processos acabados. Desses, ninguém fala. Mas é certo que o número dos que ficam para trás, dos que não se resolvem e dos que não reparam é excessivo. E suspeito.

Em qualquer dos casos que vem até ao proscénio, os protagonistas não se cansam de repetir que aguardam, com serenidade, que justiça seja feita. Todos afirmam que respeitarão a justiça portuguesa e que nela confiam. Muitos pedem que se faça justiça rapidamente e bem. Até ao fim, dizem. Até às últimas consequências, doa a quem doer, acrescentam. É o que se diz. É lugar-comum obrigatório. Mas a certeza é que ninguém espera com tranquilidade. Nem vítimas, nem culpados. Nem as partes em conflito. As sondagens de opinião, que garantiam aos magistrados, há vinte anos, um lugar invejável na escala do prestígio social, exibem hoje o pessoal da justiça nos últimos lugares, abaixo de jornalistas e advogados. Abaixo de polícias e políticos!
Se tivéssemos uma justiça à altura, toda a crise actual seria mais suportável. Não haveria mais emprego. Mas a sociedade seria mais decente.

António Barreto
Público
25 de Janeiro de 2009

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O QUE DE NAVEGAR SE DESCOBRE

O mar abre as janelas em que
ao romper do dia pousou a noite, a acabar.
Pelas dunas se ergue a febre, nesse inquieto instante,
cavalgam equinócios e marés,
despejando quadrantes, bússolas
e coisas mais de navegar, cartas, mapas e globos,
e tão depressa é tão longe,
mas tão lento é o curso dos naufrágios,
tão próxima a mão que corta os nós
e agreste só serena.
Foi de ventos e tumultos,
gritos, machos e machados,
ora por vezes este amado caminho,
ora por vezes procurando a morte,
ora por vezes amando o que dela se compraz.

Tão alto gritamos que só os pássaros
ouviram; e esses, por vezes, já sabiam.

Helena Carvalhão Buescu
De onde Nascem os Rio

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sábado, 24 de janeiro de 2009

TIOS & SOBRINHOS



Mas nem todos os sobrinhos dos tios são taxistas...



Existe pelo menos um que se faz passar por inocente engenheiro e vítima de perseguição...


L.

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EM MEMÓRIA DA STELLA




Muitas vezes digo aos meus amigos que as peripécias que passei e passo para escrever a biografia de Álvaro Cunhal davam um livro à parte, com todos os ingredientes de um romance entre o LeCarré e uma coisa mais pícara, ou seja, uma combinação quase impossível e muito improvável. Desde início que sabia que a iniciativa seria dificultada pelo próprio Álvaro Cunhal e que este colocaria todos os obstáculos possíveis, ele e o PCP. Sabia também que escrevia no fio de uma navalha muito especial, a de estar a biografar alguém que estava vivo, que era muito hostil à iniciativa (e ao autor) e que podia com muita facilidade desclassificar a seriedade do trabalho. No fundo, a vida era dele e bastava Cunhal dizer que meia dúzia de afirmações eram erradas ou "falsas" para criar uma imagem de falta de rigor. Esta possibilidade era tanto mais real quanto eu escrevia sobre uma história em grande parte por contar, sem fontes secundárias, com fontes primárias de muito complexa interpretação (como as fontes de polícia, ou os arquivos soviéticos), mas em muitos casos sem fontes nenhumas e com escassíssimos testemunhos. Cunhal nunca o fez e soube mais tarde por testemunhos de pessoas que o contactaram nos últimos anos da sua vida, que ele elogiou a biografia que nunca desejara que fosse escrita.

Quando comecei a recolher elementos sobre a sua infância, família, adolescência, e anos de jovem comunista, a matéria do primeiro volume, as pessoas com quem podia falar eram na sua maioria septuagenários e octogenários, com idades próximas ou mais velhos que Cunhal. Tratava-se de seus familiares, companheiros de escola e universidade, amigos pessoais, membros do PCP e da FJCP nos anos 30, amigos e conhecidos da sua família, em particular de seu pai. Cunhal fez o que eu esperava: contactou alguns deles, em particular aqueles que sabiam e podiam contar factos relevantes, pedindo-lhes que não colaborassem. Na maioria dos casos teve sucesso. Ludgero Pinto Basto, que aceitara prestar um testemunho, marcou um encontro em sua casa e quando lá cheguei e toquei à porta ninguém respondeu. Vim mais tarde a saber que Cunhal lhe telefonara. Carolina Loff recusou-se a falar de imediato. E a Stella Piteira Santos Cunhal telefonara a propor-lhe "tomar um chá", apesar de não se falarem há muitos anos. Mas Stella recusou e aceitou falar sobre a sua vida, e testemunhar sobre Cunhal, a sua família, em particular sua mãe, sobre a qual muito pouco se sabia com excepção de um notável episódio relatado por Mário Soares, e sobre todos os factos da sua vida que se interligavam com a de Cunhal, sobre Inácio Fiadeiro, sobre Piteira Santos, sobre Pável, e sobre muitas e muitas histórias, nem todas muito agradáveis, a começar para ela própria. E sabia muito, muito mesmo, da "maledicência" da oposição, histórias e anedotas, aventuras e amores, fidelidades e infidelidades.

Muito disso ficou de fora da biografia de Cunhal, mas ficou registado para que as pessoas dessas décadas de história escondida possam ser mais pessoas, seres humanos com as fragilidades de nós todos e não "heróis" e "traidores" a preto e branco de uma história "oficial". Assim, foi ela a primeira a quebrar com grande coragem e sem temer as críticas que lhe foram feitas uma absurda omertà que protegia a história real do PCP, para manter a ficção da história oficial.

Stella vivera a vida atribulada comum na parte da oposição portuguesa ligada ao PCP, muitas vezes do lado torto, ou seja, de fora mas demasiado perto. Stella acompanhara alguns jovens da sua geração na militância comunista, fazia parte daquelas pessoas de estrita confiança das frágeis direcções dos anos 30, dera "apoio" na dactilografia de actas e sínteses de reuniões do topo do partido, fizera transportes e entregara originais para a imprensa clandestina, participou na fuga de Pável, esteve presa várias vezes, transportou Delgado e, no exílio argelino, foi uma das vozes da Rádio Voz da Liberdade, junto com Manuel Alegre.

Numa altura em que as relações pessoais e familiares acompanhavam de muito próximo o núcleo dirigente do PCP, Stella vivia perto do centro do poder comunista e, como acontece muitas vezes no universo dos partidos comunistas, isso significava uma vida grupal e muita endogamia. O seu primeiro filho era afilhado de Álvaro Cunhal e o seu segundo marido, com quem viveu a maior parte da sua vida e que acompanhou para o exílio, teve uma das biografias mais complicadas na história comunista portuguesa. Quadro intelectual ascendente, dirigente juvenil, membro do comité central, "especialista" dos militares, caiu em desgraça quando tentou aplicar a Portugal as ideias do dirigente americano Browder, fruto das alianças da guerra de 1939-45 e das esperanças de democratização que tinham trazido. Afastado dos seus cargos, depois expulso, mais tarde tratado de "traidor" e hostilizado e isolado pelo PCP em todas as iniciativas político-culturais que fazia, como o jornal Ler, teve direito a alguns dos mais vitriólicos e caluniosos textos dos anos de chumbo do PCP. Stella também não escapou aos anátemas e foi também insultada em idêntica linguagem, que nunca perdoou ao PCP. O mesmo ataque repetiu-se quando do chamado "golpe de Argel", a que se somou o duro conflito com Humberto Delgado. Cunhal veio mais tarde a demarcar-se desses documentos, mas até aos dias de hoje o PCP nunca reparou a memória de Piteira Santos, nem agora a de Stella.

*

A minha admiração, estima e amizade com Stella Piteira Santos, que faleceu anteontem, começou nas conversas em sua casa, num canto junto de um pequeno jardim, diante de um quadro de Avelino Cunhal. Eu levava-lhe figos e limões, livros sobre a Argélia e papéis, alguns sobre ela ou sobre Piteira Santos, que entretanto perdera ou nunca vira, e conversávamos durante horas. Stella era então quase desconhecida do grande público, cheia de história e de estórias, e, embora tivesse uma preciosa agenda com os nomes e números de telefone de tudo o que era gente da oposição até ao MFA, sentia-se muitas vezes sozinha e esquecida. Sentia que o interesse que lhe manifestava e a amizade que se construía lhe fazia uma companhia que lhe faltava.

Nos seus últimos anos, Stella cuidou da memória do seu companheiro Piteira Santos, oferecendo os seus papéis ao Centro 25 de Abril da Universidade de Coimbra e, depois de se conhecer o seu papel na história do PCP através da biografia de Cunhal, deu várias entrevistas e depoimentos, inclusive para a televisão, sobre a sua vida e experiência, saindo do esquecimento a que tinha sido votada. Como todas as pessoas que tinha alguma coisa para dizer, apreciava essa fugaz fama e tinha nisso uma certa vaidade e ainda bem.

Na injustiça que fazemos todos aos velhos, quanto mais doente ficou e passou a viver num lar, menos a vi, talvez quando mais precisava que eu a visitasse. Mas a sua memória perdura, porque a sua vida tinha vida, ou seja, toca na vida dos outros.

* De um documento do PCP.


José Pacheco Pereira
Público
24 de Janeiro de 2009

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O ARTISTA INCONFESÁVEL

Fazer o que seja é inútil.
Não fazer nada é inútil.
Mas entre o fazer e não fazer
mais vale o inútil do fazer.
Mas não, fazer para esquecer
que é inútil: nunca o esquecer.
Mas fazer o inútil sabendo
que ele é inútil, e bem sabendo
que é inútil e que seu sentido
não será sequer pressentido,
fazer: porque ele é mais difícil
do que não fazer, e dificilmente se poderá dizer
com mais desdém, ou então dizer
mais directo ao leitor Ninguém
que o feito o foi para ninguém.


João Cabral de Melo Neto
Museu de Tudo

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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

EDIÇÃO DE HOJE/AMANHÃ DO JORNAL FONTE NOVA


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REALIDADE E A POLÍTICA TRAPALHONA

Rei posto, rei morto. O novo orçamento foi apresentado de manhã e chumbado à tardinha. A Standard & Poor's (S&P) já tinha alertado que a situação financeira do Estado português lhe levantava dúvidas. O Ministro foi a Londres tentar convencer a agência de rating da bondade das suas políticas mas apenas conseguiu que eles esperassem pelo novo orçamento. Este foi apresentado quarta-feira de manhã e, pela tarde, baixaram formalmente o rating da República. O que é muito mais grave do que se pensa. Senão vejamos. A Crise foi iniciada pelo crédito fácil, durante dez anos, e implicou perdas inimagináveis para os bancos que conduziram a que os bancos não possam, hoje, conceder o crédito que noutras situações estariam a fazer. No nosso caso, o importante é ter a ideia de que mais um milhão de euros de crédito à economia implica mais um milhão de empréstimos ao exterior. Por outro lado, neste momento só o Estado tem crédito, no exterior, em montantes relevantes. Mesmo os bancos que recentemente recorreram ao crédito externo - CGD, BES e BCP - só o conseguiram porque tinham comprado ao Estado português uma garantia. Hoje os investidores internacionais estão, basicamente, indiferentes à situação do banco em causa. O que interessa, para esses investidores, é saber que o Estado está por detrás, é ao Estado que estão a emprestar. Daqui decorre que a baixa do rating pela S&P implica duas coisas: o crédito ficará mais caro e, pior ainda, haverá menos crédito para Portugal. Quanto ao custo do crédito, basta pensar que a Grécia, que acabou de fazer um empréstimo a prazo, teve de pagar 3,15 pontos percentuais acima dos títulos de referência (ou seja, bunds alemães a 5 anos). Nós (ainda) estamos longe. Mas eles também estavam longe: no início do ano pagavam 2,5 pontos de spread. E nós, em três semanas, passámos de 1,2 pontos para perto dos 1,7 pontos percentuais de spread. Significa que mais nenhum banco se vai financiar às taxas de juro do CGD/BES/BCP. Quem for agora ao mercado vai pagar spreads mais altos. Mas isto são pequenos problemas, o custo do crédito é o menor deles, por mais incrível que pareça. Quando a S&P diz que o risco de crédito passa da notação de AA- para A+, reduz o número de instituições que está disposta a emprestar a Portugal e reduz o volume de exposição das remanescentes. Como países com notação AAA estão a lançar empréstimos em larga escala, a restrição quantitativa ao crédito para Portugal torna-se muito preocupante. Por outras palavras, o crédito caro é o menor dos problemas, o mais grave é que haverá menos crédito para Portugal. E a política de despesa orçamental apenas agudiza a nossa crise de acesso ao crédito. Como salientei, o crédito aos bancos é, de facto, crédito ao Estado, embora formalmente seja crédito aos bancos portugueses, e é assim que os investidores internacionais o vêem. Como estamos a viver nos limites da nossa capacidade de endividamento, mais crédito directo ao Estado será menos crédito para os bancos nacionais e, por consequência, para as empresas e as famílias. Por tudo isto é que a política de grandes défices orçamentais será autodestrutiva. A política do Governo é simples mas errada: o investimento e as exportações caíram, logo o Estado faz uns programas de investimento e de subsídios públicos. É keynesianismo simplificado daquele que ensinamos numa cadeira de introdução à macroeconomia. Na situação actual, mais investimento público implica que o Estado vai precisar de mais financiamento (i.e., crédito) porque o défice orçamental aumenta. Mais financiamento directo ao Estado vai reduzir, a breve prazo, o financiamento (aquilo que sobra) para os bancos. Menos financiamento aos bancos será menos crédito às famílias e empresas; logo, teremos mais falências, mais desemprego e, também, problemas acrescidos para os bancos. O Governo volta a reagir com mais investimento ou subsídios públicos conduzindo a maiores défices orçamentais, mais endividamento, novamente, mais problemas para financiamento dos bancos e para o crédito à economia,... e assim por diante. Vivemos uma situação de restrição quantitativa ao crédito e mais crédito ao Estado requer, para a política ser eficaz, mais endividamento internacional e tal não é possível. A política pública anunciada só poderia ter (algum) sucesso se o Governo, simultaneamente, cortasse nos grandes investimentos. Daria o sinal de que não aumentaria as suas necessidades de financiamento para além de um limite razoável, seria apenas reorientação do investimento e o aumento do défice orçamental corresponderia aos estabilizadores automáticos (ou seja, mais despesa em subsídios de desemprego e apoios sociais e menos receitas de impostos). Mas nada disto aconteceu até agora. (...) O Estado pode, e deve, ajudar os bancos a captar crédito mas abster-se de o usar consigo próprio. Fazê-lo levará à espiral auto-sustentada que descrevi, que todos pagaremos, durante muitos anos, com menor crescimento e mais pobreza. O chumbo do novo orçamento pela S&P deveria corresponder a um chumbo na Assembleia da República. Atirar dinheiro aos problemas, na situação actual, não os afoga, fá-los crescer e com juros altos. A política trapalhona de apoio à economia tem em si o gene da sua própria destruição, como a S&P mostrou ao mundo e eu tentei explicar.

Luís Campos e Cunha
Ex-ministro das finanças de José Sócrates
Público

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RUÍNAS

De súbito tudo faz sentido, a casa em
ruínas, o apito do comboio ao longe,
a noite densa rasgada pelos pirilampos,
ainda a Primavera debruçada nas águas
do rio, em reflexos de dálias e açucenas
enquanto outras flores ardem num
punho que se fecha; adeus, tudo faz
sentido, a estrada por onde já não
chega o autocarro verde, o Outono
descendo sobre as árvores e as colinas,
o comboio a apitar, o aceno através
da bruma; adeus, as ruínas ficam
mas eu não.


José Mário Silva
Dez

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quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

JAZZ

O jazz é uma mulher ruiva.
de cabelos ondulados…
sorriso atrevido, quente
sem medo de deitar a língua de fora…

o jazz é summertime…
um café com natas e canela por cima,
é um baixo bem dentro do tom,
as notas circundado as velas em cada mesa

o jazz é improviso
a guitarra indomada
o sax sem juízo
e esse trompete alucinado

Hummmm isso mesmo
o jazz é pai, mãe e amante
Miles, Coltrane, Fitzgerald
acid, new, old…

não importa quando, onde, nem porquê…
just,
Let it be…Jazz


Pedro Afonso
O Gesto do Vento

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quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

TRAZ OUTRO AMIGO

Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também

Em terras
Em todas as fronteiras
Seja bem vindo quem vier por bem
Se houver alguém que não queira
Trá-lo contigo também

Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também

Zeca Afonso




À Capella

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terça-feira, 20 de janeiro de 2009

EDIÇÃO DE AMANHÃ DO ALTO ALENTEJO


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ECO

Ouves o sulco doutra voz ainda
dentro da voz daquele instante presa
ao só instante de hesitar-te, ainda
perdida a voz pela garganta presa?

Ouves o rasto doutros dedos vindo
sobre os teus dedos tão a medo breves
pousar-se aonde o só receio vinha
pelos teus dedos quase ousar-se breve?

Ouves apenas? Ou da demorada
memória acordas mansamente a cada
bafo do tempo em tuas mãos geladas?

Ouves ainda? Ou da voz gelada
o tempo em teus ouvidos cada
palavra na memória demorada?

José Augusto Seabra
Tempo Táctil

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segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

ATENDIMENTO NO MUNICÍPIO DE PORTALEGRE


Há uns dias fui tratar de uns assuntos simples ao município de Portalegre.
Pensava eu que eram assuntos simples mas afinal fiquei chocado com o que se passa naquele serviço de atendimento.
Depois de um longo período de espera... e quando digo longo foi longo mesmo longo, lá fui chamado por uma miúda simpática e esforçada mas que não me conseguiu resolver o problema.
Pedi para falar com a responsável (o tempo a passar) e lá apareceu uma menina um pouco mais velha que me chamou tudo e mais alguma coisa, até me mandou calar.
Indignado com tal falta de educação pedi de imediato para falar com o chefe dela.
Foi-me apresentada uma suposta chefe de divisão de aspecto jovem e pelos vistos com poucos neurónios e quanto mais subia na hierarquia mais baixo era o nível.
Deixei uma Sugestão/Reclamação num formulário próprio mas com poucas linhas que me foi dado pela chefe de divisão de uma forma bastante arrogante.
Soube depois em conversa de café que as sugestões que não agradam vão directamente para o lixo.
Tudo isto me deixa indignado e profundamente chocado porque eu ainda sou do tempo em que havia respeito pelas pessoas, principalmente pelas pessoas mais velhas.
Hoje em dia tudo isto se perdeu e é muito triste ver o eng. Mata Cáceres (em que eu votei mas não volto a votar) nomear pessoas destas para estarem a frente dos serviços.
Portalegre merece um bocadinho mais e melhor.

António Silva

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O BUROCRATA

Sou funcionário sem hab’litações
Numa repartição aqui do Estado,
Vou até ao café, chego atrasado,
Dou cabo dum cigarro e dos pulmões.

São bem difíceis todas as questões
Para quem está, como eu, mal informado
E pergunto ao colega ali do lado
Que, por não saber, dá-me sugestões.

O público, se tem pressa, que aguente,
Vendo esta cara linda e enfadada
Com que eu atendo sempre toda a gente.

Do que eu gosto mesmo é da papelada
E de poder faltar sem estar doente...
Isto é, de trabalhar sem fazer nada.


Santana-Maia Leonardo
Bocage, meu irmão

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domingo, 18 de janeiro de 2009

OS MELHORES DO MUNDO. E OS PIORES.

Cristiano Ronaldo foi considerado, pela FIFA, o melhor jogador de futebol do mundo no ano de 2008. O título segue-se a vários outros de importância e prestígio crescente. O homem tem talento. É reconhecido. Talvez tenha mesmo génio a fazer o que faz. Muito bem. Entre os portugueses, Eusébio e Luís Figo tinham alcançado êxitos semelhantes. São homens de excepção e jogadores extraordinários. Mesmo quem não goste ou não frequente os desafios de futebol rende-se facilmente perante a chispa, o engenho e o merecimento daquele futebolista. E de seus dois pares. Numa altura em que centenas de jogadores de futebol portugueses, naquela que é uma verdadeira nova indústria de nicho, se exibem nos estádios de todos os países europeus, um deles chegou ao cume. Sendo o futebol o que é, muitos foram os que jubilaram com este triunfo. É natural.

Não faltou quem tentasse de imediato generalizar o mérito. Ou socializar o êxito. A família, os amigos, o clube da Madeira, os olheiros, os treinadores, o Sporting, as escolas de futebol, os professores, as equipas técnicas, a Federação, o inevitável secretário de Estado, o governo e os jornalistas desportivos: todos passaram a merecer honras de genialidade. Todos reivindicaram uma quota-parte de responsabilidade. Ouvindo e lendo o que se disse, o talento do homem quase desaparecia. Considerar que se trata do triunfo de um sistema, de uma organização e de um povo é um puro esbulho. A verdade é que estamos perante uma aptidão individual excepcional e que, como tal, deve ser aplaudida. Mas há, entre nós, quem tenha por hábito enriquecer sem justa causa, para não dizer à custa de outrem. Misérias do mundo, nada de novo.

Mais interessante e muito mais deprimente foi a maneira como a discussão e os comentários que se seguiram procuraram de seguida alargar o problema e divagar sobre este país. Há um grande partido, formado por optimistas bacocos, que deu largas à sua cantilena. O raciocínio, se assim se pode dizer, é simples: em muitos sectores, somos os ou dos melhores do mundo. Um Nobel, um cientista, uma fadista, um jogador de futebol, um arquitecto e um atleta: aí estão exemplos do que somos e podemos ser. Sendo assim, por que razão anda por aí tanta gente a dizer mal de nós? Por que gastam os portugueses tanto tempo a flagelar-se e a queixar-se quando a glória está ao alcance da mão? Cita-se um conjunto incerto e não identificado de pirrónicos invejosos que não suportam o êxito de alguém e que supostamente consideram que somos os piores do mundo. Por que há tantos políticos, comentadores, intelectuais, economistas, trabalhadores e gente normal a dizer mal do país? As suas perguntas ficam sem resposta. Mas logo acrescentam os crédulos: em vez disso, temos é de dar sinais de esperança, pensar positivo, puxar para cima e mostrar a toda a gente que podemos estar entre os melhores do mundo. Podemos todos ser Cristianos Ronaldos! Podemos todos ganhar o Nobel!

Estes profissionais do optimismo não resistem. Uns são pagos para isso, nas redacções, nos gabinetes dos ministros ou nas agências de comunicação. Outros sonham com glórias vistosas, efémeras sejam elas. Sonham com uma voz que se ouça no mundo. Sonham com uma excepção que não merecem. Qualquer derrota, normal e frequente no mundo inteiro, é motivo para as mais obscuras lucubrações sobre o destino fatal do país. Do mesmo modo, a vitória de um concidadão presta-se aos mais surpreendentes desvarios sobre o génio português. É uma maneira de se ser infeliz. É o modo de ser dos saloios. No próprio dia em que Cristiano Ronaldo foi ungido do seu título, a RTP oferecia-nos um fantástico debate, dito de Prós e Contras, durante o qual foram pronunciados todos os disparates imagináveis. Na presença, como sempre, de um angélico e extasiado secretário de Estado, um conjunto de pessoas serviram-nos os lugares comuns habituais. Todos podemos fazer igual. Há, em Portugal, génios e talentos de sobra. A ninguém ocorre, evidentemente, aludir a um êxito excepcional, mil vezes mais importante do que qualquer prémio, como seja a descida brutal da mortalidade infantil, que colocou Portugal, nesse domínio, num dos primeiros lugares no mundo. A diferença entre esta vitória e a de Cristiano Ronaldo é que a última é um feito de talento pessoal e de excepção, enquanto a primeira resulta do trabalho de centenas ou milhares de pessoas, de organização, de trabalho meticuloso, de planeamento cuidado e de sacrifício humilde. Este é um feito de muitos médicos e enfermeiros, de paramédicos e condutores de ambulâncias, de analistas e administradores. E, sobretudo, de vários governos, que fizeram o que de melhor deles se espera: deixar trabalhar, não pretender meter-se em tudo e não procurar louros eleitorais.

Durante décadas, Portugal foi um país singular. Distinguia-se dos outros. Pelo analfabetismo, pela pobreza, pela duração de uma ditadura, pela censura, pela polícia política e por outros feitos de igual calibre. Gradualmente, o país foi-se transformando e foi ficando um país como os outros. Com cada vez menos história, que, como terá dito Tolstoi, é o próprio das pessoas felizes. Com bons e maus, excelentes e péssimos. Com estúpidos e inteligentes, como em todo o sítio. Com êxitos e falências, como deve ser. Só se espera que seja sempre assim. Sempre e cada vez mais. Que os portugueses não queiram de novo distinguir-se! Que ambicionem pelo dia em que, sem prémio Nobel, a maior parte dos alunos tenham notas decentes a Matemática e Português. Que lutem pelo dia em que um processo no tribunal não dê, durante anos, notícias em todos os jornais do mundo, mas que, simplesmente, chegue à sentença sem ter história. Que trabalhem o necessário para que não tenham os mais baixos rendimentos da Europa. Que sejam habitualmente recompensados ou punidos, quando merecem. Nesse dia, talvez outro Cristiano volte a ganhar. E outros indispensáveis heróis surgirão. Mas o disparate que se seguirá será bem menor.

António Barreto
Público
18 de Janeiro de 2009

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MAR PORTUGUEZ

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa
Mensagem

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sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

EDIÇÃO DE HOJE/AMANHÃ DO JORNAL FONTE NOVA


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CHAGAS DE SALITRE

Olha-me este país a esboroar-se
em chagas de salitre
e os muros, negros, dos fortes
roídos pelo vegetar
da urina e do suor
da carne virgem mandada
cavar glórias e grandeza
do outro lado do mar.

Olha-me a história de um país perdido:
marés vazantes de gente amordaçada,
a ingénua tolerância aproveitada
em carne. Pergunta ao mar,
que é manso e afaga ainda
a mesma velha costa erosionada.

Olha-me as brutas construções quadradas:
embarcadouros, depósitos de gente.
Olha-me os rios renovados de cadáveres,
os rios turvos do espesso deslizar
dos braços e das mães do meu país.

Olha-me as igrejas restaudadas
sobre ruínas de propalada fé:
paredes brancas de um urgente brio
escondendo ferros de educar gentio.

Olha-me a noite herdada, nestes olhos
de um povo condenado a amassar-te o pão.

Olha-me amor, atenta podes ver
uma história de pedra a construir-se
sobre uma história morta a esboroar-se
em chagas de salitre.


Ruy Duarte de Carvalho
A Decisão da Idade

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quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

CRÓNICA DE NENHURES



Autárquicas em Portalegre

Percorrendo o espectro político-partidário do concelho de Portalegre, tendo em conta as próximas eleições autárquicas, o que se pode dizer a esta distância temporal?



Se se pode dizer “muito”, sabe-se “pouco”, mas esse “pouco” permite, em antevisão, prever que tudo vai ficar como está. O PSD terá a segunda maioria absoluta, e fará o terceiro mandato consecutivo à frente da Câmara Municipal de Portalegre.
A Direita extra-parlamentar, liderada pelo PNR, não se apresentará à corrida eleitoral. Não tem estruturas mínimas no concelho, facto que a impede de construir uma lista, embora tenha votos, como se viu nas últimas eleições legislativas.
O CDS, por certo, aproveitará a oportunidade para candidatar o seu presidente concelhio, um jovem advogado estagiário que, como antes fizera o seu patrono, desta forma adquire notoriedade pública, tão importante para o seu futuro profissional. Espera-se que o CDS, além da Assembleia Municipal, concorra também a algumas freguesias do concelho.
O PSD recandidata o actual presidente, que ganhará folgadamente. Se tal facto político será bom ou mau para o concelho de Portalegre, é algo que abordaremos proximamente.
O PS, partido estruturante do concelho e do distrito de Portalegre, está numa encruzilhada. Sabe que não tem hipóteses de ganhar, desde que o actual presidente se recandidate, um dado certo por razões várias, independentemente do candidato que apresente. Pode parecer estranho, mas quem conhece a realidade local e as variáveis e condicionantes de uma eleição autárquica, sabe que quem está no poder é que volta a ganhar ou perde. No caso concreto de Portalegre, e fazendo uma retrospectiva histórica, foi Rui Simplício, o presidente, que perde e não João Transmontano que ganha, tal como foi Amílcar Santos, o presidente, que perde e não Mata Cáceres que ganha. O demérito dos derrotados era maior que o mérito dos vencedores.
Assim, o PS pode escolher um de dois caminhos: ou apresenta um nome do “passado”, e o mais “pronunciado” é um perdedor nato, e “arrisca” a manter os 6 – 1, isto é, o PSD mantém os seis vereadores e o PS mantém um; ou “aposta” no futuro, e candidata um nome jovem, “novo”, sem comprometimentos com as derrotas anteriores, ficando garantidamente nos 5 – 2, podendo “lutar” pelos 4 – 3.
Há quatro anos, o eleitorado comunista cometeu a injustiça de não reeleger Luís Madeira Pargana. Vai durante muito tempo “pagar” esse erro político. O candidato do PCP não vai conseguir ser eleito vereador.
A votação do BE nas últimas legislativas “colocou-o” em quarto lugar, à frente do CDS. Pressupondo que vai apresentar candidato, fica a dúvida se consegue crescer e aproximar-se dos comunistas.
Será que faria falta uma candidatura independente à autarquia de Portalegre? Uma pergunta que fica, para já, sem resposta.



Mário Casa Nova Martins


A VOZ PORTALEGRENSE

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