domingo, 31 de julho de 2011

SOME-TE RATO!

Tratam-te os que te lambem e legitimam, por Sr. Presidente do Conselho.
Chamam-te os que ainda acreditam nas Universidades que degradaste, por Professor Doutor.
No tempo em que eras fascista sem vergonha passavas por ser o Chefe, e os leonardos, teus chacais, escutavam a tua Palavra.
Depois, quando inventaste a “democracia orgânica”, gostavas que te apelidassem de Chefe... do Governo.
Mas, no isolamento e no silêncio e na treva, que é o sítio vago onde estaria a alma que te fugiu aterrada com o cheiro de arganaz podre a que o teu cérebro e o teu coração fedem, tu sabes que não és nada disso.
Presidente de quê?
De um Conselho de lacaios?
Chefe de quê e de quem?
Dos assassinos e ladrões impunes que proteges, para que eles te protejam o couro ressequido que nunca terá conhecido para que dignidade e que alegrias serve a carne humana?
Professor de quê?
Doutor em quê?
Professor de desmoralização, de ceticismo, de corrupção, de crueldade, de hipocrisia, de blasfêmia, de infâmia?
Doutor em quê?
Em técnicas de Censura e de Polícia, que são toda a tua política, toda a tua filosofia, toda a tua religião?

Some-te, rato!
Mergulha de uma vez no esgoto de oito séculos de erros que te criaram e engordaram, como excremento que és, venenoso, estéril, impotente.
Rato, apenas, rato.

As comemorações brilhantíssimas do 5 de Outubro em São Paulo, o que elas significam de unidade na luta democrática, o que elas projectam no futuro como esperança de dissolução sulfúrica da tua presença pestilenta, nada disso chegará aos teus ouvidos surdos, às tuas unhas negras da pele dos mártires que esfolaste, à tua cauda imunda, com que fustigas um dos mais gloriosos e heróicos povos da terra.
Não lerás, também porque és analfabeto e nunca leste nada, o telegrama em que os democratas reunidos para comemorar a Revolução que hoje simboliza a unidade de todos os portugueses, sem distinção de raça, religião ou credo político, na luta contra a tua baba peçonhenta, com que tens envenenado tanto patriota ingênuo que no Brasil honra o trabalho português, pedem a tua demissão.

E fazes bem, fazes bem.
Tu não podes demitir-te, porque nunca foste nomeado.
Tu és o símbolo da ilegalidade, da arbitrariedade, da injustiça, da opressão.
Não te demitas, some-te!
Some-te, rasteiro como nasceste, como subiste, como governaste, como imitaste nos teus discursos, laboriosamente vomitados, uma língua admirável que, rato que és, nunca soubeste falar.
Some-te tal como viveste, com a mesma covardia com que mandaste assassinar, roubar, violentar.
Some-te rato, com a tua bota de elástico, a tua pena de pato, a tua ceroula de fita, as tuas letras gordas, a tua finança de chácara, a tua economia de campônio, a tua política de traidores à Pátria.
Some-te assim, rasteiro e mesquinho, como vieste!
Some-te, rato!
E que o ódio de um Povo, e o desprezo de todos os amantes da liberdade e da justiça, saibam esquecer o momento de nojo e de vergonha e castração que tu longamente foste, em mais de trinta anos de horror e reles mesquinhez.
Que nem a tua pele piolhosa fique apodrecendo na memória das gentes, mais que como imagem da peste política e moral!
Some-te rato!


Jorge de Sena
Novembro de 1959

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sábado, 30 de julho de 2011

AVISO A CARDÍACOS E OUTRAS PESSOAS ATACADAS DE SEMELHANTES MALES

Se acaso um dia o raio que te parta
(enfim obedecendo às fervorosas preces
dos teus muitos amigos e inimigos),
baixa de repente gigantesco
e fulminante sobre ti, e mesmo se repete:
e não te quebra todo, e como desasado,
ou quem morto regressa à sobrevida,
tu sobrevives, resistes e persistes,
em estar vivo (ainda que à espera sempre
de novo raio que te parta em cacos) —
— tem cuidado, cuidado! Arma-te bem
não tanto contra o raio mas principalmente
contra tudo e todos. Sobretudo estes.
Ou sejam todos quantos pavoneiam
o consolo inocente de pensar que a morte
não os tocou nem tocará jamais.

Porque não há ninguém por mais que te ame,
ou por mais que seja teu amigo (e,
com o tempo, os amigos, mais que as criaturas
fiel ou infielmente bem-amadas, gastam-se),
que te perdoe que tu não tenhas estourado,
no momento em que se soube que estouravas.
É uma «partida» (ou um «regresso» sem piada nenhuma)
absolutamente e aterradoramente inaceitável,
humanamente e vitalmente imperdoável.
Pelo que, sobrevivente, pagarás, como se diz,
com língua de palmo. Se és um pobretana,
solitário, abandonado, entregue aos teus fantasmas
que são um palpitar, um estertor, uma opressão no peito
uma tontura, um como que silêncio negro,
podes estar certo e seguro que nem amigo nem amante
está livre de ocupações prementes para te acudir.
Uma que outra vez apenas, para alívio
dos borborigmas morais dos seus estômagos,
irão visitar-te carinhosos. Outros
tentarão acudir-te, ajudar-te, como podem,
e quando em desespero tu reclamas.

Não contes com mais nada senão morte.
Se tens família, amando-te sem dúvida,
inteiramente delicada a ti que seja ou é,
não penses que não és constante imagem
sem desculpa alguma de andar pela casa,
um pouco vacilante, às vezes suplicando
uma pílula, alguma companhia, ou mesmo atrevendo-te
a fazer referências tidas de mau gosto
à espada que para onde vás segue suspensa
sobre a tua cabeça. Porque ninguém, ninguém,
até contraditoriamente porque te amam,
suportam que não sejas quem tu eras,
mas só morte adiada, o que é diverso
do horror de um cancro que não se sabe
quando matará mas é criatura de respeito,
crescendo em ti como se estiveras grávido.
Assim, meu caro, com coração desfeito
sem metáfora alguma, és apenas uma
indecorosa e miserável chatice.

Portanto, irmãos humanos, se estourais,
estourai por uma vez aliviando
quem vos quer ou não quer por uma vez.

Jorge de Sena
40 Anos de Servidão

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sexta-feira, 29 de julho de 2011

NOVO EPITÁFIO PARA UMA VELHA DONZELA

Não conheceu do amor as vãs complicações,
Nem o prazer e as suas decepções.
Por isso é que os fiéis das sensações
Tiveram sua vida por frustrada.
Viveu de leve, humilde e afável, encerrada
No mistério sem mito em que morreu.
Da sua vida mais intensa, nada
Chegou ao mundo, que não era seu.

Sobre esta laje fria,
Por memória
Dessa ignorada história,
Inscreveu esta coisa fugidia
Aquele de quem foi secretamente amada.


José Régio
Filho do Homem

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quinta-feira, 28 de julho de 2011

EPITÁFIO PARA UMA VELHA DONZELA

De palmito e capela,
Qual manda a tradição,
Erecta, lá vai ela
Ser atirada ao chão.
De rosário na mão,
Lutou heroicamente
Contra a vil tentação
Do que nos pede a carne e a alma come.
Secreta, ansiosa, augusta, descontente
Dentro da sua túnica inconsútil,
Engelhou toda à fome,
Por fim morreu à sede,
No seu heroísmo fútil.
Bichos! penetrai vós no pobre corpo inútil!


José Régio
Filho do Homem

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quarta-feira, 27 de julho de 2011

COLEGIAL

Em cima da minha mesa,
Da minha mesa de estudo,
Mesa da minha tristeza
Em que, de noite e de dia,
Rasgo as folhas, leio tudo
Destes livros em que estudo,
E me estudo
(Eu já me estudo...)
E me estudo,
A mim,
Também,
Em cima da minha mesa,
Tenho o teu retrato, Mãe!

À cabeceira do leito,
Dentro dum lindo caixilho,
Tenho uma Nossa Senhora
Que venero a toda a hora...
Ai minha Nossa Senhora
Que se parece contigo,
E que tem, ao peito,
Um filho
(O que ainda é mais estranho)
Que se parece comigo,
Num retratinho,
Que tenho,
De menino pequenino...!

No fundo da minha sala,
Mesmo lá no fundo, a um canto,
Não lhes vá tocar alguém,
(Que as lesse, o que entendia?
Só riria
Do que nos comove a nós...)
Já tenho três maços, Mãe,
Das cartas que tu me escreves
Desde que saí de casa...
Três maços - e nada leves! -
Atados com um retrós...

Se não fora eu ter-te assim
A toda a hora,
Sempre à beirinha de mim,
(Sei agora
Que isto de a gente ser grande
Não é como se nos pinta...)
Mãe!, já teria morrido,
Ou já teria fugido,
Ou já teria bebido
Algum tinteiro de tinta!


José Régio
Encruzilhadas de Deus

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terça-feira, 26 de julho de 2011

EPITÁFIO PARA UM POETA

As asas não lhe cabem no caixão!
A farpela de luto não condiz
Com seu ar grave, mas, enfim, feliz;
A gravata e o calçado também não.
Ponham-no fora e dispam-lhe a farpela!
Descalcem-lhe os sapatos de verniz!
Nao vêem que ele, nu, faz mais figura,
Como uma pedra, ou uma estrela?
Pois atirem-no assim à terra dura,
Ser-lhe-á conforto:
Deixem-no respirar ao menos morto!


José Régio
Filho do Homem

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domingo, 24 de julho de 2011

O POETA DOIDO, O VITRAL E A SANTA MORTA

Era uma vez um Poeta
Que vivia num Castelo,
Num Castelo abandonado,
Povoado só de medos...

- Um Castelo com portões que nunca abriam,
E outros que abriam sem ninguém os ir abrir,
E onde os ventos dominavam,
E donde os corvos saíam,
Para almoços
Que faziam
De mendigos que caíam lá nos fossos...

Havia no Castelo, ao fim dum corredor,
(Um corredor grande, grande,
Frio, frio,
Como abóbadas sonoras como poços)
Um vitral.

Era um vitral singular...

É é bem verdade que ninguém sabia
O que ele ali fazia,
Ao fim daquele corredor,
Naquela parede ao fundo,
Aquele vitral baço e quase já sem cor.

Nem o Poeta o sabia...

Nem o Poeta o sabia,
Muito embora noite e dia
Meditasse
No vitral quase sem cor
Que estava pr'ali na sombra
Do fundo do corredor
- Com ar de quem aguardasse...

Quando, a meio da noite, o Poeta acordava,
Levantava-se e, até dia, delirava.

Era a hora do Medo...

E passeava, delirando, pelos longos corredores,
Descia as escadarias,
Corria as salas.

Sob os seus pés, as sombras deslizavam.
Pelos recantos, os fantasmas encolhiam-se.
E, devagar, bem devagar, no escuro,
Portões abriam-se, e fechavam-se, e gritavam sem rumor.
O Poeta só parava
Diante do tal vitral,
Ao fim do tal corredor...

E sonhava.

Sonhava que, para lá
Daqueles doirados velhos,
Daqueles roxos mordidos,
Que morriam
Sobre o fundo espesso e negro,
Havia...

Mas que haveria?

Qualquer coisa bem ao perto
Que o chamava de tão longe...!

E, mudo, ali ficava até ser dia,

Enquanto os ventos, lá fora,
Fingiam mortos a rir...
Enquanto as sombras passavam...
Enquanto os portões rodavam,
Sem ninguém os ir abrir!

Mas, um dia,
- Eis, ao menos, o que dizem -
O Poeta endoideceu.

E, fosse Deus que o chamasse
Ou o Diabo que lhe deu,
(Não sei...)

Sei que uma noite, a horas desconformes,
O Doido alevantou-se nu e lívido,
Com os cabelos soltos e revoltos,
A boca imóvel como as das estátuas,
Os olhos fixos, sonâmbulos, enormes...

Pegou do archote,
Desceu, escada a escada, a muda escadaria,
Seguiu pelo corredor.

Em derredor,
As sombras doidas esvoaçavam contra os muros.
Lá muito longe, o vento era um gemido que morria...

Ao fim do tal corredor,
Havia
O tal vitral.

E, de golpe,
Como dum voo em linha recta,
O Poeta-Doido ergueu-se contra ele,
Direito como uma seta...

A cabeça ficou dentro,
O corpo ficou de fora...

E os verdes, os lilases, os vermelhos da vidraça
Laivaram-se de sangue que manava,
E que fazia,
Nas lájeas do corredor,
Um rio que não secava...

Mas, no instante em que morria,
Abrindo os olhos,
- Olhos de tentação divina e demoníaca -
O Poeta pôde ver.

... E viu:

Viu que, por trás do vitral baço, havia
Um nicho feito no muro.
Dentro, iluminando o escuro,
De pé sobre tesoiros e tesoiros,
Estava
Certo cadáver duma Santa
Que fora embalsamada há muitos séculos...

E a Santa, que o esperava,
Despertou,
E, sorrindo-lhe e curvando-se, beijou
A cabeça degolada.



José Régio
Poemas de Deus e do Diabo

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quinta-feira, 21 de julho de 2011

FESTIVAL DE TEATRO CLÁSSICO DE MÉRIDA

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ABOIO

Tinha um teclado barato
no recinto dos olhos
onde um loop eterno tocava
êxitos de ouro que o passado,
crendo-se futuro,
sem talento e sem contrato buscara.

Sentada no muro cabisbaixo
a si mesma descia por
escada interior
e na subida me puxava
como água
do fundo de um poço.

Para sua corte me chamava
e eu ia, cabeça de gado
numa só noite apreçada
e vendida.

Rui Lage
Um Arraial Português

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segunda-feira, 18 de julho de 2011

AOS VINDOURES, SE OS HOUVER...

Vós, que trabalhais só duas horas
a ver trabalhar a cibernética,
que não deixais o átomo a desoras
na gandaia, pois tendes uma ética;

que do amor sabeis o ponto e a vírgula
e vos engalfinhais livres de medo,
sem peçários, calendários, Pílula,
jaculatórias fora, tarde ou cedo;

computai, computai a nossa falha
sem perfurar demais vossa memória,
que nós fomos pràqui uma gentalha
a fazer passamanes com a história;

que nós fomos (fatal necessidade!)
quadrúmanos da vossa humanidade.

Alexandre O'Neill
Poemas com Endereço

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sexta-feira, 15 de julho de 2011

OS CÃES

O rafeiro chegou ao pé do cão do portão e perguntou-lhe:
— Tu é que és o meu dono?
Como o cão do portão dissesse que não sabia responder, foram os dois lá dentro procurar o cão do jardim e perguntaram-lhe:
— Tu é que és o nosso dono?
Como o cão do jardim dissesse que não sabia responder, foram os três procurar o cão da porta e perguntaram-lhe:
— Tu é que és o nosso dono?
Como o cão da porta dissesse que não sabia responder, foram os quatro procurar o cão da cozinha e perguntaram-lhe:
— Tu é que és o nosso dono?
Como o cão da cozinha dissesse que não sabia responder, foram os cinco procurar o cão do corredor e perguntaram-lhe:
— Tu é que és o nosso dono?
Como cão do corredor dissesse que não sabia responder, subiram os seis a procurar o cão da escada e perguntaram-lhe:
— Tu é que és o nosso dono?
Como o cão da escada dissesse que não sabia responder, subiram os sete a procurar o cão do patamar e perguntaram-lhe:
— Tu é que és o nosso dono?
Como o cão do patamar dissesse que não sabia responder, subiram os oito a procurar o cão da porta e perguntaram-lhe:
— Tu é que és o nosso dono?
Como o cão da porta dissesse que não sabia responder, entraram os nove a procurar o cão do quarto e perguntaram-lhe:
— Tu é que és o nosso dono?
Como o cão do quarto dissesse que não sabia responder, foram os dez procurar o osso e perguntaram-lhe:
— Tu é que és o nosso dono?
O osso ladrou.

Artur Portela Filho
Três Lágrimas Paralelas

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quinta-feira, 14 de julho de 2011

LÍNGUA PORTUGUESA




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In:Público
14 de julho de 2011

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63

Só tintas claras Delicadas
gradações de riso aberto e de frescura
clareza de mim mesmo agora mesmo vista
noutros olhos suspensa e repetida
nos olhos todos que a desejam sem procura
como se um bem o maior bem pudesse haver na vida
sem conquista

Tintas claras que sonho se me furtam sem remédio
Outra vez roxo e negro as vão cobrindo
e com elas quem amo e todo o resto

Ao branco se mistura um sujo breu que não é tédio
ou indiferença mas tristeza dum tempo em que se morre
em caves de tortura e esquecimento
as palavras de fogo só as ouve o vento
e os amantes se perdem no caminho
contra fantasmas que eles mesmos vão urdindo

Pintura escura negra pegajosa faço e a detesto
em raiva cega transformando o meu carinho
e de raiva criando um vão tormento
que tudo diz e diz tão pouco ou pouco mais que nada

Pintura negra e feia suja cujo visco de mim mesmo escorre
ao arrepio de cada pincelada
que minha mão por mão desconhecida vai pousando
e não posso apagar nem evitar nem acusar desventuradamente
ou iludir sequer com desespero amando e rebuscando e só traindo
a claridade impenitente
que em mim também já mal distingo e bem distingo estrebuchando
lá mais fundo até ao fundo ferida
e amordaçada


Mário Dionísio
Memória Dum Pintor Desconhecido

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quarta-feira, 13 de julho de 2011

O LADO DE FORA

Eu não procuro nada em ti,
nem a mim próprio, é algo em ti
que procura algo em ti
no labirinto dos meus pensamentos.

Eu estou entre ti e ti,
a minha vida, os meus sentidos
(principalmente os meus sentidos)
toldam de sombras o teu rosto.

O meu rosto não reflecte a tua imagem,
o meu silêncio não te deixa falar,
o meu corpo não deixa que se juntem
as partes dispersas de ti em mim.

Eu sou talvez
aquele que procuras,
e as minhas dúvidas a tua voz
chamando do fundo do meu coração.

Manuel António Pina
Poesia, Saudade da Prosa

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terça-feira, 12 de julho de 2011

A ÚLTIMA VEZ

organizei uma festa para a qual
convidei apenas os meus
amigos suicidas. fazemos tudo como
se fosse a última vez

queres vir ao meu inferno

gostava de te mostrar as pequenas
cabeças falantes guardadas nos lugares mais
escuros da minha casa. gostava que
ouvisses o que dizem

os mortos, encostados às paredes e com
problemas de equilíbrio, disciplinam-se
lentamente. vês a minha casa

vou buscar o meu coração. guardei-o aqui
algures e, por ti, tenho a certeza, vale a
pena voltar a encontrá-lo e correr todos os
riscos de novo

cuidado com o cão, não morde, mas é
pesado e pode tirar-te o fôlego com as
patas no peito e depois vou querer
beijar-te

achas que podes não morrer antes

há champanhe e bolo de chocolate

Valter Hugo Mãe
Folclore Íntimo

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segunda-feira, 11 de julho de 2011

PORQUE O RIGOR É INSONDÁVEL E ENIGMÁTICO COMO DEUS

In:Público
11 de julho de 2011
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SOM DA LINGUAGEM

Por vezes reaprendo
o som inesquecível da linguagem
Há muito desligadas
formam frases instáveis as

palavras
Aos excessos do céu cede o silêncio
as constelações caem vitimadas
pelo eco da fala

Gastão Cruz
Campânula

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sexta-feira, 8 de julho de 2011

POLÍTICA

É um poeta sério,
que escreve versos sérios,
foi o que me disseram,

árduos, saudáveis,
que se podem repetir
antes de almoço

e depois da eucaristia,
em que a realidade,
essa puta velha,

não é menos resistente
que ele e outros,
que dão o corpo ao manifesto
e confirmam, sem caução,

que a solidão é paciente
e o desejo anónimo
– as manhas do canastro

cabem todas em qualquer
cama ou no verso
e meio que ainda falta.

José Alberto Oliveira
Mais Tarde

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