quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

DA VIDA DO CHEFE DO "PARTIDO POPULAR" DA "ESQUERDA MODERADA"

Por muito que isso custe a alguns dos seus admiradores, as últimas semanas não auguram ao eng. Sócrates nada de particularmente bom.
Antes de mais, quebraram o mito da invencibilidade do primeiro-ministro, deixando-o dependente de factores que não controla e de estratégias que lhe são alheias.
Independentemente do que vier a acontecer a Manuel Alegre, o eng. Sócrates vê-se, pela primeira vez, na necessidade de negociar o seu futuro - ele que sempre fez gala em não negociar com ninguém. Pior do que isso, ao fazê-lo, é obrigado a reconhecer publicamente que parte significativa do eleitorado socialista deixou de se rever no Governo e na unanimidade do "seu" PS. Já a candidatura do dr. Santana Lopes a Lisboa é outra história. Se ele é, como alguns dizem, a "cara da derrota" do partido, o dr. António Costa arrisca-se a perder as próximas eleições para o "pior" do PSD.
Não deixaria de ser curioso que o passado, o tal passado de que o eng. Sócrates tanto gosta de falar, reaparecesse em cena e, tirando-lhe a capital, levasse com ele as ambições do seu número dois no PS. Depois de ter conseguido a proeza de ser eleito com a percentagem mais baixa de sempre, o dr. António Costa superou-se a si próprio na presidência da principal câmara do país, distinguindo-se essencialmente pela sua inactividade.
Por junto e depois de muita promessa, teve uma ideia qualquer sobre bicicletas que não chegou a pôr em prática, deixou-se colar ao projecto dos contentores em Alcântara (embora agora se tenha lembrado de umas condições de última hora) e integrou na sua equipa o "Zé", que, há uns anos, fazia por lá falta e que agora promete ser um companheiro de luxo na campanha eleitoral: para falar do túnel, claro, e do papel heróico que ele, na altura, desempenhou.
Não por acaso, o "Zé" já começou a dissertar sobre a necessidade de se unirem todos contra uma candidatura que, sabe-se lá como, parece ter hipóteses de ganhar.
Entretanto, o eng. Sócrates decidiu transformar o Estatuto dos Açores (que será votado amanhã) numa arma de arremesso contra o Presidente da República, fiado na exibição triunfal da sua força e na hipotética fragilidade do prof. Cavaco Silva.
A ideia parece que é debilitar "ainda mais" a figura do Presidente. O resultado promete virar-se contra o principal arquitecto desta portentosa táctica eleitoral.
Num ano de recessão económica, quando todos os indicadores se encarregam de desmentir o optimismo do Governo e depois de se ter perdido a conta à quantidade de "planos" contra a crise apresentados pelo primeiro-ministro, seria de elementar bom senso evitar a hostilidade de um Presidente da República que, caso o PS não se lembre, recebeu mais de 40 por cento dos votos no ocaso do cavaquismo.
Tudo indica que o eng. Sócrates não vai ter pela frente um ano fácil.


Constança Cunha e Sá
Público
18 de Dezembro de 2008

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