terça-feira, 30 de novembro de 2010

LIVROS...

Não adianta ensimesmar-nos pelo descalabro das finanças públicas, não adianta carpirmos mágoas por sermos apontados a dedo como mau exemplo gastador daquilo que não temos, não adianta chorarmos sobre o leite derramado em tempos de suposta abundância onde até os remediados tiveram direito a crédito de modo a adquirirem segunda habitação, barquinho de encher o olho e automóvel prá menina e pró menino.
A crise instalou-se, irá durar anos, restando-nos pouca consolação
, mas a mais fácil será através da leitura, minha dama de sempre. Por assim pensar informo, advirto, grito aos leitores a boa nova: a Festa dos Livros da Gulbenkian principia no dia 25 de Novembro e termina no dia 23 de Dezembro.
Festa sem algazarra, sem tumulto de vozes, festa jovial pois os nossos maiores amigos – os livros, milhares de livros – estão ao nosso alcance a preços seguros, isto é: módicos, tendo em conta todo o aparato instrumental, mas acima de tudo pela relevância dos autores e temas que são marcas de excelência (o termo está em voga) a que desde sempre nos habituou a Fundação.

Estou a fazer propaganda?

Estou, claro que sim, a obras de alto valor cultural imprescindíveis à nossa aculturação em todas as áreas do saber, bases fundamentais da possível e desejável recuperação económica a motivar o orgulho de sermos nós próprios.
Durante dez horas de cada dia o interessado tem direito a contemplar, a ouvir o atrito do abrir as folhas, a acariciar e cheirar seiscentos títulos.
Saciados esses quatro sentidos, pode fruir o quinto num espaço semi-restaurativo acolhedor e confortável.
O leitor talvez ainda se lembre do poeta António Gedeão, sim o da Pedra Filosofal, pseudónimo de Rómulo de Carvalho, homem de ciência e excelente professor, dele serão apresentadas as Memórias, que espero ler dentro de dias.

Das nossas andanças por toda a parte existem excelentes referências contidas no livro Património Português no Mundo: Arquitectura e Urbanismo, a ser também lançado nesse ágape cultural.

Não tenho espaço, nem pretendo revelar todas as novidades, no entanto, para os amantes dos grandes clássicos refiro a História da Guerra do Peloponeso.

O Natal está quase a repetir-se, é bem provável que a maioria de nós o festeje sem o fulgor dos anos transactos, a oferta de um livro amigo de todas as horas a familiares e amigos de sempre, será, seguramente, viva demonstração da nossa esperança no regresso de melhores dias.
Faça o favor de ser feliz.

Lendo.


A.F.

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A UM LIVRO

No silêncio de cinzas do meu Ser
Agita-se uma sombra de cipreste,
Sombra roubada ao livro que ando a ler,
A esse livro de mágoas que me deste.

Estranho livro aquele que escreveste,
Artista da saudade e do sofrer!
Estranho livro aquele em que puseste
Tudo o que eu sinto, sem poder dizer!

Leio-o, e folheio, assim, toda a minh’alma!
O livro que me deste é meu, e salma
As orações que choro e rio e canto! ...

Poeta igual a mim, ai que me dera
Dizer o que tu dizes! ... Quem soubera
Velar a minha Dor desse teu manto! ...

Florbela Espanca
Livro de Mágoas

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TENHO UMA GRANDE CONSTIPAÇÃO

Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor.
O que fui outrora foi um desejo; partiu-se.

Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando.
Não estarei bem se não me deitar na cama.
Nunca estive bem senão deitando-me no universo.

Excusez un peu... Que grande constipação física!
Preciso de verdade e da aspirina.

Álvaro de Campos
Poemas

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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

24 DE NOVEMBRO DE 2010 GREVE GERAL

terça-feira, 23 de novembro de 2010

NOS DIAS 27 E 28 CONTRIBUA PARA COMBATER A FOME NO DISTRITO DE PORTALEGRE


A próxima Campanha de Recolha de Alimentos em supermercados e superfícies comerciais realiza-se nos dias 27 e 28 de Novembro de 2010.

Contamos consigo!

Se quiser ser Voluntário inscreva-se no Banco Alimentar de Portalegre.

Em simultâneo, prolongando-se até 5 de Dezembro de 2010, terá lugar a Campanha "Ajuda Vale", que permite a recolha de alimentos sob a forma de vales que representam seis produtos básicos à alimentação. Esta modalidade de campanha, em que cada pessoa continua a decidir o que quer doar, permite uma simplificação dos procedimentos logísticos.

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DONA ABASTANÇA

«A caridade é amor»
Proclama dona Abastança
Esposa do comendador
Senhor da alta finança.

Família necessitada
A boa senhora acode
Pouco a uns a outros nada
«Dar a todos não se pode.»

Já se deixa ver
Que não pode ser
Quem
O que tem
Dá a pedir vem.

O bem da bolsa lhes sai
E sai caro fazer o bem
Ela dá ele subtrai
Fazem como lhes convém
Ela aos pobres dá uns cobres
Ele incansável lá vai
Com o que tira a quem não tem
Fazendo mais e mais pobres.

Já se deixa ver
Que não pode ser
Dar
Sem ter
E ter sem tirar.

Todo o que milhões furtou
Sempre ao bem-fazer foi dado
Pouco custa a quem roubou
Dar pouco a quem foi roubado.

Oh engano sempre novo
De tão estranha caridade
Feita com dinheiro do povo
Ao povo desta cidade.

Manuel da Fonseca
Poemas para Adriano

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domingo, 14 de novembro de 2010

MAIS QUE LIMPAR AS FLORESTAS, É URGENTE LIMPAR A MERDA...

Se ainda é possível surpreendermo-nos com este país, as suas declarações de que os desempregados vão limpar florestas, sob pena de perderem o acesso ao respectivo subsídio, são bastante reveladoras do carácter da gente que somos e, particularmente, de quem nos (des)governa.

O senhor secretário de Estado e nem vou pôr em dúvida as suas competências para tão alto cargo, deveria saber que os subsídios de desemprego não são uma esmola social e sim, um seguro para acudir a estas situações a que o estado obriga os assalariados, por força de lei, a pagarem mensalmente. Das suas declarações, a concretizar-se o triste anúncio, será apenas uma forma de humilhar quem já se encontra fragilizado e vive situações económicas, em muitos casos, imorais e insustentáveis.

E sabe o senhor secretário, cujo vencimento e mordomias os trabalhadores também pagam, porque chegámos aqui? Porque temos sido governados por gente que conduziu, em meia dúzia de anos, o país à bancarrota. De competências como as do governo que o senhor integra, estamos cheios, fartos e com dívidas para pagar por muitas gerações.

Quem o senhor deveria pôr a limpar matas, deveriam ser os gatunos que faliram instituições bancárias e cujos prejuízos, mais uma vez, vão ser pagos por quem trabalha. Se não forem suficientes, poderia recorrer aos trafulhas das negociatas de sucatas com robalos à mistura ou, aos que se abotoaram com os milhões em luvas do freeport, e tantos outros, que jamais lhe faltaria mão-de-obra para limpar florestas.

Sabe senhor secretário de Estado, estas coisas acontecem porque somos um povo iletrado, ignorante e medroso, para nossa infelicidade, e do país. Se outra gente fossemos, seguramente que não teríamos descido tão baixo nem seríamos governados por estadistas anões. A par com a honestidade, a grandeza faz um povo. O resto são bagatelas. Deste governo, ficará para a história o buraco financeiro e social que cavou. De si, ninguém se lembrará por muitos desempregados que mande limpar florestas.

E não pense que sou apenas mais um ressabiado que não quer limpar matas. Não meu caro. Não sou desempregado. Sou um cidadão sem cadastro, eleitor e pagador de impostos; a partir de Janeiro, 43 de IRS 23 de Iva e as alcavalas de IMI, imposto de selo, taxa de ocupação de espaço aéreo, taxa de ocupação terrestre, taxa de recolha de lixo, taxa de esgotos, portagens, parques, estacionamentos, selo automóvel, taxa para as energias renováveis, taxa para o audiovisual, outras que não lembro e outras ainda, que pagarei, e desconheço. Acresce, que neste acampamento miserável, tudo se paga a preços imorais, do mais simples fármaco para a dor de cabeça, à energia eléctrica ou aos combustíveis. Contrariamente, os salários, exceptuando os daqueles que transitam entre governos, empresas públicas e banca, são dos mais baixos da Europa civilizada.

Gente como o senhor secretário, capaz de humilhar e esmagar aqueles que nada têm, nem sequer o direito à dignidade, mas não diz uma palavra contra os que roubam descaradamente, traficam influências, acordam negócios ruinosos para os contribuintes, não merece o tempo que levei a alinhavar estas palavras. Faça-nos o favor de se demitir para que o possamos esquecer a sua existência, rapidamente.

N. A.

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ODE À MENTIRA

Crueldades, prisões, perseguições, injustiças,
como sereis cruéis, como sereis injustas?
Quem torturais, quem perseguis,
quem esmagais vilmente em ferros que inventais,
apenas sendo vosso gemeria as dores
que ansiosamente ao vosso medo lembram
e ao vosso coração cardíaco constrangem.
Quem de vós morre, quem de por vós a vida
lhe vai sendo sugada a cada canto
dos gestos e palavras, nas esquinas
das ruas e dos montes e dos mares
da terra que marcais, matriculais, comprais,
vendeis, hipotecais, regais a sangue,
esses e os outros, que, de olhar à escuta
e de sorriso amargurado à beira de saber-vos,
vos contemplam como coisas óbvias,
fatais a vós que não a quem matais,
esses e os outros todos... - como sereis cruéis,
como sereis injustas, como sereis tão falsas?
Ferocidade, falsidade, injúria
são tudo quanto tendes, porque ainda é nosso
o coração que apavorado em vós soluça
a raiva ansiosa de esmagar as pedras
dessa encosta abrupta que desceis.
Ao fundo, a vida vos espera. Descereis ao fundo.
Hoje, amanhã, há séculos, daqui a séculos?
Descereis, descereis sempre, descereis.

Jorge de Sena
Pedra Filosofal

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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

MAIS LOJAS DOS CHINOCAS?

O ditador chinês Hu Jintao esteve em Portugal durante o fim-de-semana.
A china tem dinheiro.
Portugal não o tem.
Nem vergonha.
Receber um ditador é, só por si, um vexame.
Recebê-lo de mão estendida, ainda por cima imitando a China na limitação da liberdade de expressão, como aconteceu com a proibição da manifestação da Amnistia Internacional, é uma exposição do país a uma humilhação inaceitável do tamanho do mundo.

Mas quem manda neste rectângulo e dele fez um paraíso onde uma maioria empobrece para que uma minoria mantenha intocável o direito a enriquecer achou que todas estas mesuras não eram já suficientes.
O país do ditador e, quem sabe, o próprio e respectiva família e amigos, vão ajudar Portugal juntando-se à atrás citada elite de sanguessugas de Portugal.

Ao entrarem no capital da EDP, os chineses vão poder beneficiar das rendas diárias de mais de 4 milhões de euros proporcionados pela exploração de recursos que são de todos e por um dos tarifários mais altos de toda a Europa, o primeiro concedido por quase um século, o segundo permitido apesar de afectar a competitividade de uma economia que, para cúmulo, ainda ouve discursos sobre défices tarifários.

Ao entrarem no BCP, os chineses beneficiarão das isenções fiscais que fazem com que um dos sectores mais lucrativos do país, com lucros diários superiores a 5 milhões de euros, tenha uma taxa de tributação efectiva inferior a um terço da que é aplicada a uma comum mercearia de bairro.

Que honra para todos nós podermos dar o nosso pequeno contributo para a sustentabilidade daquele regime facínora.
Eles agora que nos façam o favorzinho de comprar um pouco da nossa dívida.
Com o dinheiro que sugarem aqui aos amigos portugueses.
Afinal, somos amigos ou não somos?

F.T.

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O DINHEIRO

O dinheiro é tão bonito,
Tão bonito, o maganão!
Tem tanta graça, o maldito,
Tem tanto chiste, o ladrão!
O falar, fala de um modo...
Todo ele, aquele todo...
E elas acham-no tão guapo!
Velhinha ou moça que veja,
Por mais esquiva que seja,
Tlim!
Papo.

E a cegueira da justiça
Como ele a tira num ai!
Sem lhe tocar com a pinça;
E só dizer-lhe: «Aí vai...»
Operação melindrosa,
Que não é lá qualquer coisa;
Catarata, tome conta!
Pois não faz mais do que isto,
Diz-me um juiz que o tem visto:
Tlim!
Pronta.

Nessas espécies de exames
Que a gente faz em rapaz,
São milagres aos enxames
O que aquele demo faz!
Sem saber nem patavina
De gramática latina,
Quer-se um rapaz dali fora?
Vai ele com tais falinhas,
Tais gaifonas, tais coisinhas...
Tlim!
Ora...

Aquela fisionomia
É lábia que o demo tem!
Mas numa secretaria
Aí é que é vê-lo bem!
Quando ele de grande gala,
Entra o ministro na sala,
Aproveita a ocasião:
«Conhece este amigo antigo?»
— Oh, meu tão antigo amigo!
(Tlim!)
Pois não!


João de Deus
Campo de Flores

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