sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

TINHA DE FACHOS MIL A NOITE ORNADO

Tinha de fachos mil a noite ornado
A argentada Princesa:
De amor, graça e beleza
O campo etéreo Vénus povoado.

A Terra, com perfume precioso
Em torno recendia;
E plácido dormia
Sobre a dourada areia o pego undoso;

Quando veio roubar a formosura
De tudo o que é criado,
Márcia, fiel traslado
Da beleza do Céu, sublime e pura;

Com Lírios, que estendeu, vestiu ufana
A forma divinal;
Em aceso coral
Tingiu, sorrindo, a boca soberana,

As madeixas tomou das veias de ouro,
Nos olhos pôs safiras,
Que das setas, que atiras,
São, fero Amor, o mais caudal tesouro.

Todos seus dons lhe pôs o Céu no peito;
Como orna o Régio Sposo,
C'o enfeite mais custoso,
A Princesa, a quem rende a alma, sujeito.

Eu vi afadigados os Amores,
E as Graças, que cantavam
Enquanto se moldavam
Seus graciosos gestos vencedores.

Das Sereias o canto deleitoso
Lhe nasceu sem estudo;
E o dom de enlevar tudo
Envolto veio em seu sorriso airoso.

Filinto Elísio
Sonetos

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