sexta-feira, 17 de abril de 2009

O NOVO SANTO

Por decisão do Vaticano temos um novo santo português. Devemo-nos alegrar pelo facto, mesmo os que não fazem parte do grémio católico. Até os castelhanos. O estratego e vencedor de Aljubarrota é figura primacial da História de Portugal, estando na origem da mais poderosa casa ducal e quando bem amarrada a independência de Portugal retirou-se da cena política, passando à esfera do espiritual. Ensina-nos a história que na gesta dos povos alguns homens refulgem de tal forma que ofuscam todos quantos foram necessários para grandes e espinhosos cometimentos terem tido êxito. O caso de Nuno Álvares Pereira é paradigmático.
Na adolescência fui obrigado a participar num cansativo acto de veneração às suas relíquias, em cerimónia organizada pela Mocidade Portuguesa (a bufa dizíamos) onde não faltaram discursatas e elogios ao salazarismo. O sacrifício feito levou-me a nutrir pouca estima pelo agora canonizado e mesmo quando cresci mantive a relutância em lhe reconhecer as suas patentes qualidades.
Pouco a pouco procurei perceber o seu talento, até no modo como deu grandeza á sua casa, o mesmo no referente ao seu empenhamento religioso. A decisão do Vaticano não altera em nada aquilo que penso, no entanto, talvez fosse interessante aproveitar-se para possibilitar a todos um melhor conhecimento da História de Portugal, sem cariz apologético, mas de maneira a percebermos os momentos de crise, de revolução, de paz e grandeza.
Muitos actos cometidos por significantes figuras históricas envergonham-nos, muitas dessas figuras são lembradas pelos piores motivos, ao invés também podemos lembrar outras cuja inteligência, probidade e valor podem ser apontadas como exemplo. Na época salazarista a historiografia oficial servia-se de muitas figuras para enaltecer o ditador, após a conquista da liberdade outros historiadores fizeram-se notar por um conjunto de obras onde quase percebemos desdém ou desprezo pela nossa história.
Não acreditando em milagres, talvez a canonização de D. Nuno sirva para novas interpretações da crise ou revolução, virem a lume e apareçam projectos de divulgação histórica entusiasmantes de todos quantos acham ser a disciplina de história uma grande seca. Se tal acontecer tenho de começar a acreditar em milagres, creditando ao novel Santo esse feito, do qual darei conta aos leitores. Posso ser acusado de interesseiro, mas tudo quanto seja a favor da nossa História não é demais, para mal basta assim.


A.F.

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1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Santos, padres , Cónegos e amigalhaços, o que é certo é que a massa voou.....para longe

sexta-feira, 17 abril, 2009  

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