segunda-feira, 13 de abril de 2009

SEM DATA

Esta voz com que gritei às vezes
não me consola de só ter gritado às vezes.

Está dentro de mim como um remorso, ouço-a
chiar sempre que lembro a paz de segurança estulta
sob mais uma pedra tumular sem data verdadeira.

Quando acabava uma soma de silêncios,
gritava o resultado, não gritava um grito.

Esta voz, enquanto um ar de torre à beira-mar
circula entre as folhas paradas,
conduz a agonia física de recordar a ingenuidade.

Apetece-me explicar, agora, as asas dos anjos.


Jorge de Sena
Perseguição

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