quarta-feira, 28 de setembro de 2011

BALADA DOS MORTOS DOS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO

Cadáveres de Nordhausen
Erla, Belsen e Buchenwald!
Ocos, flácidos cadáveres
Como espantalhos, largados
Na sementeira espectral
Dos ermos campos estéreis
De Buchenwald e Dachau.
Cadáveres necrosados
Amontoados no chão
Esquálidos enlaçados
Em beijos estupefactos
Como ascetas siderados
Em presença da visão.
Cadáveres putrefatos
Os magros braços em cruz
Em vossas faces hediondas
Há sorrisos de giocondas
E em vossos corpos, a luz
Que da treva cria a aurora.
Cadáveres fluorescentes
Desenraizados do pó
Que emoção não dá-me o ver-vos
Em vosso êxtase sem nervos
Em vossa prece tão-só
Grandes, góticos cadáveres!
Ah, doces mortos atônitos
Quebrados a torniquete
Vossas louras manicuras
Arrancaram-vos as unhas
No requinte de tortura
Da última toalete...
A vós vos tiraram a casa
A vós vos tiraram o nome
Fostes marcados a brasa
Depois voz mataram de fome!
Vossas peles afrouxadas
Sobre os esqueletos dão-me
A impressão que éreis tambores -
Os instrumentos do Monstro -
Desfibrados a pancada:
Ó mortos de percussão!
Cadáveres de Nordhausen
Erla, Belsen e Buchenwald!
Vós sois o húmus da terra
De onde a árvore do castigo
Dará madeira ao patíbulo
E de onde os frutos da paz
Tombarão no chão da guerra!

Vinicius de Moraes
Antologia Poética II

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2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Este blog anda muito pobre agora... onde estão as bocas da reação ou já se porta tudo bem em portalegre? agora é só virgens heeeeeeee

domingo, 02 outubro, 2011  
Anonymous um Toureiro disse...

É linda esta nossa balada! Também não se pode dizer que o nosso campo de concentração seja dos piores: tem o jardim do tarro, o Tapas, uma escola superior... só lhe falta uma ou duas casas de putas!

Mas é dificil viver num campo de concentração onde a probabilidade de ser trespassado por um objecto perfurante é de quasi 100%. É que com tanto corno que por aí se passeia torna-se dificil escapar ileso.

sábado, 08 outubro, 2011  

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