terça-feira, 29 de março de 2011

SANTA TERESA E AS PROSTITUTAS

Recebi hoje uma carta do José Bento
que dizia sentir-se um rato diante de Santa Teresa
eu gosto tanto dele, posso dizer o mesmo
mas temo seja o que for
de incalculável

Diante de um rato experimento
não exactamente repulsa para a qual sou demasiado fraco
mas uma tristeza submersa
dissimulada na própria forma
lembro-me no meu quarto há muitos anos
a ratoeira armada debaixo da cama
e o deslizante rumor quase inaudível
cortado por um dique mecânico
um cheiro a folhas mortas apoderava-se da superfície
como se alguma coisa mais longínqua
ficasse presa daquele artifício

Tenho também uma história cómica com ratos
que me custou hora e meia da maior vergonha
reuni em minha casa alguns técnicos de saúde
e voluntários dessas causas
para projectar uma ajuda às prostitutas
e um rato circundou, um por um, os sapatos dos presentes
e tentava subir os degraus da escada numa necessidade
que se diria invencível
as pessoas eram educadas e fizeram todas de conta
mas eu estava para ali
afundado num desespero

Quando por vezes vejo tombar
pelos altos degraus a minha vida
procuro pensar nos dois ou três interesses que me restam
entre eles Santa Teresa e o drama das prostitutas


José Tolentino Mendonça
Estrada Branca

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