NOLI ME TANGERE
(Para Luís Adriano Carlos)
Amadeu Baptista
Paixão
Tudo me atinge, sendo alguns dos meus irmãos
os pescadores que conheci em Tiberíades,
e os que cultivavam os campos na Judeia.
E Barrabás, e Judas, e o soldado
romano que me escoltou no horto, e a mulher
que intercedeu por Lázaro, e aquela outra
a quem queriam assassinar com pedras. E as crianças
que Herodes mandou matar, e Herodes, e o guardião do templo
que invectivou o meu nome para que de lá me fosse.
E o grego sábio que anotou por mim a oração
secreta e os secretos desígnios do oráculo,
e o fenício jovem que quis que lhe comprasse
um baiozinho negro.
E os que passaram por mim na estrada larga
e de longe acenaram, e o que acendeu a fogueira certa noite
em que o frio escaldava e um resto de toucinho comigo dividiu
e uma manta. E o que era paralítico e nem assim andou, e o cego
que quis ver e nada viu, e o que pediu
por outrem, sabendo ser ouvido mesmo não pedindo.
E o que fez pão e não o repartiu, e ídolos adorou, o escaravelho
e o bezerro de oiro. E a que não teve senão
o corpo por enxerga, e se vendeu aos homens, concedendo à ternura
algum espaço para que a própria ternura evoluísse. E o que veio do norte
e perscrutou a lua, e o que foi emboscado e viajou no deserto
e sempre viajou, sem que no deserto houvesse água, orvalho, o vento
dos regressos, e o que voltou a cabeça e viu
a babilónia dos seres, o prometido extermínio,
Gomorra e Sodoma destruídas. Tudo o que é humano me atinge,
porque tudo o que é humano é divino.
os pescadores que conheci em Tiberíades,
e os que cultivavam os campos na Judeia.
E Barrabás, e Judas, e o soldado
romano que me escoltou no horto, e a mulher
que intercedeu por Lázaro, e aquela outra
a quem queriam assassinar com pedras. E as crianças
que Herodes mandou matar, e Herodes, e o guardião do templo
que invectivou o meu nome para que de lá me fosse.
E o grego sábio que anotou por mim a oração
secreta e os secretos desígnios do oráculo,
e o fenício jovem que quis que lhe comprasse
um baiozinho negro.
E os que passaram por mim na estrada larga
e de longe acenaram, e o que acendeu a fogueira certa noite
em que o frio escaldava e um resto de toucinho comigo dividiu
e uma manta. E o que era paralítico e nem assim andou, e o cego
que quis ver e nada viu, e o que pediu
por outrem, sabendo ser ouvido mesmo não pedindo.
E o que fez pão e não o repartiu, e ídolos adorou, o escaravelho
e o bezerro de oiro. E a que não teve senão
o corpo por enxerga, e se vendeu aos homens, concedendo à ternura
algum espaço para que a própria ternura evoluísse. E o que veio do norte
e perscrutou a lua, e o que foi emboscado e viajou no deserto
e sempre viajou, sem que no deserto houvesse água, orvalho, o vento
dos regressos, e o que voltou a cabeça e viu
a babilónia dos seres, o prometido extermínio,
Gomorra e Sodoma destruídas. Tudo o que é humano me atinge,
porque tudo o que é humano é divino.
Amadeu Baptista
Paixão
Etiquetas: Amadeu Baptista, Poesia
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial