O HOMEM QUE PERDEU A FALA
Começou a sentir-se aflito e disse a um amigo:
— Não sei falar.
O amigo respondeu-lhe:
— Estás a falar.
— Isso é o que tu julgas!... Se eu quiser dizer hoje, digo amanhã.
— Estás a dizer hoje!
— E se eu não souber?
Engasgou-se e titubeou, encarnado:
— Sábado... Quinta-feira...Cães... Galinhas!
O amigo riu-se.
— Estás a gozar? Diz lá as coisas como devem ser...
— Palácios...
O amigo condescendeu:
— O.K. Palácios!...
E virou-lhe as costas.
A verdade é que ele deixara de saber falar. As palavras saíam-lhe desgarradas. E foi nesse momento que começou o problema porque gostava de falar com as pessoas. Tentava, mas não podia: já não tinha língua. Esforçava-se e não conseguia.
Foi a um médico que lhe disse:
— O senhor perdeu o uso das cordas vocais.
E repôs os aparelhos no sítio.
— E agora? — acenou.
— Posso operá-lo. Mas não garanto.
— O quê? — acenou ele outra vez.
— Que fale. O senhor perdeu a fala.
Levantou-se da cadeira e agarrou num papel, desenhou um caranguejo.
— Talvez — disse o médico —, uma doença grave.
Fugiu: não queria ser operado.
A vida voltou e custou-lhe muito. Ouvia os outros e não respondia. Eles procuravam-no e ele não era capaz. Tocava-lhes, dançava para que gostassem, mas não conseguia falar. E os outros acabavam por se ir embora. Via os corpos, a afastarem-se, queria-os, mas, sem língua, não chegava ao pé deles, não os prendia, não os abria. Corpos esplêndidos; corpos, pensava, que estavam à espera de quem soubesse oferecer-se-lhes, de quem lhes desse o que queriam. Pensava também que os compreendia melhor do que ninguém. Mas, faltava-lhe a voz.
Um dia meteu uma pedra na boca. Chegou à noite desfeito e na mesma.
"A culpa é minha? O que é que aconteceu? Que mal fiz eu a Deus? Isto não tem remédio?" E veio-lhe vontade de chorar.
Gostava das pessoas. Eram bonitas. Ai!, se não lhe tivessem roubado a voz! Porque ele, dantes, falava! Era um homem interessante! Agora, nem pio. Caretas, gestos. Uma dor, do lado esquerdo. E a troça e a indiferença dos outros. Ou as duas.
— Fala! — gritou-lhe um amigo.
— Não sei... — respondeu-lhe, mudo.
E continuou a passar gente.
— Anda! — disse-lhe uma.
E insistiu:
— Anda!
Não foi... Ficou parado no meio da rua.
— Olha o carro!
Já era tarde.
— Não sei falar.
O amigo respondeu-lhe:
— Estás a falar.
— Isso é o que tu julgas!... Se eu quiser dizer hoje, digo amanhã.
— Estás a dizer hoje!
— E se eu não souber?
Engasgou-se e titubeou, encarnado:
— Sábado... Quinta-feira...Cães... Galinhas!
O amigo riu-se.
— Estás a gozar? Diz lá as coisas como devem ser...
— Palácios...
O amigo condescendeu:
— O.K. Palácios!...
E virou-lhe as costas.
A verdade é que ele deixara de saber falar. As palavras saíam-lhe desgarradas. E foi nesse momento que começou o problema porque gostava de falar com as pessoas. Tentava, mas não podia: já não tinha língua. Esforçava-se e não conseguia.
Foi a um médico que lhe disse:
— O senhor perdeu o uso das cordas vocais.
E repôs os aparelhos no sítio.
— E agora? — acenou.
— Posso operá-lo. Mas não garanto.
— O quê? — acenou ele outra vez.
— Que fale. O senhor perdeu a fala.
Levantou-se da cadeira e agarrou num papel, desenhou um caranguejo.
— Talvez — disse o médico —, uma doença grave.
Fugiu: não queria ser operado.
A vida voltou e custou-lhe muito. Ouvia os outros e não respondia. Eles procuravam-no e ele não era capaz. Tocava-lhes, dançava para que gostassem, mas não conseguia falar. E os outros acabavam por se ir embora. Via os corpos, a afastarem-se, queria-os, mas, sem língua, não chegava ao pé deles, não os prendia, não os abria. Corpos esplêndidos; corpos, pensava, que estavam à espera de quem soubesse oferecer-se-lhes, de quem lhes desse o que queriam. Pensava também que os compreendia melhor do que ninguém. Mas, faltava-lhe a voz.
Um dia meteu uma pedra na boca. Chegou à noite desfeito e na mesma.
"A culpa é minha? O que é que aconteceu? Que mal fiz eu a Deus? Isto não tem remédio?" E veio-lhe vontade de chorar.
Gostava das pessoas. Eram bonitas. Ai!, se não lhe tivessem roubado a voz! Porque ele, dantes, falava! Era um homem interessante! Agora, nem pio. Caretas, gestos. Uma dor, do lado esquerdo. E a troça e a indiferença dos outros. Ou as duas.
— Fala! — gritou-lhe um amigo.
— Não sei... — respondeu-lhe, mudo.
E continuou a passar gente.
— Anda! — disse-lhe uma.
E insistiu:
— Anda!
Não foi... Ficou parado no meio da rua.
— Olha o carro!
Já era tarde.
Manuel Poppe Lopes Cardoso
Um Inverno em Marraquexe
Etiquetas: Manuel Poppe, Prosa
17 Comentários:
Porra! Quase faz lembrar a da velha... Aquela em quem o condutor tinha manifesta dificuldade em acertar.
A mim faz-me lembrar a do taxista que conduzia um alentejano num mercedes e disse que ia atropelar um lisboeta fazendo pontaria pela estrela da marca como se fora uma mira de carabina...
continua o regabofe na CMP! Ninguém trabalha!
trabalhas tu ó 4 orelhas!!
Elvas: sem TGV, sem maternidade, agora sem pousada!!, kando o rondão for para évora passa de cidade a vila
O Rondão não vai para Évora! A distrital do PS tem lá outros gabirus já a afiar garras!
Finalmente tenho quem me trate do nabo e dos tomates: Assunção Cristas!
Eu sou Homem tenho namorada... não sinto atração nenhuma por Homem... Mas eu adoro me perfumar... depilar.. me olhar no espelho (ando com espelho)... vestir bem... estar moda... Isso é normal?
Ate ai tudo bem... uma vez fui convidado a desfilar num evento sobre produtos da Zara... E me obrigaram a me maquiar... no principio eu não queira... fiz ate confusão... mas agora eu adoro passar uma sombra nos olhos... sinto que fico mas bonito, atraente, elegante e tudo mas!!!! Isso é normal? A minha namorada acha o mesmo... que fico bonito maquiado! mas o meus amigos acham isso gay... alias muito gay... o que eu faço?
Se maquia meu se maquia muito que você vai ficar uma bichona....ai ai eu ador bichona....
ó anonimo que tens namorada; já sabes como é que «isso» começa. o que não sabes é como tudo isso acaba. aqui na portuga os brazucas nessas condições terminam sempre da mesma maneira: um metro de arame farpado pelos canos do cu acima.
ai pois é ,,,,
Eu confesso que foi uma das cenas mais chocantes que eu já vi pela TV. E sim, eu já vi coisas mais tristes, mais trágicas, mais cruéis.... Mas essa foi chocante porque é de uma imbecilidade tamanha que me enche de vergonha... E diminui minha fé na evolução do ser humano. De que adianta a ciência avançar se preconceitos, conceitos e atitudes humanas não evoluem? De onde saíram aquelas vozes? Das profundezas da ignorância humana ou simplesmente do costume de tentar desestabilizar os outros fazendo piada com a vida pessoal delas?
Gente... Num país onde o salário mínimo não chega a 500 euros, ou seja, não paga as contas básicas, os deputados, que na teoria são empregados e o povo patrão, aumentam o próprio salário para quase 10 mil euros (fora extras) e sem contar que todo dia vemos notícias de gente morrendo porque não consegue atendimento no hospital...O que faz o povo? Se junta para chamar de 'bicha'(Pacos coelho) um rapaz que está lá fazendo o seu trabalho, ganhando honestamente o seu salário?
Que foi? Vocês comeram cocô e resolveram abrir a boca pra falar merda?!?!
Pessoal, estou fora daí da aldeia. Gostaria de saber quem são os maiores BOYS do PSD de Portalegre. É só p´ra saber a quem é que vão distribuir os tachinhos que vêm p'ra aí?
Arronches
Ó Dora uma vez que o teu posto na camara é serviço de blogs escuta bem, vai dizer ao incompetente do Juscelino que em vez de andar a espetar facas nas costas de quem o ajudou que nos pague o ordenado a tempo e horas á dois meses que recebo em atraso, seu Cabrão, ditor quero ir de férias.
Arronches
Ó Dora uma vez que o teu posto na camara é serviço de blogs escuta bem, vai dizer ao incompetente do Juscelino que em vez de andar a espetar facas nas costas de quem o ajudou que nos pague o ordenado a tempo e horas á dois meses que recebo em atraso, seu Cabrão, ditor quero ir de férias.
e o borges? esse fdp? anda a f**** a mulher do careca la da escola
ORA O BORGES PARECE QUE COME DUAS NA OUTRA ESCOLA AS AMIGAS
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