O BISPO
Soturno como um cipreste,
O triste bispo que eu sou
É pintado.
Diante de Compostela,
Meu bispado,
Ali estou na minha tela,
Magro, pálido e parado.
Olhos cavados de fé
Nariz curvo e descaído,
Boca rasgada e torcida,
Até na tinta se vê
Que não anda bem na vida
Quem já no céu está perdido.
A fogueira arde por dentro
Da batina e da romeira...
A fogueira...
O lume que reconcentro
Numas brasas da lareira.
Ninguém se salva comigo,
Porque eu próprio me condeno.
No quadro, o meu inimigo
É um postigo...
Um simples olhar sereno.
Foi o pintor Alvarez
Que me pintou tal e qual:
Inquisitor castelhano
A fazer um entremês
Mais humano
Em Portugal.
O triste bispo que eu sou
É pintado.
Diante de Compostela,
Meu bispado,
Ali estou na minha tela,
Magro, pálido e parado.
Olhos cavados de fé
Nariz curvo e descaído,
Boca rasgada e torcida,
Até na tinta se vê
Que não anda bem na vida
Quem já no céu está perdido.
A fogueira arde por dentro
Da batina e da romeira...
A fogueira...
O lume que reconcentro
Numas brasas da lareira.
Ninguém se salva comigo,
Porque eu próprio me condeno.
No quadro, o meu inimigo
É um postigo...
Um simples olhar sereno.
Foi o pintor Alvarez
Que me pintou tal e qual:
Inquisitor castelhano
A fazer um entremês
Mais humano
Em Portugal.
Miguel Torga
Diário II
Etiquetas: Miguel Torga, Poesia
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