tag:blogger.com,1999:blog-6026695229900821552.post8695711393909339082..comments2023-09-28T05:44:22.654-04:00Comments on EM PORTALEGRE CIDADE DO ALTO ALENTEJO: [JORGE DE SENA] DIRIGE-SE AOS SEUS CONTEMPORÂNEOSEM PORTALEGRE CIDADE DO ALTO ALENTEJOhttp://www.blogger.com/profile/02277087876564811852noreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-6026695229900821552.post-35611207965588716052009-09-20T12:36:10.137-04:002009-09-20T12:36:10.137-04:00De Santa Bárbara chegaram os ossos do poeta
que a...De Santa Bárbara chegaram os ossos do poeta<br /><br />que a pátria exilou. Uns pulhas de um assim chamado Ministério<br /><br />da Cultura, que não dão à poesia a mínima importância,<br /><br />ergueram-se a esse gesto como se não se soubesse<br /><br />quanto os poetas detestam, como tantas e tantas vezes<br /><br />foi provado e a paródia eleiçoeira, desta vez,<br /><br />fez promover, não por amor aos versos, certamente,<br /><br />mas para marcar a determinação da pequenez<br /><br />em que todos morrem de fome da fartura enfatuada<br /><br />desta gente. A ocasião, como é comum dizer-se,<br /><br />faz o ladrão, e a estes não escapam as oportunidades<br /><br />que o brio predador lhes aconselha, sujando tudo em volta,<br /><br />dando a tudo o que é grande a represália de sempre,<br /><br />tal como a todos os poetas já fizeram, tal como fizeram<br /><br />ao Botto e agora ao Sena fazem, que esperou<br /><br />mais de trinta anos para que a terra portuguesa de vez o afeiçoasse,<br /><br />notando-se que como clandestino aqui chegou, agora,<br /><br />não pela obra dele ou os seus actos, mas pela solerte ratice da canalha<br /><br />que nunca subirá a púlpitos para pedir desculpa do mal que nos tem feito<br /><br />e à poesia sempre odiará por lhe saber o fantástico poder que a cilindra.<br /><br />Brancos os ossos chegam às exéquias da trasladação que por demais tardou<br /><br />e não há corais de crianças das escolas a entoar-lhe cânticos,<br /><br />não se promove gente a ler-lhe os livros, não se lhe divulga a obra,<br /><br />nem os telejornais abrem com a notícia da chegada justa,<br /><br />a todos convocando não só a que assistam e aprendam, mas que usem<br /><br />a sua arte de música e de palavras para a ampliar a verdade e a liberdade,<br /><br />o corpo e os sentidos, a dignidade de resistir a tudo,<br /><br />por mais que o vilipêndio se prolongue e se não salde nunca a dívida.<br /><br />Não é para admirar. De humilhações, exílios e imbecilidades sofreu Jorge de Sena<br /><br />durante toda a vida e este misto de preito e de omissão está na linha<br /><br />do que a pandilha execrável é capaz, tratando-se de dar com uma mão<br /><br />para tirar com a outra, como é próprio do descaramento e do oportunismo<br /><br />que, imparável, os há-de condenar ao esquecimento de nunca terem nome,<br /><br />nem espinha dorsal, nem verticalidade, nem ossos que alguma vez possam<br /><br />passar por nossos.<br /><br /> <br /><br />Amadeu BaptistaAnonymousnoreply@blogger.com