terça-feira, 29 de novembro de 2011

VERDES SÃO OS CAMPOS

Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

Luíz de Camões

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sábado, 26 de novembro de 2011

CARREIRISMO

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O ACIDENTE DE ONTEM EM MONFORTE...

Ficámos a saber ontem pela TV – noticiário das 13 horas - que um funcionário do IEFP de Évora teve um acidente na estrada de Monforte do qual resultou 1 morto e 4 feridos graves.
Hoje, o Diário do Sul noticia o acidente mas não referencia quem interveio no acidente.



Pois bem, vou tentar completar a informação.


O acidente foi provocada por um funcionário do IEFP de Évora que desempenha a função de subdelegado e dos ainda nomeados pelo PS – nada tem a ver para o caso o facto de ser do PS.

O importante, é que este colaborador vive em Portalegre e desloca-se diariamente, em carro de serviço, no trajecto Portalegre/Évora/Portalegre.
No espaço de 4 anos já estoirou 3 carros que os nossos impostos pagaram.
Foram acidentes cujos carros foram totalmente abatidos.

Multas por excesso de velocidades são muitas que os nossos impostos têm pago.
Já ficou sem carta e, perante esta situação, um funcionário do IEFP ia a Portalegre, diariamente, buscar o Sr. Subdelegado e voltava a deixá-lo na sua casinha ao fim do dia, regressando a Évora.
Claro que tudo isto se fazia à conta do orçamento de todos nós.

Como é possível que ninguém de bom senso, veja isto e ponha fim a estas “vergonhas” ?
Como é possível que este “Boy” continue a esbanjar dinheiro ao estado, sem nada produzir em troca, e continuar no lugar de Subdelegado?

E, fico-me por aqui!!!

Já agora, só mais uma achega: A delegada e o outro subdelegado do IEFP de Évora, vivem, também, fora de Évora e a muitos Kms e deslocam-se, também, diariamente, em viaturas do Estado.
Será que em Évora não haviam quadros disponíveis para preencher estes lugares?
Quanto custa esta “liderança” da Delegação de Évora do IEFP ao estado ou seja a todos os portugueses ?

Se alguém souber que responda.


(recebido por e-mail)

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ADVERTÊNCIA

Poeta
em verdade em verdade te digo
que, para ser genuíno e ficar vivo,
em glória corporal, não apenas em livro,
é-te necessário morrer primeiro que tudo
na Grande-Guerra-Santa dedicada ao estudo
da grã fonética de mil murmúrios
e do vôo das aves, pródigo em augúrios.

António Barahona
Raspar o fundo da gaveta e enfunar uma gávea

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domingo, 20 de novembro de 2011

FALECEU O RAUL CÓIAS, ATÉ UM DIA GRANDE ...

Um sorriso de Deus

Foram-se as tardes douradas transparentes de azul leve, cheirando a fruta madura. As tardes de sol pálido espreitando por nuvens baixas, com crepúsculos arroxeados e passos de folhas mortas sussurrando pelos recantos entre rabanadas de vento.
Algumas árvores, ali no largo da feira, exibiam já solitárias, toda a nudez descarnada dos seus ramos desvairados.

À saída da cidade, antes da ponte dos mouros, havia uma álea cerrada que alastrava como um incêndio.
O chão do largo da igreja era um tapete castanho. Dos plátanos de copas em chamas, desprendiam-se folhas secas, iam tombando uma a uma, tontas de melancolia, em círculos como gaivotas, deslizando devagar, num torvelinho trémulo, como lágrimas comovidas. O jardim, com a relva dos canteiros salpicada de amarelo, parecia dormitar numa tristeza monótona que só o repuxo quebrava.

E o Outono foi agonizando lentamente. Grave e triste como um requiem. No ar, deixou aquela impressão doce e funda de nostalgia magoada, de último adeus entre ruínas, de adágio quase pungente, de violoncelo de fogo, num suspiro desesperado. Como se a natureza, varada de espanto e solidão, suspensa, nula e atónita, expirasse enfim de vez e o homem não fosse mais do que a sombra de um fantasma à deriva sobre a terra.
Mas por um sorriso divino, cujo esplendor só o hábito nos impede de ver claro, em qualquer canto remoto deste desértico abandono, germinava a seiva da vida, fermentava nos ramos nus, rebentava a terra lavrada e a natureza em silêncio ia retemperando as forças.
E era assim todos os anos, desde o princípio dos tempos, desde que do caos se fez luz, luz viva como um mistério, suave como um milagre, de que o homem é apenas uma minúscula centelha, uma frágil faiúncula, um reflexo fugaz.

Dezembro apareceu chuvoso e baço. O Inverno aproximava-se sobre as cinzas da paisagem agora naufragada em névoa. Os ramos dos choupos, esguios, do outro lado do rio, recortavam-se a traços negros, agrestes, nas colinas esvaídas. Os contornos dos telhados esfumados num céu de chumbo. A água escorrendo pelas fachadas das casas. As últimas folhas avermelhadas colavam-se ao asfalto molhado das ruas. A cidade fustigada por uma morrinha teimosa ininterrupta e miúda cobriu-se de nuvens negras boiando ao sabor do vento que desgrenhava os quintais.
Depois o tempo limpou. Apareceram tímidas as primeiras abertas, derramando uma luz mortiça sobre os laranjais de prata, curvados ao peso dos frutos. E vieram dias de sol. Anoitecia mais cedo. O Natal estava à porta. As árvores do largo da igreja foram enfeitadas com um rosário de lâmpadas ou de estrelas, suavemente suspenso nos seus ramos quase despidos.
As montras iluminadas das casas comerciais atafulharam-se de brinquedos, entre cânticos ternurentos e um repicar longínquo de sinos.

Veio o Natal dos Hospitais, transmitido pela TV. Realizaram-se as festas. Tiveram lugar os convívios. E com uma sensação de paz branda escorrendo mansamente sobre a indiferença metálica dos gestos habituais, sem quase darmos por isso, era a véspera de natal. Na Rua Vaz Monteiro e na Avenida da Liberdade, o trânsito automóvel tornou-se quase febril. Famílias que vinham de longe e atravessavam a cidade a caminho das suas terras de origem. As pessoas corriam de uma montra para a outra, de caixinhas' debaixo dos braços, entrando e saindo das lojas, mexendo e remexendo em tudo o que estava à mão, espreitando os preços, espiolhando prateleiras envidraçadas à procura das últimas compras, assistindo impacientes à confecção dos embrulhos.
Depois o ambiente de euforia quase contagiante foi-se transformado aos poucos numa e espécie de despedida. A multidão ia-se dispersando. «Boas Festas» «Feliz Natal» e cada um esgueirava-se de passo rápido a caminho de casa. Calou-se o ruído do trânsito. E a noite foi descendo como um manto de veludo, sobre a cidade recolhida. Só o latido de um cão rasgando o silêncio lá fora.

À volta da mesa, a família ficou em vigília ardente.
Uma grande paz interior. Na calma profunda da noite, o retinir dos talheres, as conversas quase em surdina. E por um momento breve, a consciência plena de uma simplicidade perdida, revela-nos brandamente todo o sentido das coisas.
Um sopro inefável de Vida cintila na soturnidade outoniça da nossa dimensão humana.

Sinais do quotidiano. O pão, o lume e a dança dos nossos gestos, a ternura e os afectos, o voo casto das palavras, a alegria das crianças, fragmentos cintilantes da realidade envolvente. Tudo ganha transparência. E o segredo da Verdade, parece tão perto e nítido, tão cristalino e claro que chega quase a sentir-se como um perfume de um cântico no silêncio do coração. Como um halo de transcendência ou um sorriso de Deus.

Sabemos então que é Natal.










Raul Cóias Dias

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FALA DO HOMEM NASCIDO

Venho da terra assombrada

do ventre de minha mãe

não pretendo roubar nada

nem fazer mal a ninguém

Só quero o que me é devido

por me trazerem aqui

que eu nem sequer fui ouvido

no acto de que nasci

Trago boca pra comer

e olhos pra desejar

tenho pressa de viver

que a vida é água a correr

Venho do fundo do tempo

não tenho tempo a perder

minha barca aparelhada

solta rumo ao norte

meu desejo é passaporte

para a fronteira fechada

Não há ventos que não prestem

nem marés que não convenham

nem forças que me molestem

correntes que me detenham

Quero eu e a natureza

que a natureza sou eu

e as forças da natureza

nunca ninguém as venceu

Com licença com licença

que a barca se fez ao mar

não há poder que me vença

mesmo morto hei-de passar

com licença com licença

com rumo à estrela polar


António Gedeão

Teatro do Mundo



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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

MENINA DOS OLHOS TRISTES

Menina dos olhos tristes
o que tanto a faz chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Vamos senhor pensativo
olhe o cachimbo a apagar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Senhora de olhos cansados
porque a fatiga o tear
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Anda bem triste um amigo
uma carta o fez chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

A lua que é viajante
é que nos pode informar
o soldadinho já volta
está mesmo quase a chegar

Vem numa caixa de pinho
do outro lado do mar
desta vez o soldadinho
nunca mais se faz ao mar

Reinaldo Edgar de Azevedo e Silva Ferreira
Um voo cego a nada



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domingo, 13 de novembro de 2011

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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

OLHA O FADO



Eu cá sou dos Fonsecas
Eu cá sou dos Madureiras
De ferro o puro sangue
O que me corre nas veias
Nasci da paixão temporal
Do porto dos vendavais
Cresço no fragor da luta
Numa força bruta
P'ra além dos mortais
Mas tenho muitas saudades
Certas penas e desejos
E aquela louca ansiedade
Como um pecado
Meu amor se te não vejo

Olha o fado

Ora é tão vingativo
Ora é tão paciente
Amanhã é comedor
Hoje abstinente
Mentiroso alcoviteiro
Doce e verdadeiro
Uma vez conquistador
Outra vez vencido
Amanhã é navegante
Hoje é desvalido
Sensual aventureiro
Doido e bandoleiro
Somos capitães
Somos Albuquerques
Nós somos leões
Os lobos do mar
De olhos pregados nos céus
De cima dos chapitéus

Somos capitães
Somos Albuquerques
Nós somos leões
Os lobos do mar
E na verdade o que vos dói
É que não queremos ser heróis

Fernão Mendes Pinto
Diário de Viagem

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