A confusão a fraude os erros cometidos A transparência perdida — o grito Que não conseguiu atravessar o opaco O limiar e o linear perdidos
Deverá tudo passar a ser passado Como projecto falhado e abandonado Como papel que se atira ao cesto Como abismo fracasso não esperança Ou poderemos enfrentar e superar Recomeçar a partir da página em branco Como escrita de poema obstinado?
Sophia de Mello Breyner Andresen O Nome das Coisas
O crescimento da mendicidade é diretamente proporcional ao empobrecimento. E como empobrecemos diariamente, o aumento do número de pedintes é inevitável.
Quem passa, por exemplo, nas ruas, não pode deixar de sentir vergonha por ser português. Para além dos sem abrigo, deficientes, vendedores de pensos rápidos e afins, dos pobres que já desistiram até de pedir e se deixam inertes nos passeios, dos artistas de rua, um eufemismo para designar novos pobres que estendem a mão à caridade, existe agora uma nova classe de gente em dificuldades. Pessoas razoavelmente apresentadas, que abordam quem passa pedindo ajuda para comer. São muitos e não se identificam pela aparência, apanhando desprevenido quem passa, estendem um rol de lamúrias que incomoda e desencoraja a caminhada naquela rua. Não se anda 30 ou 40 metros sem que não sejamos abordados por alguém que pede.
O banco alimentar, lançou ontem um novo peditório.
São milhares de pessoas às portas dos supermercados, estendendo um saco a quem passa. Também incomoda. Física e moralmente. Milhares de pessoas esperam que os voluntários daquela organização peçam nas ruas, a sua próxima refeição. Já nem se dão ao trabalho de ajudar no peditório. Usufruem dele. Habituámo-nos a viver assim. Sem expectativas, sem anseios, sem ambição, sem esperança. Habituámo-nos a ser mendigos. Por conta própria ou, alheia. Perdemos a dignidade de viver do produto do nosso trabalho. São muitos milhares de portugueses, pedindo para si ou para os outros, incapazes de um gesto de revolta contra este sistema que acabará por fazer de todos nós, pobres. Como se de uma fatalidade se tratasse, como se houvesse qualquer justiça social na caridade. Se esta gente que se levanta para ir pedir à porta das mercearias, se levantasse para exigir contas a quem fez de nós pobres, teríamos a oportunidade de nos afirmar com a dignidade que deve assistir às pessoas. Viver do nosso trabalho, num país limpo, governado por gente séria.
«A caridade é amor» Proclama dona Abastança Esposa do comendador Senhor da alta finança.
Família necessitada A boa senhora acode Pouco a uns a outros nada «Dar a todos não se pode.»
Já se deixa ver Que não pode ser Quem O que tem Dá a pedir vem.
O bem da bolsa lhes sai E sai caro fazer o bem Ela dá ele subtrai Fazem como lhes convém Ela aos pobres dá uns cobres Ele incansável lá vai Com o que tira a quem não tem Fazendo mais e mais pobres.
Já se deixa ver Que não pode ser Dar Sem ter E ter sem tirar.
Todo o que milhões furtou Sempre ao bem-fazer foi dado Pouco custa a quem roubou Dar pouco a quem foi roubado.
Oh engano sempre novo De tão estranha caridade Feita com dinheiro do povo Ao povo desta cidade.
Há rastos de lume nos olhos de poeira erguida ao redor dos passos de gente que se levanta e não come e não dorme e se consome enquanto os dias à beira da água parados bebem o tranquilo pousar das aves enquanto as almas crescem como trigo dentro de cada gesto e explodem o fogo devora o fogo é isto no fundo dos olhos
Deve ser do calor ou da falta de paciência para tanto imbecil. Estou farto de arrancar ervas. Nascem até no cimento. Amanhã ou depois, estão lá novamente. liga-se a televisão, dá-se uma volta pela net e as novidades são as do costume. E não há pachorra.
Os pantomineiros, falam de merdas que não interessam rigorosamente nada ao estado da nação. Politiquices de comadres, almoços e jantares de campanha, sondagens, bocas, disputando alegre e irresponsavelmente a manutenção da vida fácil à conta dos pobres contribuintes. Esta gente, da extrema esquerda à direita mais rançosa, é toda a mesma desde 1975. Com maiores ou menores responsabilidades, são os autores da tragédia sucedida. Todos eles estão bem na vida. Todos têm haveres, negócios, cargos, mordomias, reformas, avenças e um sem número de fontes de receita, mais ou menos lícitas, que lhes permite viver à grande e à francesa. para pagar a festa, assalta-se os idiotas levados em excursões aos comícios, fode-se-lhes as pensões já miseráveis, acaba-se-lhes com as comparticipações na farmácia e fecham-se-lhes os hospitais. e as bestas, lá continuam a bater palmas. Da maior dívida pública dos últimos 160 anos, da maior dívida externa dos últimos 120 anos, não há cabrão nenhum que diga uma palavra. Devo ter sido eu o responsável!
Numa noite passada, a TVI 24 estava a passar uma peça sobre corrupção neste atoleiro. Uma festa. Património público vendido a preço de saldo a gente com ligações ao governo, revendido imediatamente com muitos milhões de mais valia. O programa terminou abruptamente por quebra de sinal. Uma pequena amostra do inimaginável saque a que esta pocilga tem sido sujeita, por parte desta gente organizada em partidos políticos, já que quadrilhas do tipo da do Zé do Telhado, estão fora de moda.
O povo, esse continua bêbado, estúpido e, infantilizado. Um excelente trabalho desenvolvido por governos e autarquias que entre o facilitismo escolar e a organização de carnavais, fez de gente normal, perfeitos quadrúpedes.
Porquê não se sabe ainda mas ainda aos que amam o poeta porque ele lhes dá o livro do não trabalho e diz cor-de-rosa diante de toda a gente mas lhe lêem o livro só nas férias (entre trabalho e trabalho) e à noite vão a casas dizer cor-de-rosa em segredo a esses e ainda aos que estudaram o problema tão a fundo que saíram pelo outro lado e armaram um quintal novo para as galinhas do poeta porem ovos e disseram ao poeta estas são as nossas galinhas que tu nos deste se elas não põem os ovos que amamos matamos-te e então o poeta vai e mata ele as galinhas as suas belas galinhas de ovos de oiro porque se transformaram em malinhas torpes em tristes bichas operárias que cheiram a coelho
a esses e ainda aos realmente explorados aos realmente montes de trabalho ou nem isso só rios só folhas na árvore cheia do método árvore
Quem muito viu, sofreu, passou trabalhos, mágoas, humilhações, tristes surpresas; e foi traído, e foi roubado, e foi privado em extremo da justiça justa;
e andou terras e gentes, conheceu os mundos e submundos; e viveu dentro de si o amor de ter criado; quem tudo leu e amou, quem tudo foi
não sabe nada, nem triunfar lhe cabe em sorte como a todos os que vivem. Apenas não viver lhe dava tudo.
Inquieto e franco, altivo e carinhoso, será sempre sem pátria. E a própria morte, quando o buscar, há-de encontrá-lo morto.
Procuraram toda a casa, toda a terra, Ninguém a achava. Ela estava no telhado atrás da chaminé, Olhava as estrelas e cantava. Estava tão feliz e sossegada! Olhava as estrelas e cantava.
Meu Deus, está louca! Vamos levá-la.
Estava tão feliz! Olhava as estrelas e cantava...
***
Dai-me, Senhor, um limite para a ambição, Que a desmedida é grande impiedade!
Não se saber aonde se acaba E até onde podemos nós sonhar... Que, mesmo no sonho, Eu quero me encontrar.
Se assim não fora, Não poderia Crer e amar.
***
A minha vida é poética: Paira entre a vaga mentira e a realidade.
O amor me acontece Como as folhas às árvores, E tão singularmente, Que já nem sei se é natural à árvore ter folhas Ou estar nua...
O conselho é tocar, provar, Aspirar todos os cheiros do inundo, Ouvir sempre e ver eternamente, Abrir as cinco portas; por mais só que estejas O que entra chega bem para mil vidas. Depois... é tê-las escancaradas Pois nada foge e, embora Saia e entre a cada instante tudo, É só assim que é possível Ter e não ter pra sempre tudo.
Casar a pobreza e a riqueza Viver e morrer mil vezes por segundo Mudar e ser igual no tempo todo Cada presente ser Passado e futuro.
Recusar é deixar; Conceder tirar; Tirar é pôr num outro lado; Pôr é mover; Mover é fixar num móvel; Fixar seria Mudar o futuro. Esperar é caminhar pra ele.
Em Portalegre, cidade Do Alto Alentejo, cercada De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros Morei numa casa velha, À qual quis como se fora Feita para eu Morar nela...
Cheia dos maus e bons cheiros Das casas que têm história, Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória De antigas gentes e traças, Cheia de sol nas vidraças E de escuro nos recantos, Cheia de medo e sossego, De silêncios e de espantos, - Quis-lhe bem como se fora Tão feita ao gosto de outrora Como as do meu aconchego.
Em Portalegre, cidade Do Alto Alentejo, cercada De montes e de oliveiras Ao vento suão queimada ( Lá vem o vento suão!, Que enche o sono de pavores, Faz febre, esfarela os ossos, E atira aos desesperados A corda com que se enforcam Na trave de algum desvão...) Em Portalegre, dizia, Cidade onde então sofria Coisas que terei pudor De contar seja a quem fôr, Na tal casa tosca e bela À qual quis como se fora Feita para eu morar nela, Tinha, então, Por única diversão, Uma pequena varanda Diante de uma janela
Toda aberta ao sol que abrasa, Ao frio que tosse e gela E ao vento que anda, desanda, E sarabanda, e ciranda Derredor da minha casa, Em Portalegre, cidade Do Alto Alentejo, cercada De serras, ventos, penhascos e sobreiros Era uma bela varanda, Naquela bela janela!
Serras deitadas nas nuvens, Vagas e azuis da distância, Azuis, cinzentas, lilases, Já roxas quando mais perto, Campos verdes e Amarelos, Salpicados de Oliveiras, E que o frio, ao vir, despia, Rasava, unia Num mesmo ar de deserto Ou de longínquas geleiras, Céus que lá em cima, estrelados, Boiando em lua, ou fechados Nos seus turbilhões de trevas, Pareciam engolir-me Quando, fitando-os suspenso Daquele silêncio imenso, Sentia o chão a fugir-me, - Se abriam diante dela Daquela Bela Varanda Daquela Minha Janela, Em Portalegre, cidade Do Alto Alentejo, cercada De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros Na casa em que morei, velha, Cheia dos maus e bons cheiros Das casas que têm história, Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória De antigas gentes e traças, Cheia de sol nas vidraças E de escuro nos recantos, Cheia de medo e sossego, De silêncios e de espantos, À qual quis como se fora Tão feita ao gosto de outrora Como as do meu aconchego...
Ora agora, ?Que havia o vento suão Que enche o sono de pavores, Faz febre, esfarela os ossos, Dói nos peitos sufocados, E atira aos desesperados A corda com que se enforcam Na trave de algum desvão, Que havia o vento suão De se lembrar de fazer?
Em Portalegre, dizia, Cidade onde então sofria Coisas que terei pudor De contar seja a quem for, ?Que havia o vento suão De fazer, Senão trazer Àquela Minha Varanda Daquela Minha Janela, O documento maior De que Deus É protector Dos seus Que mais faz sofrer?
Lá num craveiro, que eu tinha, Onde uma cepa cansada Mal dava cravos sem vida, Poisou qualquer sementinha Que o vento que anda, desanda, E sarabanda, e ciranda, Achara no ar perdida, Errando entre terra e céus..., E, louvado seja Deus!, Eis que uma folha miudinha Rompeu, cresceu, recortada, Furando a cepa cansada Que dava cravos sem vida Naquela Bela Varanda Daquela Minha Janela Da tal casa tosca e bela Á qual quis como se fora Feita para eu morar nela...
?Como é que o vento suão Que enche o sono de pavores, Faz febre, esfarela os ossos, Dói nos peitos sufocados, E atira aos desesperados A corda com que se enforcam Na trave de algum desvão, Me trouxe a mim que, dizia, Em Portalegre sofria Coisas que terei pudor De contar seja a quem for, Me trouxe a mim essa esmola, Esse pedido de paz Dum Deus que fere ... e consola Com o próprio mal que faz?
Coisas que terei pudor De contar seja a quem for Me davam então tal vida Em Portalegre; cidade Do Alto Alentejo, cercada De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros, Me davam então tal vida - Não vivida!, sim morrida No tédio e no desespero, No espanto e na solidão, Que a corda dos derradeiros Desejos dos desgraçados Por noites do tal suão Já varias vezes tentara Meus dedos verdes suados...
Senão quando o amor de Deus Ao vento que anda, desanda, E sarabanda, e ciranda, Confia uma sementinha Perdida entre terra e céus, E o vento a trás à varanda Daquela Minha Janela Da tal casa tôsca e bela À qual quis como se fôra Feita para eu morar nela!
Lá no craveiro que eu tinha, Onde uma cepa cansada Mal dava cravos sem vida, Nasceu essa acàciazinha Que depois foi transplantada E cresceu; dom do meu Deus!, Aos pés lá da estranha casa Do largo do cemitério, Frente aos ciprestes que em frente Mostram os céus, Como dedos apontados De gigantes enterrados... Quem desespera dos homens, Se a alma lhe não secou, A tudo transfere a esperança Que a humanidade frustrou: E é capaz de amar as plantas, De esperar nos animais, De humanizar coisas brutas, E ter criancices tais, Tais e tantas!, Que será bom ter pudor De as contar seja a quem for!
O amor, a amizade, e quantos Mais sonhos de oiro eu sonhara, Bens deste mundo!, que o mundo Me levara, De tal maneira me tinham, Ao fugir-me, Deixando só, nulo, vácuos, A mim que tanto esperava Ser fiel, E forte, E firme, Que não era mais que morte A vida que então vivia, Auto-cadáver...
E era então que sucedia Que em Portalegre, cidade Do Alto Alentejo, cercada De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros Aos pés lá da casa velha Cheia dos maus e bons cheiros Das casa que têm história, Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória De antigas gentes e traças, Cheia de sol nas vidraças E de escuro nos recantos, Cheia de medo e sossego, De silêncios e de espantos, - A minha acácia crescia.
Vento suão!, obrigado... Pela doce companhia Que em teu hálito empestado Sem eu sonhar, me chegara!
E a cada raminho novo Que a tenra acácia deitava, Será loucura!..., mas era Uma alegria Na longa e negra apatia Daquela miséria extrema Em que vivia, E vivera, Como se fizera um poema, Ou se um filho me nascera.
Dúvida? Não. Mas, luz, realidade e sonho que, na luta, amadurece. - O de tornar maior esta cidade. Eis o desejo que traduz a prece.
Só quem não sente o ardor da juventude poderá vê-la, de olhos descuidados. Porto – palavra exacta. Nunca ilude. Renasce, nela, a ala dos namorados!
Deram tudo por nós estes atletas. Seu trajo tem a cor das próprias veias e a brancura das asas dos poetas… Ó fé de que andam nossas almas cheias!
Não há derrotas quando é firme o passo. Ninguém fale em perder! Ninguém recua… E a mocidade invicta em cada abraço a si mais nos estreita. A pátria é sua.
E, de hora a hora, cresce o baluarte! Lembro a torre dos Clérigos, às vezes… Um anjo dá sinal quando ele parte… São sempre heróis! São sempre portugueses!
E, azul e branca, essa bandeira avança… Azul, branca, indomável, imortal. Como não pôr no Porto uma esperança se “daqui houve nome Portugal”?
Nestas “boas práticas”, já se vê, está incluída a liberalização da alteração unilateral dos spreads dos contratos de crédito. A autorização supra tem a mesma proveniência.
"(...) Actualmente, num Centro de Emprego não se encontra emprego.
Encontram-se fiscalizações sucessivas, propostas formativas muitas vezes desajustadas, encontra-se trabalho quase gratuito através dos contratos de emprego-inserção, encontram-se ameaças constantes de cortes nos subsídios. Mas não se encontra emprego. (...)"
O texto integral do manifesto da iniciativa pode ser lido aqui.
“Não aceitamos que [os centros de emprego] sejam locais onde somos ameaçados, vigiados e fiscalizados como se não ter emprego fosse um crime que nos devesse ser imputado”. Higiénica, salutar, cidadã.
A segunda iniciativa dos “É o povo, pá!” teve como objectivo dar a conhecer a quem nunca esteve desempregado como funcionam actualmente os centros de emprego.
Esta seria, já foi, uma missão a desempenhar pelos média.
O termo “ataca”, emoldurado por um par de aspas cobardes, que encontramos no título «Movimento É o povo, pá! “ataca” centros de emprego», acrescenta um inesperado segundo objectivo cumprido a esta que foi uma iniciativa absolutamente pacífica: o de sublinhar as tendências da informação que actualmente se faz em Portugal.
Se é possível conservar a juventude Respirando abraçado a um marco de correio; Se a dentadura postiça se voltou contra a pobre senhora e a mordeu Deixando-a em estado grave; Se ao descer do avião a Duquesa do Quente Pôs marfim a sorrir; Se o Baú-Cheio tem acções nas minas de esterco; Se na América um jovem de cem anos Veio de longe ver o Presidente A cavalo na mãe; Se um bode recebe o próprio peso em aspirina E a oferece aos hospitais do seu país; Se o engenheiro sempre não era engenheiro E a rapariga ficou com uma engenhoca nos braços; Se reentrante, protuberante, perturbante, Lola domina ainda os portugueses; Se o Jorge (o "ponto" do Jorge!) tentou beber naquela noite O presunto de Chaves por uma palhinha E o Eduardo não lhe ficou atrás Ao saír com a lagosta pela trela; Se "ninguém me ama porque tenho mau hálito E reviro os olhos como uma parva"; Se Mimi Travessuras já não vem a Lisboa Cantar com o Alberto...
Ó Portugal, se fosses só três sílabas, linda vista para o mar, Minho verde, Algarve de cal, jerico rapando o espinhaço da terra, surdo e miudinho, moinho a braços com um vento testarudo, mas embolado e, afinal, amigo, se fosses só o sal, o sol, o sul, o ladino pardal, o manso boi coloquial, a rechinante sardinha, a desancada varina, o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos, a muda queixa amendoada duns olhos pestanítidos, se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos, o ferrugento cão asmático das praias, o grilo engaiolado, a grila no lábio, o calendário na parede, o emblema na lapela, ó Portugal, se fosses só três sílabas de plástico, que era mais barato!
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Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos, rendeiras de Viana, toureiros da Golegã, não há "papo-de-anjo" que seja o meu derriço, galo que cante a cores na minha prateleira, alvura arrendada para ó meu devaneio, bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço. Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo, golpe até ao osso, fome sem entretém, perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes, rocim engraxado, feira cabisbaixa, meu remorso, meu remorso de todos nós...
Vinde salvar destes pardais castiços As searas de arroz, por vós ganhadas; Mas ah! Poupai-lhe as filhas delicadas, Que. Elas culpa não têm, têm mil feitiços.
De pavor ante vós no chão se deite Tanto fusco rajá, tanto nababo, E as vossas ordens, trémulo, respeite.
Vão para as várzeas, leve-os o Diabo; Andem como os avós, sem mais enfeite Que o langotim, diámetro do rabo.